Qual é a diferença entre prebióticos, probióticos e pós-bióticos?

Prebióticos, probióticos, pós-bióticos... Estes termos confusos escondem um universo fantástico relacionado com a nossa saúde. Estes "bióticos" são as pequenas mãos discretas que trabalham nos bastidores para proteger a nossa preciosa microbiota intestinal. Pronto para descobrir as suas funções únicas e diferenças fundamentais? Este artigo desvenda os fios desta teia microscópica para que consiga domar estes insuspeitos aliados do bem-estar. Juntos, vamos explorar este fascinante ecossistema que vive em cada um de nós!

Publicado em 05 Agosto 2024
Atualizado em 10 Setembro 2024

Sobre este artigo

Autor

Publicado em 05 Agosto 2024
Atualizado em 10 Setembro 2024

Introdução

Estamos prestes a mergulhar no fascinante mundo dos "bióticos". Poderá estar a pensar: "Mas o que são «bióticos»?" Bem, tudo remonta à antiga palavra grega "bíos", que significa simplesmente "vida". Esta palavra de raiz dá-nos termos como probióticos, prebióticos, pós-bióticos e simbióticos. Não são apenas nomes científicos extravagantes: são como as diversas partes que compõem um bairro animado, desempenhando cada uma delas um papel único para manter tudo a funcionar corretamente.

Imagine que é o novo morador desse bairro e que um vizinho simpático se oferece para lhe mostrar as redondezas, apresentando-lhe todas as pessoas e locais mais importantes, que fazem com que a comunidade funcione bem. É isso que queremos fazer: levá-lo numa visita guiada ao bairro dos "bióticos" no interior do seu corpo.

Probióticos: os ajudantes do seu corpo

Na nossa cidade da saúde, os probióticos são como os bons amigos que nos visitam: microrganismos vivos que se instalam dentro de nós e contribuem para o nosso bem-estar. Na definição da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Associação Científica Internacional de Probióticos e Prebióticos (ACIPP), os probióticos são "microrganismos vivos que, quando administrados nas quantidades adequadas, conferem um benefício para a saúde do hospedeiro." 1

Em termos mais simples, são micróbios benéficos, como as bactérias e as leveduras, entre outros, que contribuem para o nosso bem-estar geral. Os probióticos contribuem para a nossa saúde de várias formas, nomeadamente:

  • Promovem um microbioma equilibrado 2
  • Inibem o crescimento de patógenos no interior do corpo humano 3
  • Melhoram as funções de proteção e metabolismo dos órgãos visados 4, 5, 6
  • Apoiam a função imunitária 7
  • E modulam a sinalização diversa e as vias metabólicas 8

Um equívoco comum é assumir que todos os alimentos fermentados, como o iogurte, o kefir ou a kombucha são inerentemente probióticos. Embora a fermentação possa introduzir bactérias benéficas, nem todos os produtos fermentados contêm estirpes probióticas vivas que cumprem os critérios estabelecidos pelas autoridades de saúde. 10 No entanto, alguns alimentos são fermentados com recurso a um micróbio que é comprovadamente probiótico, ou suplementados com probióticos em quantidades suficientes para que possam beneficiar a nossa saúde.

É fundamental que leia cuidadosamente os rótulos e que consulte fontes fidedignas para garantir que está a consumir produtos com culturas de probióticos com validação científica e clínica. Além disso, por vezes assume-se que os probióticos são uma solução única para todas as pessoas. Na verdade, as diferentes estirpes podem ter efeitos variáveis em função das pessoas e das condições de saúde. 1, 11 Consultar profissionais de saúde e seguir diretrizes com base científica são passos essenciais para otimizar os benefícios dos probióticos de acordo com as suas necessidades e circunstâncias únicas.

Imagem

Se quiser saber mais sobre probióticos, pode ler a nossa secção dedicada aqui:

Probióticos

Saiba mais
Diet

Prebióticos: alimento para os bons da fita... e não só!

A definição de prebiótico é "um substrato que é utilizado seletivamente pelos microrganismos do hospedeiro, conferindo um benefício para a saúde."  12, 13 Ao contrário dos probióticos, os prebióticos não são micróbios vivos. São antes o combustível para as bactérias benéficas que existem no nosso microbioma. Uma simplificação algo excessiva, mas recorrente, é descrever os prebióticos como "alimento para os probióticos."

Embora os prebióticos promovam o crescimento dos probióticos, os seus efeitos benéficos resultam da atividade da microbiota intestinal residente, que metaboliza estes compostos e confere indiretamente vantagens fisiológicas ao hospedeiro: nós! Além disso, nem todas as fibras alimentares são prebióticos, e nem todos os prebióticos são fibras. 14 Esta distinção é muitas vezes ignorada, originando equívocos sobre as suas definições e funções.

Imagine que os prebióticos são os restaurantes favoritos das suas bactérias úteis. Alimentos como a banana, a cebola e o alho são ricos em substâncias como a inulina e os galacto-oligossacáridos (GOS), que assumem a função de prebióticos. Quando as bactérias benéficas consomem estes alimentos, podem aumentar a produção de moléculas, isto é, metabolitos como os ácidos gordos voláteis (AGV) , acetato, propionato e butirato que, por sua vez, podem melhorar a sua saúde. 15

Além de promoverem a saúde intestinal, os prebióticos foram associados ao reequilíbrio da microbiota para melhorar as defesas contra os patógenos, 16 ao controlo do peso17 à melhor absorção de minerais, 18 etc. Os seus benefícios vão além do intestino. 19

Também elaborámos uma secção dedicada aos prebióticos e aos seus benefícios para a saúde aqui:

Prebióticos: o essencial para os compreender

Saiba mais

Pós-bióticos: prendas dos micróbios

Quando concluem a visita à cidade, os probióticos deixam prendas conhecidas como pós-bióticos. É como se fossem os produtos e serviços que as empresas de uma cidade fornecem depois de receberem as matérias-primas. Os pós-bióticos incluem substâncias benéficas como as vitaminas e os (sidenote: Ácidos Gordos de Cadeia Curta (AGCC) Os Ácidos Gordos de Cadeia Curta são uma fonte de energia (carburante) das células do indivíduo, interagem com o sistema imunitário e estão envolvidos na comunicação entre o intestino e o cérebro. Silva YP, Bernardi A, Frozza RL. The Role of Short-Chain Fatty Acids From Gut Microbiota in Gut-Brain Communication. Front Endocrinol (Lausanne). 2020;11:25. ) . São as recompensas que o seu corpo recebe pelo trabalho árduo feito pelos probióticos.

Esta definição foi revista várias vezes e a Comunidade Científica chegou agora a um consenso: "pós-biótico é uma preparação de microrganismos inanimados e/ou dos seus componentes que confere um benefício para a saúde do hospedeiro". . Isto significa que os pós-bióticos não são apenas os resíduos "reorientados" dos probióticos (ou os seus produtos finais): são também os próprios probióticos "mortos" e os seus componentes fragmentados! 20

Tal como os probióticos, os pós-bióticos demonstraram que conseguem reforçar a função de proteção, reduzir a inflamação e manter uma atividade antimicrobiana contra os patógenos, promovendo assim a saúde geral. 21 As suas propriedades benéficas vão também além do intestino: têm benefícios para a saúde da pele e da vagina e, potencialmente, podem ajudar no tratamento das doenças destes órgãos. 22, 23

Talvez já tenha ouvido outros nomes, como Parabióticos, Paraprobióticos ou Proteobióticos. Com efeito, alguns investigadores tentaram definir melhor os diferentes elementos ou partes do corpo do componente pós-biótico, isto é, as células mortas, os componentes das células e os metabolitos produzidos por essas células microbianas.

  • Embora Parabióticos e Paraprobióticos sejam sinónimos, estes termos servem para descrever as células microbianas inativadas, tanto intactas como quebradas. Deve pensar nelas como os "fantasmas" dos micróbios úteis que ainda conseguem dar uma ajuda. 24
  • Por sua vez, os Proteobióticos são metabolitos naturais produzidos pelo probiótico durante a fermentação. 25, 26

No entanto, não há um consenso sobre estas possíveis definições, e todas elas se enquadram na definição de Pós-biótico da ACIPP. 20

The psychobiotic diet: modulating gut microbiota to reduce stress

Simbióticos em ação e o caso dos Psicobióticos

Os simbióticos são como os projetos comunitários que reúnem toda a gente em torno de um objetivo comum. 27 Combinam probióticos e prebióticos num único produto,  garantindo que as bactérias boas têm não só um lugar onde viver, com também muito do seu alimento favorito desde o início. Esta combinação pode ser encontrada nalguns iogurtes e suplementos alimentares, e foi concebida para um trabalho conjunto de modo a assegurar um benefício ainda maior para a saúde.

Por sua vez, os Psicobióticos são uma categoria inteiramente nova de probióticos e prebióticos que podem melhorar efetivamente a sua saúde mental se forem consumidos da forma certa 28 Funcionam através do chamado eixo intestino-cérebro. Basicamente, o intestino e o cérebro estão fisicamente ligados e em constante comunicação. Os micróbios que vivem nos seus intestinos podem enviar sinais para o seu cérebro que afetam o seu humor, a sua cognição e até os seus comportamentos.

 Os investigadores revelam um grande entusiasmo em relação ao potencial dos psicobióticos. Os estudos preliminares demonstram que os psicobióticos podem ajudar a prevenir ou melhorar doenças neurodegenerativas como a Doença de Alzheimer ou a Doença de Parkinson. Algumas provas sugerem mesmo que os psicobióticos podem desempenhar um papel terapêutico no tratamento de distúrbios psiquiátricos como a depressão ou a ansiedade. 29

Pode saber mais sobre a interação entre o intestino e o cérebro aqui.

Eixo intestino-cérebro: Qual é o papel da microbiota?

Descubra mais!

E os antibióticos?

Finalmente, é importante diferenciar os antibióticos dos restantes "bióticos". Embora os antibióticos sejam medicamentos fundamentais para salvar vidas no tratamento de infeções bacterianas, a sua utilização indiscriminada ou excessiva pode perturbar gravemente o delicado equilíbrio do microbioma, podendo originar consequências não intencionais e de grande impacto. 30, 31 Estes medicamentos potentes não distinguem entre bactérias nocivas e benéficas, o que significa que podem dizimar as populações vitais de micróbios que promovem a saúde e a imunidade.

Resistência a antibióticos

Além disso, a utilização excessiva de antibióticos contribui para o aumento alarmante de superbactérias resistentes aos antibióticos, uma ameaça significativa para a saúde mundial (30). Por conseguinte, é imperativo utilizar os antibióticos de forma criteriosa, apenas quando absolutamente necessário e sempre sob orientação de profissionais de saúde.

Manter um microbioma saudável e diversificado com recurso a probióticos, prebióticos e outros "bióticos" pode ajudar a contrariar alguns dos danos colaterais causados pelos antibióticos e promover o bem-estar geral.

Pode consultar aqui uma secção dedicada aos efeitos dos antibióticos na microbiota e na sua saúde:

Antibióticos: que impacto na microbiota e na saúde?

Saiba mais
O que é a Semana Mundial de Conscientização sobre a RAM?

Todos os anos, desde 2015, a OMS organiza a Semana Mundial de Conscientização sobre a RAM (WAAW), que tem como objetivo aumentar a sensibilização para a resistência antimicrobiana mundial. 

A resistência antimicrobiana ocorre quando as bactérias, vírus, parasitas e fungos alteram-se com o tempo e já não respondem aos medicamentos. Como resultado da resistência aos medicamentos, os antibióticos e outros medicamentos antimicrobianos tornam-se ineficazes e as infeções tornam-se cada vez mais difíceis ou impossíveis de tratar, aumentando o risco de propagação de doenças, doenças graves e morte.

Realizada entre 18 e 24 de novembro, esta campanha incentiva o público em geral, os profissionais de saúde e os decisores a utilizar cuidadosamente antibióticos, antivirais, antifúngicos e antiparasíticos, de forma a evitar o surgimento futuro de resistência antimicrobiana.

Fontes

1. Hill, C., Guarner, F., Reid, G. et al. The International Scientific Association for Probiotics and Prebiotics consensus statement on the scope and appropriate use of the term probiotic. Nat Rev Gastroenterol Hepatol 11, 506–514 (2014). 

2. Hori, T.; Matsuda, K.; Oishi, K. Probiotics: A Dietary Factor to Modulate the Gut Microbiome, Host Immune System, and Gut–Brain Interaction. Microorganisms 2020, 8, 1401.

3. Maftei N-M, Raileanu CR, Balta AA, et al. The Potential Impact of Probiotics on Human Health: An Update on Their Health-Promoting Properties. Microorganisms. 2024; 12(2):234.

4. Latif A, Shehzad A, Niazi S, et al. Probiotics: mechanism of action, health benefits and their application in food industries. Front Microbiol. 2023;14:1216674.

5. Bermudez-Brito M, Plaza-Díaz J, Muñoz-Quezada S, et al. Probiotic mechanisms of action. Ann Nutr Metab. 2012;61(2):160-174.

6. Maftei N-M, Raileanu CR, Balta AA, et al. The Potential Impact of Probiotics on Human Health: An Update on Their Health-Promoting Properties. Microorganisms. 2024; 12(2):234.

7. Liu Y, Wang J, Wu C. Modulation of Gut Microbiota and Immune System by Probiotics, Pre-biotics, and Post-biotics. Front Nutr. 2022;8:634897.

8. Plaza-Diaz J, Ruiz-Ojeda FJ, Gil-Campos M, Gil A. Mechanisms of Action of Probiotics. Adv Nutr. 2019;10(suppl_1):S49-S66.

9. Marco ML, Sanders ME, Gänzle M, et al. The International Scientific Association for Probiotics and Prebiotics (ISAPP) consensus statement on fermented foods. Nat Rev Gastroenterol Hepatol. 2021;18(3):196-208

10. https://isappscience.org/do-fermented-foods-contain-probiotics/

11. McFarland LV, Evans CT, Goldstein EJC. “Strain-Specificity and Disease-Specificity of Probiotic Efficacy: A Systematic Review and Meta-Analysis”. Front Med (Lausanne). 2018;5:124.

12. Gibson GR, Hutkins R, Sanders ME, et al. Expert consensus document: The International Scientific Association for Probiotics and Prebiotics (ISAPP) consensus statement on the definition and scope of prebiotics. Nat Rev Gastroenterol Hepatol. 2017;14(8):491-502.

13. Bedu-Ferrari C, Biscarrat P, Langella P, Cherbuy C. Prebiotics and the Human Gut Microbiota: From Breakdown Mechanisms to the Impact on Metabolic Health. Nutrients. 2022;14(10):2096.  

14. https://isappscience.org/wp-content/uploads/2019/04/Prebiotics_Infographic_rev1029.pdf

15. Nissen L, Valerii MC, Spisni E, Casciano F, Gianotti A. Multiunit In Vitro Colon Model for the Evaluation of Prebiotic Potential of a Fiber Plus D-Limonene Food Supplement. Foods. 2021;10(10):2371.

16. Jenkins G, Mason P (2022) The Role of Prebiotics and Probiotics in Human Health: A Systematic Review with a Focus on Gut and Immune Health. Food Nutr J 7: 245.

17. Bertuccioli A, Cardinali M, Biagi M, et al. Nutraceuticals and Herbal Food Supplements for Weight Loss: Is There a Prebiotic Role in the Mechanism of Action?. Microorganisms. 2021;9(12):2427.  

18. Bryk G, Coronel MZ, Pellegrini G, et al. Effect of a combination GOS/FOS® prebiotic mixture and interaction with calcium intake on mineral absorption and bone parameters in growing rats. Eur J Nutr. 2015;54(6):913-923.  

19. Markowiak P, Śliżewska K. Effects of Probiotics, Prebiotics, and Synbiotics on Human Health. Nutrients. 2017;9(9):1021. 

20. Salminen S, Collado MC, Endo A, et al. The International Scientific Association of Probiotics and Prebiotics (ISAPP) consensus statement on the definition and scope of postbiotics Nat Rev Gastroenterol Hepatol. 2021;18(9):649-667. 

21. Scott E, De Paepe K, Van de Wiele T. Postbiotics and Their Health Modulatory Biomolecules. Biomolecules. 2022;12(11):1640.  

22. Heo YM, Lee DG, Mun S, et al. Skin benefits of postbiotics derived from Micrococcus luteus derived from human skin: an untapped potential for dermatological health. Genes Genomics. 2024;46(1):13-25.  

23. Shen X, Xu L, Zhang Z, et al. Postbiotic gel relieves clinical symptoms of bacterial vaginitis by regulating the vaginal microbiota. Front Cell Infect Microbiol. 2023;13:1114364. 

24. Hosseini SH, Farhangfar A, Moradi M, et al. Beyond probiotics: Exploring the potential of postbiotics and parabiotics in veterinary medicine. Res Vet Sci. 2024;167:105133.

25. Nataraj BH, Ali SA, Behare PV, et al. Postbiotics-parabiotics: the new horizons in microbial biotherapy and functional foods. Microb Cell Fact. 2020;19(1):168.  

26. Cuevas-González PF, Liceaga AM, Aguilar-Toalá JE. Postbiotics and paraprobiotics: From concepts to applications. Food Res Int. 2020;136:109502.

27. Swanson, K.S., Gibson, G.R., Hutkins, R. et al. The International Scientific Association for Probiotics and Prebiotics (ISAPP) consensus statement on the definition and scope of synbiotics. Nat Rev Gastroenterol Hepatol 17, 687–701 (2020). 

28. Dinan TG, Stanton C, Cryan JF. Psychobiotics: a novel class of psychotropic. Biol Psychiatry. 2013;74(10):720-726.

29. Long-Smith C, O'Riordan KJ, Clarke G, et al. Microbiota-Gut-Brain Axis: New Therapeutic Opportunities. Annu Rev Pharmacol Toxicol. 2020;60:477-502. 

30. WHO Antimicrobial Resistance; Oct 2020; https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/antimicrobial-resistance 

31. Ramirez J, Guarner F, Bustos Fernandez L, et al. Antibiotics as Major Disruptors of Gut Microbiota. Front Cell Infect Microbiol. 2020 Nov 2