Prognosticar o risco de enterocolite necrosante graças ao viroma intestinal
Uma convergência das comunidades virais intestinais em bebés prematuros que desenvolvem enterocolite necrosante, dez dias antes do início da doença, sugere a possibilidade de identificação precoce das pessoas em risco.
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Sobre este artigo
A enterocolite necrotizante (ECN) é uma complicação necroinflamatória grave e súbita em bebés prematuros. Estudos anteriores sugerem um envolvimento da microbiota intestinal na sua ocorrência, enquanto outros apontam para um possível envolvimento de certos vírus. No entanto, o viroma intestinal dos bebés prematuros continua mal compreendido até agora. Daí o trabalho de uma equipa americana que acompanhou o desenvolvimento do viroma dos bebés prematuros ao longo do tempo para identificar os fatores que poderiam influenciar o desenvolvimento da ECN.
Uma convergência de viromas 10 dias antes da doença
Neste estudo metagenómico longitudinal, os viromas intestinais de 23 bebés prematuros foram analisados por sequenciação de nova geração. Isto foi feito durante as suas primeiras 11 semanas de vida, ou seja, entre as 25.ª e 36.ª semanas da (sidenote: Idade pós-menstrual idade que corresponde ao número de semanas de gestação no nascimento mais a idade pós-natal. ) . Nove destas crianças desenvolveram ECN numa idade pós-menstrual média de cerca de 31 semanas; quatro não sobreviveram.
2 a 7% dos bebés A enterocolite necrosante ocorre em 2 a 7% dos bebés nascidos com menos de 32 semanas de gestação nos países desenvolvidos,...
22 à 38 % ...com uma mortalidade que varia entre os 22 e os 38%.
Os resultados mostram que o viroma intestinal dos bebés prematuros apresenta uma forte variação inter e intraindividual ao longo do tempo. O resultado foi o mesmo quer as crianças tenham ou não desenvolvido a ECN. Contudo, um resultado particularmente interessante foi que as viroses intestinais das crianças que desenvolveram ECN começaram a convergir em termos de
(sidenote:
diversidade β
Uma medida que indica a diversidade de espécies entre amostras, permite avaliar a variabilidade da diversidade de microbiota entre sujeitos.
Hamady M, Lozupone C, Knight R. Fast UniFrac: facilitating high-throughput phylogenetic analyses of microbial communities including analysis of pyrosequencing and PhyloChip data. ISME J. 2010;4:17-27. https://www.nature.com/articles/ismej20099
)
10 dias antes do início da doença. Uma convergência que se traduz pelo enriquecimento de certos vírus específicos e na perda de outros vírus.
Em termos bacterianos, a diversidade beta nestas crianças foi estável durante os 25 dias que antecederam a ECN. Neste período, entretanto, a abundância das Gammaproteobacteria, Bacilli, Enterococcaceae, Enterobacteriaceae e Veillonellaceae era diferente entre as amostras dos casos e dos controlos.
Identificar as crianças em risco
Existem assinaturas virais associadas às interações vírus-bactérias específicas que aparecem cerca de dez dias antes do início da ECN. Isto sugere o envolvimento do viroma intestinal em bebés prematuros na patogénese desta complicação. Como a geografia é um fator que pode influenciar o microbioma e o viroma, estes resultados obtidos num único hospital nos Estados Unidos precisam de ser confirmados noutras populações. Contudo, eles sugerem a possibilidade de identificação precoce de crianças com risco aumentado de desenvolvimento de ECN.