Microbiota intestinal e vitamina D: uma dupla prometedora no tratamento da osteoporose?
Já estudada no passado como potencial ferramenta diagnóstica da osteoporose, a microbiota intestinal vê confirmada a sua intervenção na doença. Um trabalho de uma equipa chinesa destaca o seu virtual papel na absorção da vitamina D. Explicações.
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Sobre este artigo
A relação entre a osteoporose e a vitamina D já não necessita de ser provada. E a que existe entre a microbiota intestinal (MI) e a osteoporose está a ser cada vez mais estudada. E quanto à relação entre a microbiota e a vitamina D?
Primeiro estudo a investigar a potencial ligação entre microbiota, vitamina D e osteoporose grave
Tudo resultou de uma simples constatação clínica: os pacientes com osteoporose grave (SOP) apresentam uma concentração plasmática reduzida de 25(OH)D3 associada a uma maior frequência de distúrbios gastrointestinais. Por isso, uma equipa chinesa aventou a hipótese de que a composição do MI poderia afetar a absorção intestinal de vitamina D. Para dar resposta à questão, foram recrutados 36 participantes sujeitos à mesma dieta: 18 pacientes com osteoporose (OP) e outros 18 com osteoporose grave (SOP).
A medição das concentrações plasmáticas de colecalciferol (vitamina D3) e de 25(OH)D3, bem como a análise da composição da microbiota intestinal dos participantes revelou resultados promissores.
Microbiota mais diversificada nos pacientes com osteoporose grave (SOP)
Normalmente, uma microbiota diversificada reflete boa saúde. Esse constatação não se aplica à osteoporose e ao metabolismo da vitamina D.
(sidenote:
Xu Z, Xie Z, Sun J, et al. Gut Microbiome Reveals Specific Dysbiosis in Primary Osteoporosis. Front Cell Infect Microbiol. 2020 Apr 21;10:160.Wang J, Wang Y, Gao W, Wang B, Zhao H, Zeng Y, Ji Y, Hao D
Wang J, Wang Y, Gao W, et al. Diversity analysis of gut microbiota in osteoporosis and osteopenia patients. PeerJ. 2017 Jun 15;5:e3450.
)
Este estudo, por sua vez, esclarece que os pacientes com SOP têm uma microbiota mais diversificada do que os pacientes com OP e níveis reduzidos de Bifidobacterium, bactérias que participam na absorção intestinal de certas gorduras e vitaminas lipossolúveis. Por outro lado, os Firmicutes surgem em maior abundância nesses pacientes com SOP. Sabe-se que um rácio elevado Firmicutes/Bacteroidetes é um indicador potencial de disbiose. Isto poderá ajudar a explicar por que é que os participantes com SOP sofrem de sintomas gastrointestinais mais graves.
A microbiota estará envolvida na absorção intestinal da vitamina D
Efetivamente, as concentrações plasmáticas de colecalciferol e 25(OH)D3 encontram-se positivamente correlacionados, sendo menores nos pacientes com SOP. Como as refeições fornecidas aos participantes foram idênticas, a concentração de 25(OH)D3 dependeu, portanto, da quantidade de colecalciferol absorvida pelo intestino, sobre a qual a MI poderá ter influência.
As diferenças na composição da MI associadas à baixa concentração circulante de 25(OH)D3 nos pacientes com SOP sugere, assim, uma participação de determinadas bactérias intestinais na absorção intestinal da vitamina D, o que poderá, portanto, contribuir para o agravamento da OP na SOP.
Estes resultados, tão inovadores quanto promissores, abrem excelentes perspetivas para o tratamento da osteoporose. A etapa seguinte consistirá em identificar os mecanismos através dos quais a microbiota participa na absorção intestinal da vitamina D, mas surge desde já a esperança do da descoberta de novas pistas para o tratamento da SOP.