O blue poop challenge um método fiável para avaliar o trânsito intestinal?
Pelo Pr. Gianluca Ianiro
Departamento de Gastroenterologia, Fondazione Policlinico Universitario Agostino Gemelli-IRCCS, Università Cattolica del Sacro Cuore, Roma, Itália.
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Recentemente, surgiu um novo desafio viral nas redes sociais, incluindo Twitter e Instagram: o #BluePoopChallenge. Este desafio consiste em comer comida de cor azul (especificamente, dois queques feitos com corante alimentar azul real) e registar o tempo que demorou até ver fezes azuis na sua sanita.
Quanto a todos os exames impulsionados pelos doentes, recomendaria primeiro uma consulta com um profissional de saúde com experiência em doenças digestivas para evitar as abordagens DYI

Recentemente, foi demonstrado que este método constitui uma forma simples e direta de medir o tempo de trânsito intestinal. Significa quanto tempo os alimentos demoram a passar pelo nosso trato gastrointestinal, desde a alimentação até à evacuação, e é normalmente avaliado para determinar a motilidade intestinal, que é um componente-chave da saúde intestinal. Num estudo recente [1] de Asnicar e colegas, publicado em Gut, os autores avaliaram o método do corante azul como marcador do tempo de trânsito intestinal, e a sua associação a marcadores de saúde específicos (incluindo consistência e frequência das fezes, composição e função do microbioma intestinal e saúde cardiometabólica) em 863 indivíduos saudáveis.
Primeiro, descobriram que a consistência mais dura das fezes, medida com o British Stool Chart, está associada a um tempo de trânsito intestinal mais longo (>5 dias de mediana para o tipo 1), enquanto que a consistência mais suave corresponde a um tempo de trânsito intestinal mais curto (1 dia de mediana para o tipo 6).
Além disso, descobriram também que o tempo de trânsito intestinal está associado a várias características do microbioma intestinal. A diversidade alfa, que é um marcador de saúde microbiana, foi positivamente correlacionada com o tempo de trânsito intestinal. Um tempo de trânsito mais longo foi associado a taxas microbianas específicas, incluindo Akkermansia muciniphila (uma estirpe benéfica com propriedades metabólicas favoráveis), Bacteroides spp. e Alistipes spp. Geralmente, o tempo de trânsito intestinal foi associado a características do microbioma intestinal, mais do que a consistência ou frequência das fezes.
Por último, o tempo de trânsito mais longo foi associado à massa adiposa visceral e às respostas pós-prandial lipídica e glicose (ambos fatores de risco cardiovascular).
Em conclusão, o método do corante azul parece ser um marcador simples e barato do tempo de trânsito intestinal, que se verificou estar associado a marcadores da saúde humana, incluindo a diversidade e composição do microbioma intestinal, e a fatores específicos de risco cardiovascular. Poderá ser um método fiável para avaliar o tempo de trânsito intestinal quando necessário, ou seja, em doentes com obstipação).
A forma como este procedimento está a ser divulgado (expansão viral através das redes sociais) sugere que muitos doentes irão exigir este teste aos médicos. Quanto a todos os exames impulsionados pelos doentes, recomendaria primeiro uma consulta com um profissional de saúde com experiência em doenças digestivas para evitar as abordagens DYI. Depois, se os médicos confirmarem a necessidade de um teste de tempo de trânsito intestinal, então o método do corante azul será um método fiável e barato.
São necessárias avaliações futuras, incluindo comparações com outros métodos de avaliação do trânsito intestinal, para confirmar estes resultados e permitir um posicionamento em larga escala desta ferramenta no arsenal de diagnóstico de doenças gastrointestinais e nutricionais.