Condimentar a refeição... e a nossa microbiota intestinal?
As ervas aromáticas e as especiarias parecem ser capazes de modular a microbiota intestinal dos adultos em risco de doença cardiovascular e de dar um empurrão a umas bactérias benéficas: as Ruminococcaceae.
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Sobre este artigo
A dieta é a forma mais fácil de modular a microbiota intestinal, simplesmente porque as bactérias que colonizam o nosso intestino se alimentam dos compostos alimentares que não digerimos, tais como as fibras ou os polifenóis. Ora, não são apenas os legumes que são populares entre esses alimentos mais frequentemente utilizados na cozinha. Há outros comestíveis, ricos em polifenóis, que serão benéficos para a nossa microbiota intestinal: as ervas aromáticas e as especiarias. Quais são exatamente os seus efeitos na composição bacteriana do intestino?
Resposta através deste estudo (sidenote: Ensaio aleatório Estudo no qual os produtos testados são distribuídos aleatoriamente (em inglês, random) entre os participantes. ) , (sidenote: Ensaio controlado Estudo no qual uma parte dos participantes recebe um placebo ou um produto conhecido (no caso os queques) para permitir a comparação. ) e (sidenote: Ensaio duplo-cego nem os participantes nem os investigadores sabem quem recebeu o produto testado (cápsula com o princípio ativo) e quem recebeu placebo (cápsula de controlo sem o princípio ativo). ) realizado com 54 adultos americanos em risco de doença cardiovascular. Durante 3 períodos sucessivos de 4 semanas (separados por pelo menos 2 semanas de intervalo), estes participantes foram alimentados através de uma clássica dieta americana enriquecida com uma mistura de ervas aromáticas e especiarias mais ou menos concentrada.
- Excesso de peso,
- Quilos a mais ao nível do estômago,
- Pelo menos 1 outro fator de risco (glicemia elevada, colesterol HDL baixo, triglicéridos elevados, hipertensão arterial...).
- Canela (20%),
- Orégãos (30%),
- Gengibre (30%),
- Pimenta preta (17%),
- Pimenta de Caiena (3%).
Um estímulo para as Ruminococcaceae
Resultado final: esta simples mistura alterou a flora intestinal dos participantes. A diversidade bacteriana aumentou em função da dose (maior diversidade com 3,3 g/d relativamente a 0,5 g/d) e em comparação com a diversidade inicial. Este segundo resultado deve, no entanto, ser interpretado com cautela: pode dever-se à mudança na dieta dos voluntários (a quem foram fornecidas refeições padrão), tal como às cápsulas de ervas e especiarias.
A microbiota intestinal
A segunda descoberta do estudo é que as refeições ricas em ervas e especiarias parecem estar associadas a uma maior presença de bactérias benéficas, principalmente da família Ruminococcaceae. De acordo com um estudo anterior, estas bactérias estarão associadas a um aumento de peso mais limitado a longo prazo. Outros beneficiários das especiarias são o género Agathobacter e a bactéria Faecalibacterium, que produzem (sidenote: Ácidos Gordos de Cadeia Curta (AGCC) Os Ácidos Gordos de Cadeia Curta são uma fonte de energia (carburante) das células do indivíduo, interagem com o sistema imunitário e estão envolvidos na comunicação entre o intestino e o cérebro. Silva YP, Bernardi A, Frozza RL. The Role of Short-Chain Fatty Acids From Gut Microbiota in Gut-Brain Communication. Front Endocrinol (Lausanne). 2020;11:25. ) como o butirato e o ácido propiónico, que são benéficos nomeadamente através dos seus efeitos anti-inflamatórios.
As especiarias, impulsionadores naturais de uma microbiota intestinal profícua para a nossa saúde? Uma pista ainda por desbravar. Entretanto, vale a pena colocarmos as ervas aromáticas e as especiarias na nossa ementa...
Petersen KS, Anderson S, Chen See JR et al. Herbs and Spices Modulate Gut Bacterial Composition in Adults At Risk for Cardiovascular Disease: Results of a Pre-Specified Exploratory Analysis from a Randomized, Crossover, Controlled-Feeding Study. J Nutr. 2022 Sep 2;152(11):2461–70.