Osteoporose: reduzir as fraturas com bactérias?
Após uma viagem espacial de 9 semanas, a microbiota intestinal dos ratos adapta-se para limitar a osteoporose precoce ligada à microgravidade, uma perda óssea que se observa nos astronautas, segundo um estudo publicado em Cell report 1.
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Sobre este artigo
Radiação cósmica, perturbações do sono, perda de densidade óssea: as viagens espaciais não são tarefa fácil. E se quisermos acordar revigorados e prontos para partir apenas um dia depois de chegarmos a Marte, temos de compreender os efeitos do espaço sobre o nosso organismo para os mitigarmos. É essa a missão do programa Rodent Research 5 da NASA, que estuda a evolução da estrutura óssea de roedores enviados para a Estação Espacial Internacional (ISS) durante várias semanas. E os primeiros resultados são surpreendentes: a microbiota digestiva parece adaptar-se à microgravidade, com alterações que podem limitar as perdas ósseas.
Os ossos, um tecido em contínua remodelação
Acha que os ossos, uma vez atingido o seu tamanho máximo não sofrem modificações? Engano seu! Os ossos estão em permanente remodelação, mesmo na idade adulta. Dois tipos de células são responsáveis por este fenómeno: os osteoclastos, que removem o osso antigo e os osteoblastos que formam o novo osso. Quando se está bem de saúde, as suas respetivas atividades estão equilibradas e os ossos regeneram-se de forma permanente. Entretanto, quando a menopausa chega, a falta de estrogénio favorece a ação dos osteoclastos e diminui a dos osteoblastos: os ossos são mais absorvidos e a sua estrutura torna-se frágil. É a osteoporose 2.
Implicações para os astronautas... e para a osteoporose
Os ratos, que passaram 9 semanas da sua curta vida na ISS (o que equivale a vários anos para um astronauta), regressaram à Terra com uma microbiota mais diversificada, cuja composição tinha mudado. Certas espécies bacterianas tornaram-se mais abundantes, nomeadamente Lactobacillus murinus e Dorea sp. Aparentemente, elas poderão produzir moléculas conhecidas por promover a regeneração óssea.
1 em cada 3 mulheres com mais de 50 anos sofrerá uma fratura osteoporótica
1 em cada 5 homens com mais de 50 anos sofrerá uma fratura osteoporótica
(sidenote: Johnston CB, Dagar M. Osteoporosis in Older Adults. Med Clin North Am. 2020 Sep;104(5):873-884 )
De facto, não se deve acreditar que os ossos são um tecido "morto" depois de termos crescido e atingido a idade adulta. Muito pelo contrário, o tecido ósseo está constantemente a ser remodelado através de um processo equilibrado e contínuo de destruição e reconstrução. Um equilíbrio que pode, no entanto, ser alterado em caso de doença (osteoporose por exemplo) ou de viagens espaciais, com a ausência de gravidade a perturbar o processo. As bactérias Lactobacillus murinus e Dorea sp. parecem ativar-se quando o seu hospedeiro (o rato) fica sem peso devido à gravidade zero do espaço, produzindo moléculas que promovem a regeneração óssea. De facto, alguns destes compostos surgem em maior quantidade no sangue dos roedores.
Implicações para os astronautas... e para a osteoporose
Por outras palavras, é como se a microbiota intestinal estivesse a ajudar o corpo dos ratos a compensar as perdas ósseas associadas à microgravidade do espaço. No entanto, por mais atrativa que esta hipótese nos pareça, é necessário validá-la antes de se poderem tirar conclusões sobre a microbiota e a saúde óssea. E isto sabendo-se que as repercussões nos tratamentos podem ser significativas: a identificação de potenciais bactérias probióticas envolvidas na manutenção da densidade óssea poderá não só ajudar os astronautas a manterem-se mais saudáveis no espaço... mas também muitos doentes terrestres que sofrem de doenças ósseas como a (sidenote: Osteoporosis Osteoporosis is a "skeletal disorder characterized by compromised bone strength predisposing a person to an increased risk of fracture". NIH Consensus Development Panel on Osteoporosis Prevention, Diagnosis, and Therapy, March 7-29, 2000: highlights of the conference. South Med J. 2001 Jun;94(6):569-73. ) .
Em todo o mundo, a osteoporose é responsável por mais de 8,9 milhões de fraturas por ano, ou seja, 1 fratura osteoporótica a cada 3 segundos 3.