Depressão: será que a microbiota intestinal detém a chave para o diagnóstico?
Ao elaborarem um mapeamento rigoroso dos microrganismos e compostos que habitam a microbiota intestinal, os investigadores desenvolveram um novo método de diagnóstico para o transtorno depressivo maior.
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Sobre este artigo
A microbiota intestinal é povoada por múltiplos microrganismos que sintetizam compostos chamados metabolitos, os quais são essenciais para o correto funcionamento do organismo humano. Ao longo da última década, os investigadores determinaram a existência de uma relação entre as perturbações da microbiota e várias doenças, entre as quais o transtorno depressivo maior (TDM), uma doença psiquiátrica com importantes consequências sociais. Um estudo recente confirma essa relação, e vai mais longe, ao utilizar a microbiota intestinal como instrumento de diagnóstico.
Uma topologia mais precisa da microbiota
O diagnóstico do TDM, caraterizado pela ausência de marcadores biológicos facilmente mensuráveis e por se basear apenas numa entrevista com o paciente, é, frequentemente, incorreto ou incompleto. No sentido de obterem uma imagem exata da microbiota intestinal nos casos de depressão, os investigadores estudaram simultaneamente as bactérias, os vírus e os respetivos metabolitos contidos nas fezes de uma centena de pacientes com TDM e de outros tantos controlos saudáveis. Identificaram três bacteriófagos (vírus que infetam bactérias), 47 espécies bacterianas e 50 metabolitos fecais que apresentavam diferenças significativas em termos de abundância nos pacientes com TDM relativamente aos controlos saudáveis. Segundo eles, esses marcadores biológicos constituirão um meio complementar de diagnóstico da depressão, coadjuvante das entrevistas clínicas. A análise efetuada numa segunda coorte indica que a utilização dos referidos marcadores biológicos torna possível a deteção dos pacientes de TDM com uma precisão de mais de 90% em ambos os grupos.
O eixo intestino-cérebro no cerne da depressão?
Uma outra conclusão retirada deste mapeamento é de que o GABA, neurotransmissor que reduz a atividade cerebral, foi encontrado em quantidades inferiores nas fezes dos pacientes com TDM. Segundo os investigadores, essa redução será regulada pela composição alterada da microbiota bacteriana desses pacientes, e poderá estar na origem do TDM. Os autores sustentam a hipótese de que a redução de GABA ao nível intestinal poderá estar correlacionada com uma desregulação da função de neurotransmissão do mesmo no cérebro dos pacientes com TDM. Esta hipótese tende a confirmar a participação do eixo intestino-cérebro no transtorno depressivo maior. O estudo vem, assim, abrir uma nova esperança para o correto diagnóstico do TDM.
Fontes:
Yang J, Zheng P, Li Y et al. Landscapes of bacterial and metabolic signatures and their interaction in major depressive disorders. Sci Adv. 2020 Dec 2;6(49):eaba8555. doi: 10.1126/sciadv.aba8555