Descodificar as tendências em matéria de saúde intestinal nas redes sociais

Há muitas correntes ou publicações “em alta” com pouco ou nenhum fundamento que se espalham através do TikTok, reivindicando que curam o nosso intestino sem fornecerem provas científicas. Neste artigo, Shania Bhopa fala sobre como detetar a desinformação e analisar de forma crítica os conteúdos sobre saúde intestinal presentes nas redes sociais.

Publicado em 23 Abril 2024
Atualizado em 14 Maio 2024

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Publicado em 23 Abril 2024
Atualizado em 14 Maio 2024

A era da desinformação está em constante expansão. Nas informações de saúde partilhadas em plataformas como o TikTok, a avaliação crítica do conteúdo torna-se fundamental, especialmente no que diz respeito à microbiota intestinal. Esta última, composta por biliões de microrganismos, desempenha um papel fundamental na digestão, no metabolismo, na função imunitária e na saúde mental.

A hashtag #guthealth tem mais de:

540 mil vídeos no TikTok

5,5 milhões no Instagram

A desinformação pode ser particularmente prejudicial para os indivíduos com doenças como a Síndrome do Cólon Irritável (SCI) ou a Doença Inflamatória Intestinal (DII), em que a informação exata e baseada em provas é crucial para tratar eficazmente os sintomas. A medicina baseada em provas científicas assegura que as intervenções e os tratamentos se fundamentam em dados científicos sólidos, melhorando os resultados para os doentes e otimizando a qualidade dos cuidados de saúde.

O objetivo é que cada pessoa se sinta confiante nas suas capacidades de discernir informações credíveis de inverdades. Isto não só ajuda a gerir melhor as patologias intestinais, como também evita a potencial exacerbação dos sintomas causada pelo facto de se seguir conselhos errados.

Os temas que se seguem têm sido frequentemente debatidos nas plataformas das redes sociais. Falemos agora das provas científicas.

Beber sumo de aloé vera todos os dias será benéfico para o intestino e para a microbiota intestinal.

A investigação sobre o sumo de aloé vera e os seus efeitos na digestão realça os seus potenciais benefícios. Está provado que o sumo de aloé vera constitui uma fonte útil de vitaminas e aminoácidos quando consumido por via oral. 1 No entanto, embora os efeitos benéficos do aloé vera para a digestão sejam dignos de nota, é essencial reconhecer que se trata apenas de um fragmento da complexa equação que rege a nossa saúde intestinal. O nosso estilo de vida, a nossa alimentação, os níveis de stress e outros fatores ambientais têm impacto na microbiota intestinal, o que sublinha a importância de uma abordagem holística da saúde digestiva.

Actu GP : Microbiote oral et grand âge : un jus de betterave - et des nitrates -, et ça repart ?

Beber sumo de beterraba para “eliminar entre 3 e 4 kg” de resíduos do organismo

Estudos indicam que o sumo de beterraba pode ser benéfico para o sistema digestivo devido ao seu conteúdo rico em moléculas bioativas, antioxidantes e fibras. As betalaínas e os compostos fenólicos presentes no sumo de beterraba podem modular positivamente a microbiota intestinal e promover a saúde gastrointestinal, tornando-o uma escolha saudável para melhorar a função digestiva. 2 

Embora as afirmações sensacionalistas em plataformas como o TikTok, tais como "beber sumo de beterraba para eliminar entre 3 y 4 kg de resíduos", careçam de apoio científico e resvalem para a desinformação, a verdade sobre a beterraba e a digestão assenta na sua composição nutricional. Verificou-se que a presença de betalaínas e compostos fenólicos no sumo de beterraba influencia a microbiota intestinal e reforça positivamente a saúde gastrointestinal, o que sublinha o valor da beterraba na promoção da função digestiva. Portanto, embora as afirmações fantasiosas sobre o sumo de beterraba possam não ter fundamento, os seus benefícios reais para a digestão realçam a importância para a saúde intestinal e o bem-estar geral de se integrar estes alimentos ricos em nutrientes nas nossas dietas.

Photo: Irritable bowel syndrome (IBS) - disease page

Se não faz cocó após cada refeição... sofre de OBSTIPAÇÃO!

De acordo com a American Gastroenterological Association, a obstipação é tipicamente caracterizada por haver menos de três movimentos intestinais numa semana e não pela ausência de movimentos intestinais após cada refeição 3 Contudo, é importante ter em conta que a frequência normal dos movimentos intestinais pode variar muito de pessoa para pessoa, indo de três vezes por semana até várias vezes por dia. A disseminação de informações erradas, como a afirmação de que não fazer cocó depois de cada refeição equivale a obstipação, sublinha a necessidade crucial de informação sobre saúde baseada em provas científicas.

Beber um shot de limão, gengibre e mel com o estômago vazio é bom para a saúde intestinal

Investigações sugerem que o extrato de gengibre pode, de facto, ter efeitos benéficos na saúde intestinal, particularmente na amenização da diarreia associada a antibióticos , no restabelecimento da microbiota intestinal e na melhoria da função de barreira intestinal. No entanto, é fundamental salientar que a maioria destas provas resulta de ensaios em animais, cujos resultados não podem necessariamente ser transpostos para a saúde humana. Além disso, embora o gengibre seja geralmente seguro para consumo, a sua ingestão excessiva pode provocar desconforto gastrointestinal, incluindo azia, diarreia ou dores de estômago.

Não existem provas que indiquem que a frequência e a quantidade de shots de limão, gengibre e mel sejam benéficas para a microbiota intestinal.

Beber sumo verde todas as manhãs é uma poção mágica para a microbiota intestinal

As provas apontam para o facto de que, embora este tipo de sumo possa proporcionar alguns benefícios nutricionais, a sua falta de fibras pode limitar a sua eficácia no apoio à digestão. As fibras são essenciais para aumentar a massa fecal e reduzir os tempos de trânsito intestinal, contribuindo para processos de digestão mais saudáveis. Uma vez que os sumos normalmente não têm fibras, podem não auxiliar eficazmente a digestão em comparação com os frutos ou legumes inteiros que contêm fibras solúveis e insolúveis.

Além disso, embora determinados sumos, como os sumos de citrinos, possam oferecer alguns benefícios para a saúde, também podem irritar diretamente a mucosa esofágica, exacerbando potencialmente os sintomas em pessoas com síndrome do colon irritável (SCI) e, portanto, não ajudando a digestão. 5

Em resumo, embora os sumos possam proporcionar alguns benefícios nutricionais, a sua falta de fibras torna-os menos eficazes na promoção da digestão do que os frutos e legumes inteiros. Destaca-se a importância do consumo de alimentos integrais com fibras naturais que são essenciais para a saúde digestiva e o bem-estar geral.

O que é que se pode fazer para se saber mais sobre saúde baseada em provas e analisar de forma criteriosa as publicações das redes sociais?

Existem várias ferramentas, como o Consensus, o You.com e o ScholarAI, que desempenham um papel fundamental na decifração das informações sobre temas de saúde. Estas ferramentas não só simplificam o processo de acesso e interpretação de provas científicas, como também permitem que as pessoas assumam o controlo da sua saúde, dotando-as dos conhecimentos necessários para fazerem escolhas baseadas em provas.

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