Nestes períodos de confinamento, as crianças passam grande parte do tempo em casa. Falamos de um ambiente doméstico, onde o pó impera. Ora, esta exposição aos agentes microbianos presentes nesse pó, poderá ser fator de proteção ou de risco para o desenvolvimento da dermatite atópica, consoante a residência se encontre localizada na cidade ou no campo.
O eczema (ou dermatite atópica) é a doença crónica da (sidenote: https://www.worldallergy.org/UserFiles/file/WAOAtopicDermatitisInfographic2018.pdf). Caracteriza-se pela secura cutânea, associada a lesões do tipo eczematoso (exantema e prurido, etc.) não contagiosas, manifestando-se mediante surtos. Resultando de uma complexa interação de fatores genéticos e ambientais, pode manifestar-se muito cedo, mesmo na primeira infância, mas pode persistir e por vezes surgir em adolescentes e adultos. Entre os referidos fatores ambientais, o papel da microbiota intestinal e também o da microbiota cutâneaou da nasal já foi amplamente demonstrado. Apesar de importantes esforços de investigação nos últimos anos, o número de pessoas afetadas é crescente em todo o mundo. Como explicar esse aumento? Os primeiros elementos de explicação visam as mudanças ambientais resultantes de mais higiene e da urbanização. Surpreendentemente, enquanto a presença da doença nos países africanos parece ser bastante reduzida, os afro-americanos surgem, em contrapartida, como os mais afetados. Este novo estudo procura compreender porquê, avaliando a associação entre a microbiota do pó das habitações da cidade e do campo e o surgimento desta afeção em crianças sul-africanas.
Pó das cidades ou dos campos: o que é que nos revela a microbiota?
Os investigadores passaram a pente fino as residências (rurais ou urbanas) de 86 crianças sul-africanas com idades entre os 12 e os 36 meses, afetadas ou não pela dermatite atópica. A sua missão? Colher amostras do pó dessas casas para analisarem a respetiva microbiota bacteriana. 1.ª constatação: a composição microbiana global é significativamente diferente entre o pó das residências urbanas e o das rurais. Nas casas citadinas, o pó apresenta uma diversidade bacteriana significativamente reduzida em comparação com o das habitações situadas no campo. Determinadas bactérias específicas (Clostridiales, Lachnospiraceae, Ruminococcaceae e Bacteroidales) surgem também em quantidade reduzida.
Bactérias protetoras contra a dermatite atópica?
Outra conclusão deste estudo: a composição e a diversidade das bactérias presentes no meio do pó doméstico difere nas casas onde habitam crianças com dermatite atópica relativamente às das que não são vítimas da patologia. Nas habitações das crianças não afetadas e que residem no campo, as bactérias Clostridiales, Ruminococcaceae e Bacteroidales surgem em quantidades mais elevadas no pó. Estes resultados indicam que tais bactérias podem desempenhar um efeito protetor contra a dermatite atópica. Em contrapartida, nas áreas urbanas, não foi observada qualquer diferença na quantidade ou na diversidade bacteriana do pó das casas onde as crianças, tanto afetadas como não, vivem.
A composição do pó doméstico pode ser um fator de risco importante para o desenvolvimento de dermatite atópica, e essa associação pode ser determinada, em parte, pela microbiota intestinal. Inadvertidamente, as crianças de tenra idade ingerem e inalam quotidianamente pó da casa, sendo provável, segundo os investigadores, que algumas das bactérias presentes nesse pó se instalem ao nível intestinal, o que poderá (ou não) protegê-las de virem a apresentar eczemas.
Old sources
Fontes:
Mahdavinia M, Greenfield LR, Moore D, et al. House dust microbiota and atopic dermatitis; effect of urbanization [published online ahead of print, 2021 Feb 11]. Pediatr Allergy Immunol. 2021;10.1111/pai.13471. doi:10.1111/pai.13471