Gosta de se bronzear? Atenção à microbiota da sua pele!
A exposição aos raios solares é suscetível de provocar um desequilíbrio na comunidade de microrganismos que vivem à superfície da pele. E as pessoas que gostam de se bronzear são as que correm mais riscos.
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Sobre este artigo
Sente-se mais bonito/a, mais saudável e mais atraente quando está bronzeado/a? Infelizmente, a microbiota da sua pele pode não gostar... e a sua saúde também!
É o que sugere um estudo 1 realizado com um grupo de 4 homens e 17 mulheres do Norte da Europa que foram de férias durante pelo menos uma semana para apanhar banhos de sol.
No dia anterior à partida, os investigadores colheram-lhes uma amostra de pele da parte mais bronzeada do antebraço para analisarem a composição da microbiota cutâneo. Fizeram o mesmo no dia seguinte ao seu regresso (D1), 28 dias depois (D28) e, posteriormente, aos 84 dias (D84).
Para conhecerem o respetivo fototipo e a evolução do seu bronzeado, os cientistas mediram também a cor da pele dos seus nádegas (pouco expostas ao sol) e dos seus antebraços, antes e depois da exposição ao sol.
Advertência:
A exposição a doses elevadas e excessivas de luz solar pode levar a uma série de riscos para a saúde, incluindo os cancros da pele. No entanto, existem maneiras de se proteger ao adotar boas práticas de proteção solar para reduzir os riscos. Aconselhe-se junto do seu médico ou farmacêutico.
A cada um a sua exposição solar...
O que mostram os resultados?
Primeiramente, foi possível classificar os voluntários em três grupos:
- "Entusiastas do bronze", que aproveitaram ao máximo o sol durante as suas férias;
- "Já bronzeados", que tinham a pele bronzeada à partida e a mantiveram assim;
- "Cautelosos", que não estavam muito bronzeados antes de partirem e conseguiram proteger-se do sol.
Os investigadores demonstraram ainda que, em todos os voluntários, três grandes famílias de bactérias, três "filos" – Actinobacteria, Proteobacteria e Firmicutes – representavam 95% de todos os microrganismos.
Mas logo após o regresso das férias, em D1, os "entusiastas do bronze" e os "já bronzeados" apresentavam uma microbiota cutânea empobrecido em Proteobacteria.
Embora esta redução da diversidade tenha desaparecido ao longo do tempo e fosse inexistente em D28, esta informação é importante.
A microbiota da pele também é influenciada pela microbiota intestinal
Acne, dermatite atópica, psoríase, rosácea... Outras tantas doenças de pele ligadas a um desequilíbrio ( (sidenote: Disbiose A "disbiose" não é um fenómeno homogéneo – varia em função do estado de saúde de cada indivíduo. É geralmente definida como uma alteração da composição e do funcionamento da microbiota, causada por um conjunto de fatores ambientais e relacionados com o indivíduo que perturbam o ecossistema microbiano. Levy M, Kolodziejczyk AA, Thaiss CA, et al. Dysbiosis and the immune system. Nat Rev Immunol. 2017;17(4):219-232. ) ) da microbiota cutânea mas também... da microbiota intestinal! Existe uma comunicação permanente entre a pele e essas duas populações de micróbios. Trata-se do famoso eixo pele-intestino 2. Mas quais são os respetivos mediadores?
Estudos realizados mostraram que certos metabolitos produzidos pela microbiota intestinal, denominados ácidos gordos de cadeia curta ( (sidenote: Ácidos Gordos de Cadeia Curta (AGCC) Os Ácidos Gordos de Cadeia Curta são uma fonte de energia (carburante) das células do indivíduo, interagem com o sistema imunitário e estão envolvidos na comunicação entre o intestino e o cérebro. Silva YP, Bernardi A, Frozza RL. The Role of Short-Chain Fatty Acids From Gut Microbiota in Gut-Brain Communication. Front Endocrinol (Lausanne). 2020;11:25. ) ), são capazes de se disseminar no organismo e de agir sobre a pele 3. Pensa-se que o acetato e o propionato, por exemplo, têm um efeito anti-inflamatório, enquanto o ácido propiónico atuará contra determinados estafilococos que causam infeções cutâneas.
Alterações na microbiota da pele potencialmente prejudiciais à saúde
Sabe-se, de facto, que já foram observadas alterações no conteúdo de Proteobacteria na microbiota da pele em pessoas que sofrem de psoríase, eczema ou úlceras do pé diabético.
Estudos demonstraram também que uma maior densidade de Proteobacteria na pele está associada a uma melhor proteção contra a inflamação cutânea relacionada com alergias.
Estes dados sugerem, portanto, que um desequilíbrio cutâneo em Proteobacteria nas pessoas que tendem a expor-se muito ao sol pode dar origem a uma deterioração da sua saúde.
Proteobactérias: prejudiciais ou benéficas?
As proteobactérias (“Proteobacteria”) nem sempre gozam de boa imagem, e talvez já tenha ouvido falar de Escherichia coli ou de salmonelas que causam infeções. Como em todos os grupos bacterianos, existem algumas bactérias benéficas, outras mais nocivas, e ainda certas bactérias oportunistas que ajudam a microbiota quando esta é saudável, mas que se tornam inimigas quando ela se encontra em disbiose 4. Por exemplo, a Roseomonas mucosa, uma bactéria cutânea pertencente ao grupo das proteobactérias, é conhecida por combater certos agentes patogénicos cutâneos 4,5. É tudo uma questão de equilíbrio.
É certo que este estudo tem algumas limitações (número reduzido de voluntários, sobrerrepresentação das mulheres, medição apenas indireta da exposição solar, etc.), e que os seus resultados têm de ser confirmados por estudos de maior escala.
No entanto, ele levanta a possibilidade de um dia podermos aplicar produtos à base de determinadas bactérias benéficas (probióticos) para limitar a deterioração da microbiota cutânea provocada pela exposição ao sol.
Advertência:
Doses elevadas de radiação ultravioleta (UVR) estão associadas a degradações agudas e crónicas da saúde da pele. A exposição crónica à radiação ultravioleta é o fator de risco para o cancro da pele mais fácil de evitar. Os profissionais de saúde recomendam práticas de proteção solar para reduzir o risco.
Probióticos
1. Willmott T, Campbell PM, et al. Behaviour and sun exposure in holidaymakers alters skin microbiota composition and diversity. Front Aging. 2023 Aug 8;4:1217635.
2. O'Neill CA, Monteleone G, et al. The gut-skin axis in health and disease: A paradigm with therapeutic implications. Bioessays. 2016 Nov;38(11):1167-1176.