Apneia do sono: as bactérias da microbiota intestinal postas em causa
Suspeitava-se que a microbiota intestinal estava envolvida na apneia do sono. Um estudo de randomização mendeliana avança com a papel potencialmente causal e aponta o dedo às bactérias suspeitas de aumentar as pausas respiratórias e outras com a capacidade de nos proteger.
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Sobre este artigo
Por trás do termo apneia do sono esconde-se uma patologia caracterizada por pausas respiratórias anormalmente frequentes durante o sono. Mesmo sendo esta doença frequente em crianças e adultos, não deixa de ter riscos, a curto (fadiga) e a longo prazo (distúrbios cognitivos, doenças cardiovasculares...).
São várias as causas: hipertrofia das amígdalas nas crianças, obesidade no adulto… A microbiota intestinal é igualmente invocada, mas a sua função causal ainda continua por comprovar. Não obstante, um estudo publicado em 2023 dá mais um passo na demonstração desta função causal. Como? Através de uma técnica denominada randomização mendeliana, que permite excluir vários fatores de confusão e preconceito.
A microbiota intestinal
Bactérias prejudiciais, outras benéficas
O estudo acompanhou os suspeitos (as bactérias que aumentam o risco de apneia) mas também os super-heróis que nos protegem destas pausas respiratórias noturnas: por exemplo, a família bacteriana Ruminococcaceae promove noites sem problemas de ventilação.
1 bilhão de pessoas no mundo serão afetadas pela apneia obstrutiva do sono
Como explicar tal poder sobre a nossa saúde? Sem dúvida pela capacidade destas bactérias de produzir moléculas benéficas, denominadas (sidenote: Ácidos Gordos de Cadeia Curta (AGCC) Os Ácidos Gordos de Cadeia Curta são uma fonte de energia (carburante) das células do indivíduo, interagem com o sistema imunitário e estão envolvidos na comunicação entre o intestino e o cérebro. Silva YP, Bernardi A, Frozza RL. The Role of Short-Chain Fatty Acids From Gut Microbiota in Gut-Brain Communication. Front Endocrinol (Lausanne). 2020;11:25. ) , benéficas para a nossa saúde porque reduzem a inflamação, reforçam a nossa barreira intestinal e limitam a proliferação de bactérias patogénicas, mas também porque estas bactérias estão envolvidas no metabolismo dos ácidos biliares, conhecidos pela sua função no sono e na regulação dos seus ciclos.
A apneia do sono, um distúrbio masculino?
A apneia obstrutiva do sono (AOS) e a síndrome da apneia/hipopneia obstrutiva do sono (SAHOS) foram durante muito tempo consideradas como sendo doenças essencialmente masculinas. A apneia obstrutiva do sono é, com efeito, até 4 vezes mais frequente no homem e 7 vezes mais frequente em pessoas obesas (cujo índice de massa corporal [IMC] é ≥ 30). 2
As moléculas fabricadas pelas bactérias postas em causa
O estudo acompanhou igualmente várias outras moléculas fabricadas pelas bactérias do nosso tubo digestivo para identificar as que desempenham um papel nas pausas respiratórias noturnas. Bingo: algumas, como a leucina (ou outras decorrentes do sono no exterior, como a Epiandrosterona sulfato) aumentam efetivamente o risco da apneia do sono. No entanto, estas moléculas revelam-se, muitas vezes, desfavoravelmente conhecidas: por exemplo, índices elevados de leucina foram observados em crianças com apneia do sono. Por outro lado, em pacientes a quem foi prescrita uma máscara para reduzir a apneia, os índices de leucina reduziram significativamente.
Desta forma, as perturbações da nossa microbiota intestinal e as alterações dos metabolitos produzidos pelas bactérias do nosso tubo digestivo parecem ter, conforme o seu perfil, consequências benéficas ou prejudiciais na apneia do sono. A investigação continua para que um dia possamos adormecer profundamente e dormir como uma pedra.