Obesidade grave: o círculo vicioso do metabolismo da biotina
Trata-se de um paradoxo: as pessoas gravemente obesas são muitas vezes malnutridas, porque a quantidade da sua dieta não compensa a fraca qualidade da mesma. Especialmente porque se estabelece um círculo vicioso que envolve a microbiota intestinal e resulta em níveis muito reduzidos de vitamina B.
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Sobre este artigo
Como se sabe, as vitaminas B, e especialmente a biotina (B8), produzidas pelas bactérias intestinais, influenciam tanto a função microbiana como o metabolismo do hospedeiro e a inflamação. São também responsáveis pela regulação da saúde metabólica desse mesmo hospedeiro. Mas o que é que sucede em caso de obesidade grave no ser humano? É uma questão que merecia ser colocada, uma vez que estudos anteriores (pré-clínicos e clínicos) tinham justamente destacado uma alteração do nível de biotina no soro e nos tecidos das pessoas obesas.
x11 Entre 1975 e 2014, a frequência de obesidade grave aumentou em todo o mundo 11 vezes nos homens
x3 e 3 vezes nas mulheres.
Menos bactérias produtoras ou transportadoras de biotina
Para responder a esta pergunta, os investigadores analisaram os dados de 1.545 indivíduos do estudo multicêntrico europeu (sidenote: https://cordis.europa.eu/project/id/305312/fr ) , comparando 608 pacientes com obesidade grave (IMC>35), a 299 com excesso de peso ou obesidade (25<IMC<35) e a 638 controlos com IMC normal (IMC<25).
Conclusão: a obesidade grave está associada a uma carência em bactérias produtoras e transportadoras de biotina. Isto tem consequências para o paciente obeso, uma vez que a abundância dessas bactérias está correlacionada com os estados inflamatórios e as respetivas perturbações do metabolismo.
Além disso, nas pessoas gravemente obesas, a biotina circulante apresenta níveis subótimos e a expressão dos genes que codificam essa vitamina surge alterada no tecido adiposo.
As bactérias intestinais em causa?
A implantação de microbiota humana em ratinhos confirma a contribuição da microbiota intestinal para a quantidade de biotina circulante. Por outro lado, a alimentação também desempenhará um papel: o tipo de (sidenote: Regime ocidental Alimentação rica em alimentos transformados, em açúcar refinado, sal, gorduras saturadas (carnes vermelhas) e gorduras trans (produtos panificados) Zinöcker MK, Lindseth IA. The Western Diet-Microbiome-Host Interaction and Its Role in Metabolic Disease. Nutrients. 2018 Mar 17;10(3):365. ) provoca uma diminuição das bactérias intestinais produtoras de biotina, bem como uma redução nos níveis de circulação sérica dessa vitamina. Além disso, a inflamação intestinal que se observa nos pacientes obesos limita, paradoxalmente, a respetiva absorção quando proveniente dos alimentos.
Em última análise, parece surgir um círculo vicioso em caso de obesidade grave: a sinalização molecular da microbiota disbiótica poderá contribuir para o agravamento da inflamação do hospedeiro e para a carência de biotina tecidular.
Pistas terapêuticas
Como furar este círculo vicioso? A cirurgia bariátrica, que melhora o metabolismo e a inflamação, promove as bactérias produtoras de biotina. O resultado é uma melhoria da biotina sistémica do hospedeiro. Outra pista: a suplementação alimentar com prebióticos (fibra) e biotina. Em ratos alimentados através de uma dieta rica em gordura, estas duas vias melhoram a diversidade da microbiota intestinal, aumentam a produção bacteriana de biotina e de outras vitaminas do complexo B, limitando o aumento de peso e a deterioração da glicemia. São duas formas de se transformar o círculo vicioso em virtuoso...