Insónia, microbiota e inflamação: ligações comprovadas?

Um estudo vem lançar luz sobre as relações entre a microbiota intestinal, a inflamação e a insónia, distúrbio do sono muito vulgar e que afeta entre 10 a 50% dos adultos em todo o mundo. Explicações.

Publicado em 23 Fevereiro 2021
Atualizado em 10 Junho 2024
Actu GP : Insomnie, microbiote et inflammation : des liens avérés ?

Sobre este artigo

Publicado em 23 Fevereiro 2021
Atualizado em 10 Junho 2024

Insónia: patologia que dificulta o início do sono, a sua manutenção e a sua qualidade. De um modo geral relacionada com predisposições de ordem genética, hormonal, imunológica ou ainda psicossocial, pode ter graves consequências ao longo do dia.

A microbiota intestinal no banco dos réus

A microbiota intestinal poderá ser incriminada devido ao eixo intestino-cérebro, que permite que as bactérias do trato digestivo e do cérebro comuniquem entre si. Diversos estudos em animais demonstraram que as perturbações do sono estão frequentemente associadas a mudanças na composição e nas funções da microbiota (que são designadas disbiose). Inversamente, o reequilíbrio da flora intestinal a partir de uma situação disbiótica melhora a qualidade do sono. Estas interações far-se-ão com recurso a citocinas – moléculas inflamatórias produzidas pelo sistema imunológico como resposta a determinadas bactérias intestinais – e serão a explicação para a inflamação que se observa nas pessoas que padecem de insónias.

"Assinaturas" bacterianas das insónias

No sentido de confirmarem, no ser humano, estes dados que são frequentemente obtidos em trabalhos realizados com animais, os investigadores analisaram e compararam a microbiota intestinal e a produção de citocinas em 96 adultos – 20 padecendo de insónia aguda, 38 com insónia crónica e outros 38 sem problemas no sono, que serviam de grupo de controlo. Primeira observação, os pacientes com insónias apresentavam níveis mais elevados de citocinas inflamatórias que os participantes que dormiam bem, níveis esses que pareciam aumentar em função da gravidade da insónia. A respetiva microbiota, por sua vez, também se apresentava alterada, revelando carência em determinadas bactérias conhecidas por produzirem ácidos gordos de cadeia curta, moléculas com propriedades anti-inflamatórias e benéficas para a saúde. Os investigadores identificaram também "assinaturas" bacterianas correspondentes à qualidade do sono e à gravidade das insónias. Tais assinaturas permitiram diferenciar os participantes com insónia aguda e com insónia crónica dos indivíduos sem perturbações do sono.

Vencer as insónias graças à microbiota?

Este estudo confirma a existência de uma modificação da microbiota intestinal nos casos de insónia, cuja gravidade estará relacionada com a presença ou ausência de determinados grupos bacterianos. A inflamação daí resultante será consequência do perdurar da disbiose. A microbiota poderá, assim, ser utilizada para o desenvolvimento de meios terapêuticos e de diagnóstico que visem este distúrbio do sono.

Old sources

Fontes:

Yuanyuan Li, Bin Zhang, Ya Zhou et al. Gut microbiota changes and their relationship with inflammation in patients with acute and chronic insomnia. Nature and Science of Sleep. 2020; 12:895-905.

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