O efeito surpreendente do café na microbiota
Será que existe um único alimento que possa causar uma mudança radical na composição da microbiota? Sim, o café! De acordo com um novo estudo, este estimulará fortemente a proliferação de uma bactéria intestinal até agora pouco conhecida. 1
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Sobre este artigo
Conhecem-se os benefícios do café para a saúde. Mas qual é exatamente o seu efeito na microbiota?
Para responderem a esta pergunta, uma equipa de investigadores das Universidades de Harvard (EUA) e de Trento (Itália) analisou a microbiota intestinal e o consumo de café de mais de 22.000 voluntários participantes num programa de investigação anglo-americano.
Os participantes foram classificados em três grupos:
- “Não consumidores”, que ingeriam menos de 3 chávenas de café por mês;
- “Consumidores moderados”, que ingeriam entre 3 chávenas por mês e 3 chávenas por dia.
- “Grandes consumidores”, que ingeriam mais de 3 chávenas por dia;
Os abstémios e os dependentes não apresentam os mesmos efeitos
Resultado: a microbiota dos consumidores de café é claramente diferente da dos não consumidores. A análise mostra que há 115 espécies bacterianas que reagem positivamente à bebida.
Quantos cafés por dia? ²
- 1 chávena de café de filtro (200 ml) = 90 mg de cafeína
- 1 café expresso (60 ml) = 80 mg de cafeína
- 1 chávena de chá preto (220 ml) = 50 mg de cafeína
O consumo excessivo de cafeína (presente no café e no chá) encontra-se associado a problemas cardiovasculares, perturbações do sono e atrasos no desenvolvimento fetal. Quais são as doses seguras?
- Até 200 mg de cafeína por dia, o café é seguro para qualquer adulto saudável (até 400 mg se consumido ao longo do dia, exceto para as mulheres grávidas).
- A partir de 100 mg de cafeína por dia, pode haver impacto no sono.
Facto surpreendente: a Lawsonibacter asaccharolyticus, uma estirpe bacteriana da microbiota até agora pouco estudada, surge como o microrganismo mais fortemente associado ao consumo de café. De acordo com os cálculos dos cientistas, o seu nível é 4,5 a 8 vezes mais elevado na microbiota dos “grandes consumidores” do que de na dos “não consumidores” e 3,4 a 6,4 vezes maior nos “consumidores moderados” do que nos “não consumidores”.
Ao analisarem um outro conjunto de dados relativos a vários milhares de pessoas residentes em 25 países diferentes, os investigadores confirmaram que a presença de L. asaccharolyticus está efetivamente associada ao consumo de café e, por conseguinte, que esta ligação existe, independentemente do país ou do estilo de vida.
Serão as virtudes do café mediadas pela microbiota?
Se há um alimento cujos efeitos benéficos já foram demonstrados, esse alimento é o café. Os estudos indicam que o seu consumo regular está associado a um menor risco de:
- diabetes,
- cancro,
- esteatose hepática,
- doenças cardiovasculares,
- mortalidade por todas as causas.
Qual o seu segredo? O seu teor de polifenóis, nomeadamente de ácido clorogénico, um antioxidante presente em grandes quantidades na bebida. Esta molécula pode ser degradada e transformada pelas bactérias intestinais em numerosos metabolitos potencialmente benéficos. A microbiota poderá assim funcionar como mediadora dos efeitos benéficos do café para a saúde.
Num estudo anterior realizado com 1.000 participantes, os mesmos cientistas já tinham demonstrado que, de entre 150 alimentos, o café era de longe o que tinha maior impacto na composição da microbiota intestinal.
A responsabilidade não é da cafeína
Para verificarem se o aumento excecional de L. asaccharolyticus está diretamente ligado ao café, os cientistas cultivaram as bactérias in vitro, em meios de cultura com ou sem inclusão de café. Os resultados obtidos confirmam que a bactéria se desenvolve mais rapidamente em presença do café... mesmo quando este é descafeinado, o que exclui a cafeína da equação.
Com efeito, é possível que o ácido clorogénico, um polifenol do café que se pensa contribuir para os seus efeitos benéficos, esteja associado à estimulação da L. asaccharolyticus. Este é metabolizado pelas bactérias da microbiota em diferentes moléculas, em particular em ácido quínico. De facto, os investigadores encontraram mais ácido quínico no sangue das pessoas com concentrações mais elevadas de L. asaccharolyticus.
A próxima etapa para os investigadores consistirá em determinar se outros alimentos, para além do café, estimulam especificamente as bactérias benéficas conhecidas. Através de testes para revelar a presença ou ausência de certas bactérias associadas a determinado alimento, poderá ser possível projetar dietas personalizadas. 3