Centenários: e se o segredo de sua longevidade estiver na microbiota intestinal?
Viver muito tempo e de boa saúde? Uma questão de genética, de ambiente e de estilo de vida. Mas também? A investigação científica está a tentar desvendar as complexas interações entre esses fatores para compreender o envelhecimento e eventualmente retardá-lo. Nessa busca, o estudo da microbiota intestinal dos felizes centenários do planeta fornece respostas valiosas. O exemplo da Sardenha.
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Sobre este artigo
Ao longo das nossas vidas, o nosso corpo modifica-se, inclusive a nossa microbiota intestinal, a tal ponto que as espécies que a compõem ajudam a estabelecer a nossa idade.. Sabe-se que a microbiota intestinal se deteriora com a idade, perdendo a sua diversidade ao desequilibrar-se (a situação a que se chama “disbiose”), o que poderá contribuir para o processo do envelhecimento. Pelo contrário, a manutenção de uma microbiota equilibrada poderá preservar o bom funcionamento do metabolismo e do sistema imunitário, mas também contribuir para o combate à inflamação e ao declínio da saúde cognitiva e óssea.
Desvio por uma “zona azul”, paraíso da longevidade
Tendo em conta que a microbiota intestinal tem participação no envelhecimento, não será possível aprendermos muito mais junto de pessoas com vidas muito longas e saudáveis? Para responder a esta pergunta, investigadores italianos1 deslocaram-se ao sul da Sardenha, região privilegiada para o estudo de centenários. Tal como nas outras “zonas azuis” do mundo, há lá homens cuja longevidade excede a média (enquanto as mulheres têm uma esperança de vida mais longa), mantendo-se em boas condições físicas2. Objetivos: determinar as particularidades da microbiota intestinal associadas à longevidade excepcional, e ainda avaliar a proporção de heritabilidade da microbiota para a descendência e o impacto de fatores ambientais como a alimentação.
Centenários que veem a vida a azul
As “zonas azuis” do mundo são4:
- As aldeias de montanha da Sardenha;
- A ilha grega de Ikaria;
- A península de Nicoya, na Costa Rica;
- A ilha japonesa de Okinawa;
- Loma Linda, na Califórnia, onde vive uma comunidade de adventistas.
A flora intestinal dos centenários na flor da juventude
Os investigadores analisaram a microbiota intestinal de um grupo de 46 arrojados centenários e nonagenários, e compararam-na com a de um grupo de controlo de 46 pessoas saudáveis mais jovens (40 a 60 anos). Compararam também a microbiota intestinal de 7 centenários com a dos respetivos filhos.
Descobriram que a microbiota intestinal dos centenários se caracterizava por uma grande abundância de bactérias da família Verrucomicrobia, em particular da espécie Akkermansia muciniphila. Esta bactéria é conhecida por contribuir – entre outras coisas – para a manutenção da integridade da barreira intestinal, da imunidade e da saúde metabólica. Enquanto a microbiota intestinal dos mais jovens era dominada pela família Bacteroidetes e, em particular, pelo gênero Bacteroides, a dos nonagenários encontrava-se associada às actinobactérias, nomeadamente às bifidobactérias. Além disso, a microbiota intestinal dos centenários era mais parecida com a dos mais jovens que a dos nonagenários.
Segundo os pesquisadores, a microbiota intestinal dos centenários apresenta uma comunidade microbiana harmoniosamente equilibrada. Ela inclui espécies associadas à saúde intestinal, as quais se opõem à ação dos agentes patogénicos e têm efeitos anti-inflamatórios que beneficiam todo o organismo. Além disso, a sua riqueza e a sua complexidade permitem-lhe adaptar-se às perturbações ambientais.
Genética e estilo de vida trabalham juntos
O estudo demonstrou, por fim, que a microbiota intestinal dos centenários era relativamente semelhante à dos respetivos filhos. Estes últimos poderão, portanto, herdar algumas caraterísticas da microbiota, mas também hábitos de vida familiar, em particular no domínio da alimentação, que predispõem para a longevidade. De facto, comprovou-se a relação existente entre a presença na microbiota intestinal de espécies ligadas à longevidade e a adesão a uma dieta de tipo mediterrânico. É mais uma demonstração das vantagens de uma dieta rica em fibras e antioxidantes!
Receita com três ingredientes para envelhecer melhor
A nossa forma de envelhecer depende do património genético que herdámos dos nossos pais, mas também do nosso ambiente e do nosso estilo de vida quotidiano: alimentação, tabaco, atividade física, condições de trabalho, etc.. Por exemplo, uma alimentação saudável desempenha um papel importante no equilíbrio da microbiota intestinal e na saúde: assim, nos idosos, a dieta mediterrânica diminui o risco de fragilidade e promove uma saúde melhor.