Quanto mais envelhecermos, mais a nossa microbiota intestinal se tornará única. E é essa especificidade que pressagiará tanto um envelhecimento saudável, como uma maior esperança de vida nos idosos. Outros tantos argumentos para mimarmos a nossa microbiota!
Na Antiguidade, o (sidenote:
Arúspice
Sacerdote e adivinho encarregue de prever o futuro e de interpretar a vontade dos deuses através do exame das entranhas de certos animais.
) lia o futuro nas entranhas de um animal sacrificado. Será que, num futuro próximo, iremos ser capazes de prever a nossa longevidade analisando as nossas? Em todo o caso, isso é o que sugere uma recente publicação que incidiu sobre os microrganismos vivos dos intestinos de mais de 9.000 indivíduos com idades entre os 18 e os 101 anos.
Uma microbiota intestinal cada vez mais específica
Primeira ilação deste estudo: a microbiota intestinal de cada ser humano parece diferenciar-se cada vez mais a partir dos quarenta anos. E essa singularidade está associada a marcadores microbianos reconhecidos benéficos em termos de imunidade, inflamação, envelhecimento e longevidade. Nota-se também uma esperança de vida de menos 4 anos entre as pessoas com 80 anos ou mais que mantêm forte abundância de bactérias do género Bacteroides e/ou possuem uma comunidade microbiana intestinal heterogénea. Estes resultados são tanto mais seguros quanto se observam em 3 grupos de estudo demograficamente distintos.
Compostos que aumentam a esperança de vida?
Segunda ilação do estudo: a assinatura intestinal das pessoas que envelhecem saudáveis está associada a metabolitos sanguíneos produzidos pelas bactérias da microbiota intestinal. Por exemplo, foram identificados produtos da degradação de aminoácidos específicos, triptofano e fenilalanina. Curiosamente, alguns dos metabolitos já haviam sido observados no sangue de centenários em comparação com o de indivíduos jovens saudáveis. E quanto a outros, como o indol, também já tinha sido demonstrada a sua ação no aumento da esperança de vida em múltiplos modelos animais. Assim, o envelhecimento caraterizar-se-á por uma alteração da atividade da flora intestinal, que passará apenas a produzir moléculas específicas. Nunca será demais repetirmos: cuidar adequadamente da microbiota intestinal em cada fase da vida, aumentará a longevidade do seu hospedeiro e contribuirá para que se viva mais tempo e com mais saúde. Para bom entendedor...
Old sources
Fontes :
Wilmanski T, Diener C, Rappaport N, et al. Gut microbiome pattern reflects healthy ageing and predicts survival in humans. Nat Metab. 2021 Feb;3(2):274-286.