Esquizofrenia e microbiota: uma relação confirmada?
Um estudo realizado na China coloca a hipótese da existência de uma relação entre o desequilíbrio da microbiota intestinal (disbiose) e a esquizofrenia, uma perturbação psiquiátrica que afeta entre 0,5 e 1% da população mundial.
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Sobre este artigo
São inúmeros os estudos que confirmam a existência de uma correlação entre a (sidenote: Disbiose A "disbiose" não é um fenómeno homogéneo – varia em função do estado de saúde de cada indivíduo. É geralmente definida como uma alteração da composição e do funcionamento da microbiota, causada por um conjunto de fatores ambientais e relacionados com o indivíduo que perturbam o ecossistema microbiano. Levy M, Kolodziejczyk AA, Thaiss CA, et al. Dysbiosis and the immune system. Nat Rev Immunol. 2017;17(4):219-232. ) intestinal e a esquizofrenia, tendo em conta fatores já conhecidos, nomeadamente o risco de desenvolver a doença (10 a 20 vezes superior) em caso de infeção pré-natal; perturbações gastrointestinais frequentes associadas a uma disbiose nos doentes esquizofrénicos; bem como perturbações nos sistemas neurológico, imunológico e hormonal, cuja maturação está intimamente ligada à microbiota intestinal. Desta forma, os investigadores chineses compararam a microbiota de indivíduos saudáveis com a de doentes esquizofrénicos, antes de transferirem a flora humana "esquizofrénica" e desequilibrada em ratinhos com uma microbiota saudável.
A microbiota está relacionada com a doença e sua gravidade
A microbiota de doentes com esquizofrenia não é apenas menos abundante e menos diversificada. Sabe-se também que predominam 23 espécies (das 77 que foram identificadas) e as 54 restantes estão sub-representadas. Essa disbiose é específica da esquizofrenia, de acordo com os autores, que também identificaram um conjunto de bactérias composta por 5 famílias. Esse conjunto de microrganismos é capaz de fazer a discriminação entre indivíduos saudáveis e doentes esquizofrénicos, e é diferente da que é encontrada noutras patologias psiquiátricas (como a depressão). Além de se perceber que existem dois grandes grupos bacterianos que podem ser especificamente relacionáveis com a gravidade dos sintomas esquizofrénicos.
Transplante de microbiota e início da doença
Com esta experiência do transplante da microbiota intestinal, os investigadores concluíram que as espécies bacterianas de doadores humanos foram encontradas nos ratinhos recetores, que começaram a apresentar um comportamento semelhante ao das pessoas com esquizofrenia: hiperatividade, diminuição da ansiedade e depressão. Também foram observadas variações anormais em alguns níveis de neurotransmissores (substâncias químicas que permitem que os neurónios enviem mensagens), indicando assim que a comunicação entre o intestino e o cérebro estaria alterada. Os investigadores concluíram que a disbiose intestinal pode, então, desempenhar um papel no desenvolvimento da esquizofrenia através desse mesmo caminho. Esta descoberta abre perspetivas para potenciais novas estratégias diagnósticas e terapêuticas.