É bastante normal que se sinta dores e algum desconforto durante o período menstrual. O que já não é normal é sofrer dores de tal forma excessivas que impliquem faltas ao trabalho ou à escola. Este novo estudo examina o papel da microbiota vaginal neste tipo de dores a que frequentemente se chama dismenorreia.
Face às dores menstruais, nem todas as mulheres se encontram no mesmo barco. Existe um elevado grau de variabilidade interindividual na intensidade das dores menstruais, no número de zonas dolorosas ou nos sintomas gastrointestinais que surgem em simultâneo. As causas biológicas de tal variabilidade ainda são, de momento, pouco conhecidas. E agora é a microbiota vaginal que se encontra sob a mira dos investigadores. De facto, os sintomas/intensidade da dor da (sidenote:
Dismenorreia
Dismenorreia é o termo médico que designa as dores associadas ao período (menstruação), ou cólicas menstruais.
) poderão ser exacerbados por uma inflamação provocada por alterações da microbiota vaginal. Embora tenha sido realizado em múltiplos contextos ginecológicos (vaginose, aborto espontâneo ou endometriose), este é o primeiro estudo a concentrar-se na relação entre a composição da microbiota vaginal e a intensidade da dor durante a menstruação.
Heterogeneidade das microbiotas vaginais
Houve 20 mulheres a participarem num estudo-piloto. Após terem preenchido questionários, foram classificadas em três grupos, de acordo com as dores que sentiam durante o período menstrual: "dores ligeiras localizadas", "dores fortes localizadas" e "múltiplos sintomas graves". A microbiota vaginal foi analisada em dois momentos do ciclo, durante a menstruação e fora da mesma. Os resultados demonstram variabilidade interindividual quanto à estabilidade da microbiota vaginal, ou seja, que a sua composição pode variar muito de uma mulher para outra e ao longo do ciclo. Entretanto, foram também observadas disparidades na sua composição durante a menstruação, em função da intensidade da dor. Nomeadamente, as mulheres com sintomas mais graves de dismenorreia apresentavam, durante o período, um perfil microbiano vaginal com proporções inferiores de lactobacilos e mais elevadas de bactérias potencialmente pró-inflamatórias.
Uma esperança para as mulheres que sofrem
Este estudo-piloto, embora limitado em dimensão, idades e diversidade étnica, constitui um primeiro passo para sustentar investigações mais amplas sobre a associação entre a intensidade de dor e a composição da microbiota vaginal durante a menstruação. A hipótese avançada pelos investigadores é a seguinte: durante a menstruação, a degradação dos tecidos do endométrio libertará moléculas (prostaglandinas) capazes de causar contrações musculares uterinas e aumento da sensibilidade, contribuindo para a dor menstrual. Determinadas bactérias da microbiota vaginal poderão promover a libertação dessas moléculas e estimular a de citoquinas pró-inflamatórias que amplificam os sintomas de dismenorreia. Embora estas hipóteses tenham ainda de ser confirmadas, o estudo-piloto destaca a importância de se ter em conta as diferenças interindividuais e a dinâmica da microbiota vaginal no decurso do ciclo. Estes conhecimentos podem contribuir para o desenvolvimento de intervenções personalizadas e/ou biomarcadores destinados a prevenir a dismenorreia, e, em última análise, melhorar a qualidade de vida das mulheres.
Old sources
Fontes:
Chen CX, Carpenter JS, Gao X, et al. Associations Between Dysmenorrhea Symptom-Based Phenotypes and Vaginal Microbiome: A Pilot Study [published online ahead of print, 2021 Mar 13]. Nurs Res. 2021