Aumentar a eficácia das vacinas graças à microbiota intestinal?
Como sabemos, a microbiota intestinal difere de um indivíduo para outro. Essa diferença poderá explicar variações na eficácia da vacina, com respostas mais pobres entre as crianças nos países de baixos rendimentos. Estão em estudo estratégias que visam modificar a composição da microbiota intestinal para reparar essa “injustiça imunitária”.
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Sobre este artigo
Em teoria, o princípio da vacinação é simples (ou quase): (sidenote: Isso é feito através da inoculação do organismo com um fragmento inofensivo do inimigo para que ele desenvolva defesas específicas. No caso de um encontro subsequente com o verdadeiro agente patogénico, as defesas estão prontas para neutralizar o invasor. https://www.who.int/fr/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/covid-19-vaccines/how-do-vaccines-work ) Só que, na prática, isto não funciona para todos: embora salve milhões de vidas todos os anos, especialmente de crianças pequenas que são mais suscetíveis a doenças infeciosas, a vacinação é mais eficaz para as crianças europeias do que para as de países de baixos e médios rendimentos (PBMR). Embora vacinadas, (sidenote: Enquanto quase 100% das crianças finlandesas desenvolvem imunidade protetora em resposta à vacinação contra o rotavírus, apenas 58% das crianças na Nicarágua e 46% no Bangladesh o conseguem. Da mesma forma, as taxas de proteção em resposta à vacina BCG variam entre 0 e 51% em África contra 88% a 100% nas crianças europeias. ) Por outras palavras, o seu exército de anticorpos ( (sidenote: Imunidade inata e adaptativa O corpo humano garante a sua proteção graças a 2 tipos de mecanismos de defesa: a imunidade inata e a imunidade adaptativa. A imunidade inata é a primeira linha de defesa contra os agentes infeciosos, sendo uma reação imediata. Por sua vez, a imunidade adaptativa intervém mais tarde, mas visa uma proteção duradoura Janeway CA Jr, Travers P, Walport M, et al. Immunobiology: The Immune System in Health and Disease. 5th edition. New York: Garland Science; 2001. Principles of innate and adaptive immunity. ) ) não consegue reagir. Não estando treinado para reconhecer e erradicar o inimigo, ele tem poucas chances de conseguir defender a sua posição quando ocorre um combate verdadeiro... Mas como explicar tamanha “injustiça imunitária”?
Microbiota intestinal, aliada da resposta imunitária
A resposta poderá estar nos batalhões de uma terceira força especial, aliada ao exército imunitário: a microbiota intestinal. De facto, não só o desenvolvimento e funcionamento da microbiota intestinal e do sistema imunitário estão intimamente ligados, mas a microbiota intestinal das crianças europeias é também muito diferente da das crianças dos PBMR. Para os investigadores, as diferenças na composição da microbiota poderão, assim, explicar a variação nas respostas vacinais. Neste contexto, há estudos que têm procurado modificar a microbiota intestinal para melhorar a resposta imunitária. Em metade dos ensaios em seres humanos, a administração de probióticos bactérias vivas que aumentam as fileiras da microbiota) aumenta a proporção de pacientes que desenvolvem imunidade protetora. Duas sentinelas da microbiota intestinal, os gêneros bacterianos
(sidenote:
Bifidobactérias
Bactérias em forma de bastonete, em Y. A maioria das espécies são benéficas para os seres humanos. Encontram-se no intestino humano, e também em alguns iogurtes.
Estas bactérias:
- Protegem a barreira intestinal
- Participam no desenvolvimento do sistema imunológico e ajudam a lutar contra a inflamação
- Promovem a digestão e aliviam os sintomas gastrointestinais
Sung V, D'Amico F, Cabana MD, et al. Lactobacillus reuteri to Treat Infant Colic: A Meta-analysis. Pediatrics. 2018 Jan;141(1):e20171811.
O'Callaghan A, van Sinderen D. Bifidobacteria and Their Role as Members of the Human Gut Microbiota. Front Microbiol. 2016 Jun 15;7:925.
Ruiz L, Delgado S, Ruas-Madiedo P, et al. Bifidobacteria and Their Molecular Communication with the Immune System. Front Microbiol. 2017 Dec 4;8:2345.
)
e Bacteroides, parecem particularmente capazes de estimular as tropas imunitárias.
Melhorar a resposta vacinal
Embora seja ainda necessária mais investigação, os investigadores já estão a ponderar novas estratégias de vacinação que poderão envolver a modulação da composição da flora intestinal para estimular a resposta às vacinas. Trata-se de uma nova abordagem que deverá aumentar as possibilidades de acesso a uma imunização eficaz nos países de baixo e médio rendimento (PBMR). Esta abordagem permitiria também eliminar certos adjuvantes, que são adicionados para aumentar a resposta imunitária mas que são suspeitos de ter efeitos indesejáveis, suscitando a desconfiança em relação às vacinas.
Jordan A, Carding SR, Hall LJ. The early-life gut microbiome and vaccine efficacy. Lancet Microbe. 2022 Oct;3(10):e787-e794. doi: 10.1016/S2666-5247(22)00185-9.