Síndrome do cólon irritável: o transplante de microbiota fecal é eficaz a longo prazo
Este estudo de acompanhamento1 confirma que os efeitos benéficos do transplante de microbiota fecal recorrendo a um único "super-doador" se mantêm, um ano após o tratamento, no que respeita aos sintomas da síndrome do intestino irritável e à melhoria da qualidade de vida.
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Sobre este artigo
Depois de terem demonstrado, no decurso de um estudo anterior2, que o transplante de microbiota fecal (TMF) era eficaz durante 3 meses na melhoria dos sintomas abdominais, da fadiga e da qualidade de vida em pacientes com Síndrome do Cólon Irritável (SCI), os investigadores decidiram prolongar o acompanhamento da sua coorte durante um ano para avaliar os efeitos a longo prazo. Esse é o objeto deste novo estudo.
Os benefícios mantêm-se passado 1 ano
Entre os pacientes com SCI, 77 dos 91 pacientes que apresentaram resposta ao TMF no estudo anterior (redução ≥ 50 pontos no critério de avaliação da gravidade da SCI) foram acompanhados durante 1 ano após o TMF. Entre esses pacientes, 31 deles haviam recebido um transplante de fezes de 30 g e 40 outros de 60 g, de um único "super-doador".
"Super-doador"
Com 36 anos de idade, este homem caucasiano foi qualificado de "super-doador" por estar de boa saúde, ter um IMC normal e fazer regularmente exercício. Tinha nascido de parto natural e sido amamentado. Não tomava qualquer medicamento, tinha recebido apenas três tratamentos com antibióticos ao longo da vida e tomava regularmente suplementos alimentares.
Um ano após o TMF, 86,5% dos pacientes do grupo dos 30 g e 87,5% do grupo dos 60 g mantiveram a resposta ao transplante; além disso, os sintomas abdominais e a fadiga surgiram significativamente menos graves e a qualidade de vida significativamente melhor após 1 ano do que após 3 meses. Paralelamente, 32,4% dos pacientes do grupo de 30 g e 45% do grupo de 60 g apresentaram remissão completa ao fim de 1 ano, em comparação com 21,6% e 27,5% (respetivamente) após 3 meses (p = 0,1 e p = 0,4, respetivamente). Todos os pacientes com recidivas (n = 10) utilizavam medicação regularmente. Não existiram diferenças nas taxas de resposta e de melhoria dos sintomas entre homens e mulheres, nem entre os diferentes subtipos de SCI.
Melhoria da diversidade bacteriana intestinal
Embora o índice de disbiose (ID) não tivesse melhorado no estudo anterior um mês após o TMF, isso alterou-se passado um ano, sinal do aumento da diversidade bacteriana. Nos grupos de 30 g e de 60 g, a abundância de várias bactérias aumentou significativamente um ano depois do TMF; a abundância de Bacteroides stercoris e Alistipes spp., bem como de Bacteroides spp. e Prevotella spp., surgiu inversamente correlacionada com a gravidade da SCI e da fadiga do paciente em ambos os grupos, tal como a de Parabacteroides spp. para o grupo de 60 g. Nenhum marcador bacteriano apareceu significativamente alterado no grupo de pacientes com recidiva clínica um ano após o TMF. Por outro lado, os ácidos gordos de cadeia curta fecais também se alteraram - aumento dos ácidos isobutírico e isovalérico, diminuição do ácido acético - nos pacientes em remissão completa e nos que apresentaram resposta, sugerindo que o metabolismo microbiano mudou de um padrão de fermentação sacarolítica para outro de fermentação proteolítica nestes pacientes um ano após TMF.
Além de leves dores abdominais intermitentes, diarreia e obstipação que ocorreram durante os primeiros dois dias após o TMF, nenhum evento adverso foi comunicado durante o período de acompanhamento. Tal como o primeiro estudo, o TMF confirma seu potencial. Parece assim ser altamente promissor para o tratamento a longo prazo dos sintomas da SCI e para a restauração da microbiota intestinal.