Microgravidade, microbiota e densidade óssea
A perda de densidade óssea é um bem conhecido efeito colateral da microgravidade nos astronautas. A microbiota poderá contrabalançar este efeito, de acordo com um estudo recente com ratinhos publicado na revista Cell Reports.
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Sobre este artigo
Embora sem darem tanto nas vistas como a cadela Laika, os ratos astronautas estão a participar num importante programa de investigação da NASA cujo objetivo é avaliar o efeito da microgravidade na homeostase óssea.
O que se pretende é encontrar formas de atenuar as consequências das longas viagens espaciais. De facto, as viagens espaciais são acompanhadas de uma diminuição da formação e um aumento da reabsorção ósseas.
Estudos recentes estabeleceram uma ligação entre as alterações da microbiota intestinal e as doenças ósseas, como a osteoporose, através de efeitos mediados pelos ácidos gordos de cadeia curta (AGCC) no sistema imunitário, na regulação endócrina, nas carências de vitaminas e nutrientes e no metabolismo energético. Para compreender melhor os mecanismos envolvidos na saúde óssea, a missão Rodent Research 5 avaliou a influência da microgravidade na microbiota intestinal e oral de 20 ratinhos fêmeas que tinham passado 4,5 semanas (10 roedores) ou 9 semanas (10 roedores) na Estação Espacial Internacional (ISS). Isso é o equivalente a uma estadia de vários anos para Marcos Pontes porque a esperança de vida dos seres humanos é de 30 a 40 vezes maior do que a desses pequenos roedores.
Em todo o mundo, a osteoporose é responsável por mais de 8,9 milhões de fraturas por ano, ou seja, 1 fratura osteoporótica a cada 3 segundos.
Efeito de uma longa viagem espacial
Após 4,5 semanas no espaço, a microbiota dos ratos manteve-se globalmente comparável, em termos de diversidade, ao de 20 roedores de controlo deixados na Terra em condições idênticas (com exceção da microgravidade). Em contrapartida, quando a permanência no ISS foi prolongada (9 semanas), a diversidade da microbiota intestinal aumentou, a abundância relativa de Firmicutes cresceu e a de Bacteroidetes diminuiu. Especificamente, uma estadia longa no espaço resultou num enriquecimento em Lactobacillus murinus (do filo Firmicutes) e Dorea sp., em comparação com uma estadia de 4,5 semanas.
Além disso, nos ratinhos que passaram 9 semanas no espaço (em comparação com os que ficaram na Terra), verificou-se uma estimulação das vias metabólicas associadas à produção dos ácidos lático, málico e butírico, bem como de glutatião e de aminoácidos como a leucina e a isoleucina.
1 em cada 3 mulheres com mais de 50 anos sofrerá uma fratura osteoporótica
1 em cada 5 homens com mais de 50 anos sofrerá uma fratura osteoporótica
Ligações com a densidade óssea
Como se sabe, esses metabolitos estão relacionados com a densidade mineral óssea dos roedores. Por exemplo, o glutatião promove a sobrevivência dos precursores dos osteoblastos e, por conseguinte, a regeneração óssea; e a leucina e a isoleucina, dois aminoácidos de cadeia ramificada, são ativamente importados para os osteoblastos durante a condrogénese.
Daí a deduzir-se que, numa situação de microgravidade, a microbiota e o organismo dos ratinhos tentam compensar a perda óssea, é um passo curto, mas os investigadores recusam-se a dar este passo até que sejam efetuados estudos mecanicistas que validem realmente estas hipóteses. E isto sabendo-se que as repercussões podem ser importantes: a identificação de potenciais tratamentos com bactérias probióticas envolvidas na manutenção da densidade óssea poderá não só ajudar os astronautas a manterem-se mais saudáveis no espaço, mas também simples terráqueos que sofrem de doenças ósseas como a osteopenia ou a osteoporose.