Senegal: como a urbanização influencia a microbiota
O acesso a água corrente, a cuidados de saúde e a uma dieta diversificada não impede que os bebés tenham uma microbiota intestinal menos madura do que os que nascem num ambiente rural menos favorecido. Esta é a principal lição de um estudo 1 realizado no Senegal
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Sobre este artigo
O ambiente – alimentação, higiene, local e estilo de vida, poluentes, medicamentos, etc. – condiciona o desenvolvimento e a composição da microbiota intestinal. Mas a genética também o faz!
As alterações do microbiota são associadas a certas doenças, como a obesidade e alergias. Tendo em conta que o estilo de vida contribui para alterações na microbiota que influenciam as doenças, os investigadores quiseram descobrir qual o impacto da urbanização na microbiota intestinal, abstraindo-se do fator genético.
Os fulani do Senegal como modelo de estudo
Para o efeito, recrutaram 60 jovens mulheres fulani do Senegal e os bebés que elas tinham acabado de dar à luz, a maioria dos quais por via vaginal. Todas as mulheres pertenciam ao mesmo grupo étnico e, por conseguinte, apresentavam unidade genética. Por outro lado, viviam em ambientes fundamentalmente diferentes:
- Metade deles vivia num ambiente "tradicional" (rural), com pouco ou nenhum acesso a serviços (eletricidade, centros de saúde, água corrente, etc.) e com uma alimentação pouco diversificada;
- A outra metade vivia na cidade de Dacar (urbano) com eletricidade, água corrente, cuidados de saúde e uma dieta muito mais diversificada.
As mães “urbanas” possuíam um índice de massa corporal (sidenote: Índice de Massa Corporal (IMC) IMC o Índice de Massa Corporal avalia a corpulência de uma pessoa, estimando a massa gorda do corpo com recurso ao cálculo da relação entre o peso (kg) e a altura elevada ao quadrado (m2) da pessoa. https://www.nhlbi.nih.gov/health/educational/lose_wt/BMI/bmicalc.htm https://www.euro.who.int/en/health-topics/disease-prevention/nutrition/a-healthy-lifestyle/body-mass-index-bmi ) mais elevado do que o das mães “rurais”.
Os cientistas recolheram amostras de fezes de mães e bebés em dois momentos: durante os primeiros 6 meses de vida destes (T1) e um ano depois (T2).
5 fatores principais influenciam a microbiota intestinal dos bebés 2
• Tipo de parto: a criança nascida de parto vaginal tem uma maior diversidade de microbiota do que as crianças nascidas por cesariana;
• Idade gestacional à nascença: a prematuridade tem impacto negativo na colonização da microbiota;
• Aleitamento materno: o leite materno fornece micróbios, nutrientes, imunoglobulinas e agentes antibacterianos, substâncias benéficas que não existem nas fórmulas para lactentes;
• Ambiente: os irmãos, os hábitos alimentares, o local de residência, etc., desempenham todos um papel na colonização da microbiota;
• Genética: um estudo realizado em crianças com menos de 10 anos revelou que a semelhança microbiana entre os gémeos idênticos era mais elevada do que entre os gémeos fraternos ou as crianças não aparentadas 3
Melhores condições de vida, mas consequências nocivas para a microbiota intestinal
Os investigadores apuraram que os bebés urbanos apresentavam um "atraso na maturação” da sua microbiota intestinal, caraterizado por uma menor diversidade microbiana. Esse déficit não foi observado nos lactentes rurais. Isto pode indicar que as condições sanitárias do ambiente urbano ou que a poluição ou a alimentação influenciam a evolução da sua microbiota.
Não obstante, as diferenças na composição da microbiota entre bebés urbanos e rurais eram menores do que entre a das mulheres urbanas e rurais. Segundo os autores do estudo, isto pode explicar-se pelo facto de os bebés terem sido expostos durante menos tempo do que as respetivas mães a certos fatores da urbanização, como a alimentação, una vez que a diversificação alimentar não ocorre geralmente antes do sexto mês.
Ainda segundo os autores, o facto de as mães urbanas estarem expostas a um maior número de fatores – a urbanização, mas também uma maior prevalência de parasitas e de excesso de peso do que as mães rurais – pode também estar na origem destas diferenças.
Natureza e microbiota: quais os efeitos para a sua saúde?
Consequências de relevo para a saúde
Os investigadores observaram também que os bebés com a microbiota imatura ao ano de idade eram mais suscetíveis às infeções respiratórias e dermatológicas do que os bebés rurais no T2, mas não no T1. Apresentavam igualmente mais sintomas de alergia. Por fim, as mães urbanas tinham um índice de massa corporal ( (sidenote: Índice de Massa Corporal (IMC) IMC o Índice de Massa Corporal avalia a corpulência de uma pessoa, estimando a massa gorda do corpo com recurso ao cálculo da relação entre o peso (kg) e a altura elevada ao quadrado (m2) da pessoa. https://www.nhlbi.nih.gov/health/educational/lose_wt/BMI/bmicalc.htm https://www.euro.who.int/en/health-topics/disease-prevention/nutrition/a-healthy-lifestyle/body-mass-index-bmi ) maior do que as mães rurais, bem como uma maior presença de Lachnospiraceae e Enterobacter, bactérias que têm sido associadas à obesidade em diversos estudos.
Segundo os autores, embora este estudo sugira que a urbanização altera a microbiota, ele não identifica claramente quais são os fatores responsáveis, entre os muitos a que as mães e os seus filhos estão expostos (água potável, alimentação, poluição, condições de trabalho, etc.). Por conseguinte, serão necessários mais estudos antes de se poder tirar conclusões.