A microbiota intestinal é um novo ator nas terapias contra o cancro da próstata?
Investigadores evidenciaram a interação da microbiota intestinal com um medicamento oral usado para o tratamento do cancro da próstata, demostrando uma influência significativa de certas bactérias na resposta ao tratamento.
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Sobre este artigo
As terapias convencionais destinadas a privar o corpo de andrógenos, responsáveis pelo crescimento do cancro da próstata, nem sempre são eficazes. Neste caso, encara-se o uso de acetato de abiraterona (AA), o qual ao contrário dos outros tratamentos, é tomado por via oral. Como este tratamento é de baixa absorção, uma parcela significativa é excretada nas fezes interagindo provavelmente com a microbiota intestinal. Diversos estudos evidenciaram o papel da microbiota intestinal no desenvolvimento e progressão de certos cancros, bem como na eficácia dos tratamentos. Porém, o conhecimento sobre a implicação da microbiota intestinal no cancro da próstata permanece limitado. Assim, os investigadores procuraram demonstrar como o acetato de abiraterona (AA), muito eficaz neste tipo de câncer, resistente às terapias convencionais, tinha impacto na microbiota intestinal e se ele podia afetar a resposta ao tratamento.
A ausência de andrógenos induz a remodelação da microbiota intestinal
Para esse efeito, os investigadores examinaram a composição da microbiota intestinal sequenciando o ARN ribossómico 16S de 68 pacientes com cancro da próstata, divididos em três grupos:
- pacientes sem tratamento (n=33);
- pacientes tratados com terapia convencional (n=21);
- pacientes tratados com terapia convencional + o AA (n=14);
A privação de andrógenos por terapia convencional, isolada ou adicionada ao AA, levou a uma redução significativa das Corynebacterium, bactérias pró-inflamatórias que metabolizam os andrógenos, como a testosterona, comparativamente ao grupo de controlo. A toma de AA induzia um enriquecimento significativo de Akkermansia muciniphila, acompanhado por um aumento na produção de vitamina K2, conhecida pelas suas propriedades antitumorais.
O papel fundamental de A. muciniphila na resposta aos tratamentos
Esses resultados foram confirmados num modelo intestinal, excluindo assim a possibilidade de uma implicação imunológica. As investigações revelam que o AA seria metabolizado pelas bactérias intestinais. Os componentes resultantes dessa degradação teriam um impacto seletivo na microbiota intestinal caracterizado pelo crescimento de A. muciniphila. Esta espécie conhecida pelos seus benefícios para a saúde e pelas suas propriedades anti-inflamatórias, é suposta desempenhar um papel fundamental na resposta ao tratamento de acordo com os autores. Aliás, trabalhos anteriores já tinham evidenciado o seu papel benéfico na resposta aos tratamentos de certas imunoterapias. Este estudo põe em evidência o papel fundamental da microbiota intestinal na resposta à terapia anticancerígena oral, por meio de mecanismos que ainda devem ser analisados. Explorar as interações medicamento-microbiota poderia melhorar os resultados do tratamento de inúmeras doenças.