A microbiota intestinal dos centenários é rica em informações
Perda de diversidade, menor presença de bactérias benéficas, aumento de potenciais agentes patogénicos… Com o passar dos anos, a microbiota intestinal vai-se degradando. Exceto entre as pessoas de mais de 100 anos, de acordo com um estudo abrangendo mais de 1.500 chineses. 1
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Sobre este artigo
Menos diversidade, menos microrganismos benéficos e mais agentes patogénicos oportunistas: sabe-se que a microbiota intestinal se modifica com o avançar da idade. Mas, e quanto aos centenários, que conseguiram ter uma vida mais longa e escapar a várias doenças crónicas e infeções? Para estudarem a relação entre a microbiota intestinal e a longevidade, una equipa de cientistas de um instituto de investigação chinês compararam a microbiota intestinal de 1.575 pessoas com idades compreendidas entre os 20 e os 117 anos, todas residentes na província de Guangxi, na China: 314 jovens adultos (20-44 anos), 277 adultos (45-65 anos), 386 idosos (66-85 anos), 301 nonagenários (90-99 anos) e 297 centenários (100-117 anos). Os resultados deste novo estudo sobre o envelhecimento da microbiota foram publicados na revista Nature Aging.
100 anos e uma microbiota de 20 anos
A conclusão foi que a diversidade de espécies da microbiota intestinal diminui com o passar dos anos, atingindo o seu nível mais baixo no grupo etário dos 66-85 anos. Surpreendentemente, no entanto, volta a aumentar nos nonagenários e centenários: estes apresentam mesmo a flora mais rica, mesmo ao nível dos participantes mais jovens. No entanto, os investigadores acreditam que não será tanto a diversidade das espécies, mas antes a homogeneidade das abundâncias relativas das várias espécies, o que poderá estar ligado à longevidade.
Há outros sinais de juventude e de boa saúde na microbiota das pessoas com mais de 100 anos: por um lado, verifica-se uma presença acrescida de Bacteroidetes potencialmente benéficos, em comparação com a dos idosos e a dos os nonagenários; por outro lado, constata-se uma redução das bactérias potencialmente patogénicas, em particular de bactérias inflamatórias.
Prevalência
O mundo tinha 593.000 centenários em 2021 :
- incluindo 132.000 no Japão (0,11% da sua população),
- 90.000 nos Estados Unidos (0,03%),
- 29.000 na Tailândia (0,04%),
- 27.000 em França (0,04%),
- 20.000 na Alemanha (0,02%),
- 18.000 na Itália (0,03%)
- e 14.000 em Espanha (0,03%).
O mundo tinha 593.000 centenários em 2021 :
- em 1960, 20.000 ;
- em 1970, 27.000 ;
- em 1980, 49.000 ;
- em 1990, 102.000 ;
- em 2000, 169.000 ;
- e em 2010, 308.000 2
Uma singularidade que se reforça após os 100 anos
Uma vez que estes primeiros resultados sugerem que existirá uma assinatura específica poderá caraterizar a microbiota intestinal das pessoas com mais de 100 anos, os investigadores efetuaram também um estudo longitudinal das alterações microbianas intestinais em 45 dos 297 centenários, dos quais foi recolhida uma segunda amostra de fezes, em média 1,5 anos mais tarde. O resultado foi que a microbiota intestinal das pessoas com 100 anos de idade se tornou mais uniforme em termos da abundância relativa das espécies presentes, com redução da variação interindividual e com estabilidade na população de Bacteroidetes. A uniformidade da abundância no início do estudo foi correlacionada com a estabilidade da microbiota intestinal dos centenários ao longo dos 1,5 anos, sugerindo que este equilíbrio entre espécies poderá proteger a flora intestinal de perturbações e do envelhecimento.
Segundo os investigadores, as pessoas com 100 anos de idade têm perfis microbiota específicos, apresentando um equilíbrio entre espécies que não só é elevado para a sua idade como continua a crescer, e com a manutenção da abundância em Bacteroidetes. Apesar dos anos, a sua flora intestinal mantém uma grande semelhança com a dos adultos jovens.