Microbiota oral, fator de risco de cancro do pulmão?
Um primeiro estudo prospetivo, realizado com pacientes que nunca fumaram, poderá revelar uma relação entre a diversidade da microbiota oral e o risco de se vir a sofrer de cancro do pulmão. Uma nova perspetiva que necessita ainda de confirmação.
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Sobre este artigo
O cancro do pulmão é a principal causa de morte por cancro em todo o mundo. Embora o consumo ativo de tabaco surja como o maior fator de risco, 25% dos casos da doença ocorrem entre não fumadores. Trata-se de uma percentagem elevada, que não pode ser totalmente explicada pelos principais riscos identificados: tabagismo passivo, poluição, antecedentes familiares, etc. Para além da microbiota intestinal e do seu papel no aparecimento de alguns cancros gastrointestinais, outros ecossistemas microbianos foram já também associados a riscos oncológicos. Neste estudo, os autores visaram a microbiota oral, cuja composição e cuja capacidade de colonizar o trato respiratório poderão contribuir para o aparecimento do carcinoma brônquico.
Com uma microbiota depauperada, o risco intensifica-se
O referido estudo prospetivo baseou-se numa monitorização a longo prazo de mais de 136.000 habitantes de Xangai que nunca fumaram (61.500 homens e 75.000 mulheres), com consultas de controlo a cada 2 a 3 anos. Foi analisada uma amostra de saliva, recolhida na linha de base, de todos os participantes que posteriormente contraíram cancro do pulmão, e também de um grupo de controlo com igual número de elementos possuidores das mesmas características dos primeiros quanto a sexo, idade, data e hora de recolha das amostras, tratamentos prévios com antibióticos, etc. Em termos finais, a comparação, realizada mediante sequenciação metagenómica, incidiu sobre 114 pacientes e número idêntico de controlos. O que nela ficou demonstrado foi que quanto menor é a diversidade bacteriana existente na microbiota oral, maior é o risco de aparecimento de cancro do pulmão.
Quando a abundância (de Firmicutes) é moléstia...
A composição intrínseca do microbioma oral também parece desempenhar um papel importante. No âmbito desta população de não fumadores, o aumento da abundância relativa de Spirochaetes (espiroquetas) e / ou de Bacteroidetes poderá corresponder a um menor risco. Pelo contrário, um número mais abundante de bactérias pertencentes ao filo das Firmicutes, e em especial da ordem das Lactobacillales, estará associado a um aumento da probabilidade de desenvolvimento de cancro do pulmão. E coube ainda aos autores especificar que estes resultados coincidem com estudos anteriores ao demonstrarem a existência de relação entre as Firmicutes e algumas doenças respiratórias (doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), carcinoma de células escamosas da cabeça e pescoço, cancro do pulmão, etc.).
Microbiota ORL (otorrinolaringológica): investigações complementares para esclarecer o seu âmbito
Esta caraterização em grande escala da microbiota oral proporciona novas perspetivas sobre a etiologia do cancro do pulmão nos não fumadores. A homogeneidade geográfica do estudo reforça a relevância das suas conclusões, mas limita simultaneamente o seu alcance. Trabalhos complementares, a realizar com outras populações e em outras localizações, deverão permitir esclarecer o papel da microbiota ORL no desenvolvimento do carcinoma brônquico e de outras patologias respiratórias.