Transplante de microbiota oral: uma réstia de esperança para prevenir a ocorrência de mucosite associada à quimioterapia?
Um estudo piloto 1 numa menina com neuroblastoma revela que o transplante oral da microbiota oral da progenitora pode prevenir eficazmente a mucosite induzida pela quimioterapia.
Área para o público geral
Encontre aqui o seu espaço dedicadoen_sources_title
en_sources_text_start en_sources_text_end
Sobre este artigo
Efeito secundário habitual da quimioterapia ou da radioterapia, a (sidenote: Mucosite oral Inflamação aguda e dolorosa da mucosa oral, frequentemente induzida por tratamentos oncológicos como a quimioterapia e a radioterapia. Manifesta-se através de rubor, dor e ulceração, e pode ser acompanhada de sensação de boca seca, alterações do paladar e dificuldade na ingestão de alimentos. Pode ter como consequência a subnutrição, a desidratação e a redução da qualidade de vida. O tratamento é sintomático e visa aliviar a dor, promover a cicatrização e prevenir a infeção. Aprofundar: Cleveland Clinic ) caracteriza-se por uma inflamação das mucosas oral e gastrointestinal.
Daí resulta uma deterioração da qualidade de vida dos doentes, uma pior adesão aos tratamentos, dificuldades na alimentação e complicações que são ainda mais graves quando o paciente se encontra fragilizado. Tendo em conta que os tratamentos atuais se limitam a aliviar os sintomas, a modulação da microbiota oral surge como uma nova abordagem promissora.
Na sequência de trabalhos que apontam para uma ligação entre a microbiota oral e o surgimento da mucosite induzida pela quimioterapia, a publicação, no final de 2024, de um caso clínico pediátrico permite reforçar estas esperanças.
A mucosite oral é diagnosticada em mais de 70% dos doentes após o transplante de células hematopoiéticas e em 40% dos doentes que recebem quimioterapia em dose standard.
Tomada de decisão e protocolo de transplante
A história diz respeito a uma menina russa de 6 meses, a quem foi diagnosticado, aos 4 meses de idade, um neuroblastoma retroperitoneal com múltiplas metástases. Foi tratada através de quimioterapia, que rapidamente se complicou devido a vários efeitos secundários, nomeadamente uma mucosite oral grave, uma rápida perda de peso e uma infeção por C. difficile.
Os médicos resolveram efetuar um transplante oral da microbiota bucal da saudável mãe de 33 anos. O protocolo de colheita da dadora foi escalonado ao longo do dia (9 amostras de 1,5 ml), fora das refeições e da escovagem dos dentes.
Microbiota oral e doenças crónicas
Transplante oral
Durante cada um dos 3 ciclos de quimioterapia seguintes (cuja posologia foi reduzida), a bebé recebeu na boca a saliva da mãe (13,5 ml/dia, durante 10 dias) cerca de trinta minutos depois de ser amamentada.
Após 6 ciclos de quimioterapia, a doente foi submetida a uma ressecção completa do seu tumor retroperitoneal e a uma adrenalectomia do lado direito, seguida de quimioterapia de dose elevada com transplante autólogo de células hematopoiéticas (auto-HCT). Foi efetuada ainda uma última transferência oral de saliva materna antes do transplante.
Efeitos na mucosite
O transplante de microbiota oral preveniu eficazmente o aparecimento da mucosite após os 3 novos ciclos de quimioterapia; apenas se desenvolveu uma mucosite oral de grau 1 após o auto-HCT. Por toda a boca, a abundância de bactérias das famílias Staphyloccaceae, Micrococcaceae e Xanthomonadaceae registou uma diminuição. Em contrapartida, verificou-se um aumento da ocorrência relativa de Streptococcaceae e de alguns outros taxa bacterianos.
Portanto, o transplante de saliva materna nesta paciente parece ter prevenido um novo episódio de mucosite grave e ter sido acompanhado por uma alteração na composição da microbiota oral. Não foi observado qualquer efeito adverso relacionado com a transferência salivar. Como é óbvio, tratou-se apenas de um único caso.
Mas este estudo clínico piloto abre caminho para possíveis transplantes de microbiota oral no sentido de reduzir o risco de mucosite durante a quimioterapia. Ou, no mínimo, vem realçar a possibilidade, a segurança e a eficácia do transplante oral de microbiota de um dador saudável para um doente com neuroblastoma a fim de prevenir a mucosite oral induzida pela quimioterapia.