A síndrome de Sjögren é causada por uma disbiose oral?

Uma disbiose da microbiota oral pode estar envolvida na patogênese da síndrome de Sjögren, particularmente na alteração fenotípica nas células epiteliais das glândulas salivares e na inflamação das próprias glândulas.

Publicado em 21 Outubro 2020
Atualizado em 19 Agosto 2024
Photo : Is Sjögren syndrome caused by an oral dysbiosis?

Sobre este artigo

Publicado em 21 Outubro 2020
Atualizado em 19 Agosto 2024

A síndrome de Sjӧgren (SS) é uma epitelite autoimune caracterizada por boca e olhos secos. As células epiteliais das glândulas salivares atuam tanto como agentes quanto como alvos, transformando-se em células capazes de ativar o sistema imunológico (células T, células dendríticas e depois células B) e sintetizar quimiocinas que causam infiltração linfocítica. A inflamação das glândulas salivares associada a esses infiltrados é um dos critérios diagnósticos da SS. No entanto, ainda não se sabe o que causa a doença. Entre os suspeitos está uma disbiose da microbiota oral, já implicada em várias doenças autoimunes (lúpus sistêmico, doença de Crohn, artrite reumatóide). O estudo descrito a seguir procurou caracterizar a microbiota oral de pacientes com SS e identificar se ela teve algum papel no aparecimento da doença.

Disbiose da microbiota oral

Comunidades bacterianas orais foram recolhidas por meio de lavagem bucal completa em 25 pacientes com uma forma primária de SS (17 com boca seca e 8 sem) e em 25 indivíduos controle (11 com boca seca e 14 sem). Esses subgrupos foram selecionados a fim de caracterizar as alterações na microbiota oral associadas à SS, controlando os efeitos da boca seca. Em comparação com os controles, a microbiota oral dos pacientes com SS apresentava maior carga bacteriana e, em correlação, era mais diversa, com diversidade bacteriana ainda mais pronunciada nos que não apresentavam boca seca.

O papel da Prevotella melaninogenica

Para avaliar se as espécies bacterianas associadas à síndrome agem como patógenos, os pesquisadores testaram in vitro três das espécies de bactérias orais que sinalizam disbiose em pacientes com SS, selecionando aquelas que expressam porinas (proteínas que permitem trocas de membrana). Destas espécies, P. melaninogenica é capaz de induzir alterações funcionais (secreção de interferon λ pelas células tumorais, causando inflamação) e fenotípicas (apresentação de antígenos) nas células epiteliais das glândulas salivares. Permanecia a dúvida se essa bactéria poderia atingir as glândulas salivares, o que foi confirmado por uma série de biópsias que revelaram sua presença em células ductais salivares e áreas de infiltração. Acredita-se que isso resulte de uma ruptura da barreira epitelial devido à inflamação e / ou fibrose. Nesse primeiro cenário, a infecção bacteriana agrava a inflamação e a desregulação já em curso nas células epiteliais das glândulas salivares. No entanto, como a bactéria também está presente em áreas não inflamadas, outro cenário também é possível, no qual a infecção bacteriana precede a infiltração de linfócitos. Em suma, uma disbiose da microbiota oral pode iniciar a desregulação das células epiteliais nas glândulas salivares. Isso levaria a uma invasão bacteriana das células ductais, capazes de alimentar a inflamação por si só.