Microbiota intestinal e doenças metabólicas: quais as ligações?
Produzem-se dentro de nós, todos os dias, cascatas de reações químicas que fazem com que o nosso organismo se mantenha vivo: é o metabolismo. Desequilibrado por estilos de vida aos quais já não é capaz de dar resposta (excesso de sal, de açúcar e de gorduras, sedentarismo, etc.), dele resultam patologias como a obesidade, a diabetes e as doenças cardiovasculares, que assolam todo o planeta.1,2 O envolvimento das bactérias da nossa flora intestinal nestas doenças do mundo moderno, de que ninguém ainda suspeitava há apenas dez anos, revela-se contudo, fundamental.
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Sobre este artigo
Se as nossas células necessitam do combustível adequado para assegurarem as suas variadíssimas funções, o mesmo acontece com as nossas bactérias intestinais: os múltiplos e essenciais papéis que elas desempenham na nossa grande sinfonia metabólica só recentemente foram descobertos. Atenção aos efeitos adversos no caso de notas desafinadas...
Os nossos intestinos abrigam um conjunto comum de bactérias pertencentes a dois filos principais que o compõem em 90%: o das Bacteroidetes e o das Firmicutes, com as primeiras a suplantarem as segundas quando se é saudável. Nas pessoas obesas, no entanto, esse saldo desequilibra-se a favor das Firmicutes. É que estas espécies de bactérias, que se alimentam da comida que ingerimos – especialmente dos açúcares lentos – retiram mais calorias da nossa dieta do que as Bacteroidetes, o que resulta no excesso de peso.
Círculo vicioso inflamatório
Paralelamente, há toda uma cascata de “más” reações no organismo que é ativada por uma dieta demasiado rica em gorduras, a qual desequilibra a microbiota intestinal. A função de “barreira” dos intestinos perde eficácia, fazendo com que os mesmos fiquem menos resistentes e deixem passar moléculas oriundas das bactérias, o que provoca uma resposta anormalmente persistente e silenciosa do sistema imunitário. Afetado por esta inflamação crónica, o pâncreas produz menos insulina, que por sua vez é utilizada de forma deficiente pelas nossas células - o que consubstancia a resistência à insulina, característica da diabetes de tipo 2. O armazenamento de gorduras nos tecidos e o seu transporte no sangue sofrem também alterações. Os vasos sanguíneos, para além de se obstruírem com gordura, têm mais dificuldade em se dilatarem. Por fim, gera-se uma bomba cardiovascular, constituída por gordura abdominal, nível elevado de lipídios no sangue, hipertensão arterial e hiperglicemia, que resulta na chamada síndrome metabólica.
DOENÇAS METABÓLICAS EM POUCAS PALAVRAS
- Elas perturbam o metabolismo, ou seja, as reações buiquímicas que permitem que as células se alimentem e produzam energia e que o organismo se libre dos seus detritos
- Podem aparecer ao nascer ou surgir mais tarde na vida devido a determinados fatores como uma má alimentação
- As mais conhecidas sao a obesidade, a diabetes e a hipertensão arterial
Defensoras do nosso metabolismo
Pelo contrário, no caso de uma dieta benéfica para a nossa flora intestinal como a dieta mediterrânica (rica em frutos, legumes e azeite e pobre em carne), desencadeia- se um mecanismo positivo: as nossas bactérias produzem ácidos gordos de cadeia curta (AGCC), fonte de energia para as nossas células – mas também de calorias que podem ser armazenadas caso exista excesso. Os AGCC exercem ação sobre a regulação do apetite e do trânsito e formação das gorduras. Podem também intervir na produção de insulina e na regulação da tensão arterial. Alguns deles, como o butirato, protegem as nossas células intestinais contra a inflamação e ajudam-nos a lutar contra micróbios agressivos. Terão ainda propriedades anticancerosas. Isto além do facto de as bactérias produzirem vitaminas (K, H e B) e nos ajudarem a absorver o cálcio, o magnésio, a vitamina D e o ferro. Alguns investigadores já não hesitam em o afirmar: a microbiota intestinal é um órgão de pleno direito.
70% do total da microbiota Peso médio de 1.5 kg
100 triliões de microrganismos (bactérias, fungos, vírus e parasitas)
500 a 1,000 espécies
250 a 800 vezes mais genes do que o ADN humano