A doença de Parkinson pode não ser resultado apenas da perda de neurónios, mas também consequência de um desequilíbrio da microbiota intestinal, considerada o nosso “segundo cérebro”. Uma equipa de investigadores italiana tentou identificar as bactérias que podem estar envolvidas.
A doença de Parkinson afeta mais de 1% das pessoas com mais de 60 anos. É a segunda doença neurodegenerativa mais frequente no mundo. Estudos anteriores estabeleceram uma ligação entre a (sidenote:
Disbiose
A "disbiose" não é um fenómeno homogéneo – varia em função do estado de saúde de cada indivíduo. É geralmente definida como uma alteração da composição e do funcionamento da microbiota, causada por um conjunto de fatores ambientais e relacionados com o indivíduo que perturbam o ecossistema microbiano.
Levy M, Kolodziejczyk AA, Thaiss CA, et al. Dysbiosis and the immune system. Nat Rev Immunol. 2017;17(4):219-232.) (desequilíbrio) da microbiota intestinal e o desenvolvimento desta doença através do eixo intestino-cérebro. Contudo, nenhuma conclusão definitiva foi alcançada em relação a uma composição bacteriana específica associada à doença.
Estudos recentes avaliaram a composição da microbiota intestinal em 80 doentes com vários graus de Parkinson, tendo esta depois sido comparada com a de 72 pessoas saudáveis. Percebeu-se que a microbiota intestinal dos doentes apresentou uma maior abundância de espécies bacterianas pertencentes às famílias Lactobacillaceae, Enterobacteriaceae e Enterococcaceae e menor abundância de Lachnospiraceae. Além disso, quanto mais grave for a doença, mais aparente é essa diferença em relação à Enterobacteriaceae e Lachnospiraceae e mais significativos são também os distúrbios motores. É por isso que os investigadores acreditam que essas duas famílias bacterianas estão relacionadas com a progressão da doença.
Inflamação neurotóxica
Nos doentes estudados verificou-se que a composição da microbiota intestinal foi afetada por vários parâmetros associados à doença (duração, estadio de desenvolvimento, uso de medicamentos anti-Parkinson), embora estes não tenham atuado numa família bacteriana específica. Os doentes também apresentaram uma interrupção da atividade dos neurotransmissores, como por exemplo das moléculas envolvidas na regulação do humor (serotonina, dopamina e norepinefrina); e também produziram mais lipopolissacarídeos, substâncias que promovem a inflamação que pode danificar os neurónios quando estes atravessam a barreira intestinal e a barreira hematoencefálica (que protege o cérebro do sangue ao redor). Embora esta descoberta científica seja inegável, os autores consideram ser necessária mais estudos, nomeadamente para perceber melhor a ligação entre a disbiose e a inflamação intestinal ou o papel dos neurotransmissores na comunicação intestino-cérebro.
Old sources
Fontes:
Petrucci D, Cerroni R, Unida V et al. Dysbiosis of gut microbiota in a selected population of Parkinson's patients. Parkinsonism Related Disord. 2019