Quando a enxaqueca se torna visceral
A enxaqueca não afeta apenas a cabeça: age também sobre os intestinos, uma vez que a microbiota intestinal de quem sofre de enxaqueca difere da dos controlos saudáveis. Determinadas bactérias parecem até permitir prever a intensidade e a frequência das cefaleias. Debrucemo-nos sobre a essência do eixo intestino-cérebro. 1
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Sobre este artigo
Já se sabia que as pessoas com enxaquecas tinham maior propensão para perturbações intestinais como diarreias, obstipação e refluxo gastroesofágico. Um estudo sul-coreano publicado no início de 2023 mostra que esses pacientes também apresentam uma alteração na sua microbiota intestinal.
A enxaqueca é uma cefaleia ou dor de cabeça de intensidade variável, mas frequentemente grave (fala-se nesse caso de ataques de enxaqueca), que surge durante a puberdade. Os ataques podem durar de algumas horas a 2 ou 3 dias, e quanto à frequência podem ocorrer desde uma vez por semana atá uma vez por ano. As crises são por vezes acompanhadas de náuseas ou de intolerância ao ruído e à luz. É uma doença que pode se tornar crónica e que altera a qualidade de vida dos pacientes. 2
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As enxaquecas afetam 15% da população mundial. 3
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As enxaquecas afetam 20% das mulheres. 4
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As enxaquecas afetam 10% dos homens.
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A enxaqueca é 2 vezes mais frequente em mulheres do que em homens devido a influências hormonais. 5
Flora intestinal modificada em quem padece de enxaquecas
Ao analisarem as bactérias presentes nas fezes de 87 pacientes com enxaqueca (42 com enxaqueca episódica e 45 com enxaqueca (sidenote: Enxaqueca crónica Mais de 15 dias por mês com cefaleias, incluindo mais de 8 dias com características de enxaqueca (aumento da sensibilidade à luz, aos sons ou aos cheiros, náuseas, vómitos, etc.), e isso por mais de 3 meses. Weatherall MW. The diagnosis and treatment of chronic migraine. Ther Adv Chronic Dis. 2015 May;6(3):115-23. ) ) e de 43 controlos saudáveis, os investigadores observaram, de facto, diferenças na composição da microbiota intestinal: em quem sofria de enxaquecas, as bactérias dos géneros Roseburia, Eubacterium, Agathobacter, PAC000195 (uma bactéria até agora não descrita) e Catenibacterium apresentavam-se mais abundantes que nas pessoas livres dessa doença. Certas bactérias da flora intestinal também diferiram de acordo com o tipo de enxaqueca (episódica ou crónica): as bactérias PAC001212 assumiram predominância nas enxaquecas crónicas, enquanto as Prevotella, Holdemanella, Olsenella, Adlercreutzia e Coprococcus surgiram associadas à enxaqueca episódica.
Aproximadamente 2,5% das pessoas com enxaqueca episódica desenvolvem enxaqueca crónica.
1 a 2% A enxaqueca crónica afeta 1 a 2% da população mundial.
(sidenote: Burch RC, Buse DC, Lipton RB. Migraine: Epidemiology, Burden, and Comorbidity. Neurol Clin. 2019 Nov;37(4):631-649. )
As bactérias como marcadores da gravidade das cefaleias
Mas isso não é tudo: a presença de certas bactérias parece permitir prever as principais caraterísticas da enxaqueca. Assim, quanto mais rica a microbiota intestinal se manifestava em PAC000195, mais baixa era a frequência das dores de cabeça; e quanto mais rica a microbiota intestinal se apresentava em Agathobacter, menos intensidade possuíam as cefaleias graves.
A microbiota intestinal
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Mas atenção: não se pode concluir que determinadas bactérias nos protegem contra as enxaquecas e a sua recorrência, ou que outras as exacerbam. Os resultados do estudo apenas comprovam a existência de disbiose intestinal nos pacientes com enxaqueca. Não é possível dizer se o desequilíbrio observado é a causa ou uma consequência da enxaqueca. A única forma de isso ser determinado é a realização de estudos longitudinais que acompanhem estes pacientes ao longo do tempo e permitam investigar se as modificações na microbiota precedem ou se sucedem aos ataques de enxaqueca, no sentido de apurar qual o fator que desencadeia o outro. Tais estudos poderão permitir que se espere que, na sua sequência, se descubram tratamentos para se superar a doença.