Doença de Parkinson: aperta-se o cerco em torno das bactérias Desulfovibrio
A bactéria intestinal Desulfovibrio poderá ser uma das causas prováveis da doença de Parkinson. Esta é, nem mais, nem menos, a conclusão de um estudo finlandês que sugere a possibilidade de se vir a despistar, ou mesmo a prevenir, a doença.
- Descubra as microbiotas
- Microbiota e doenças associadas
- Aja sobre a sua microbiota
- Publicações
- Sobre o Instituto
Acesso a profissionais de saúde
Encontre aqui o seu espaço dedicadoen_sources_title
en_sources_text_start en_sources_text_end
Sobre este artigo
O que é que têm em comum o Papa S. João Paulo II, o ator Michael J. Fox (o Marty Mc Fly de Regresso ao Futuro) e o pugilista Muhammad Ali? Todos foram afetados pela doença de Parkinson, uma doença degenerativa cerebral reconhecível em particular pelos tremores que causa. Mas estas celebridades, tal como os quase 9 milhões de pessoas vítimas desta doença em todo o mundo, provavelmente têm também em comum uma bactéria chamada Desulfovibrio. Ou, mais precisamente, um excesso desta bactéria, que se pensa estar presente em quantidades (demasiado?) elevadas nas pessoas com a doença de Parkinson, sobretudo nas que desenvolvem formas graves da mesma.
A doença de Parkinson é uma doença degenerativa do cérebro que se encontra associada a perturbações motoras (movimentos lentos, tremores, rigidez e desequilíbrio) e a outras complicações, incluindo problemas cognitivos, problemas de saúde mental, perturbações do sono, dor e problemas sensoriais.A
A disfunção gastrointestinal constitui também uma caraterística importante da doença, tendo sido observada disbiose intestinal nestes pacientes. Numerosos estudos demonstram que, através do eixo intestino-cérebro, a microbiota intestinal desempenhará um papel importante no risco e na progressão da doença.B
Fontes:
A) OMS / WHO
B) Tan, A.H., Lim, S.Y. & Lang, A.E. The microbiome–gut–brain axis in Parkinson disease — from basic research to the clinic. Nat Rev Neurol 18, 476–495 (2022).
Das bactérias aos agregados cerebrais
Será que são essas bactérias as culpadas pela doença? Sim, a acreditar nos resultados publicados em 2023 por uma equipa finlandesa. Os seus trabalhos consistiram em sacrificar alguns nemátodos – vermes redondos e delgados – e, mais especificamente, dos designados C. elegans, que foram alimentados com bactérias Desulfovibrio extraídas quer das fezes de doentes de Parkinson quer das fezes dos respetivos cônjuges saudáveis. Conclusão: os vermes que ingeriram bactérias Desulfovibrio dos doentes de Parkinson desenvolveram mais (em termos numéricos) agregados proteicos típicos da doença nos seus cérebros, e agregados maiores (em termos de volume) do que os vermes alimentados com bactérias Desulfovibrio recolhidas das fezes dos respectivos cônjuges. Por outras palavras, as estirpes de bactérias Desulfovibrio, em particular as provenientes de doentes, favorecem a acumulação de agregados.
8,5 milhões Em 2019, mais de 8,5 milhões de pessoas em todo o mundo sofriam da doença de Parkinson.
329.000 mortes Em 2019, a doença de Parkinson causou 329.000 mortes, correspondentes a um aumento de mais de 100% desde 2000.
Mortalidade acrescida
E não é tudo! Os vermes alimentados com bactérias Desulfovibrio de pacientes morrem mais passados 4 dias. Esse excesso de mortalidade poderá ser explicado pela maior virulência das bactérias retiradas deles.
Esta descoberta suscita uma esperança imensa: não só os doentes de Parkinson poderão ser rastreados através do rastreio da bactéria em causa nas suas fezes, como também será provavelmente possível, um dia, controlar ou mesmo prevenir a doença, erradicando ou simplesmente limitando o número destas bactérias patogénicas.
A prevalência da doença duplicou nos últimos 25 anos.
Os homens são mais afetados do que as mulheres.