Haverá uma relação entre a microbiota intestinal e os metabolitos circulantes?
Muitos dos metabolitos circulantes, tais como as lipoproteínas HDL e VLDL, os corpos cetónicos, aminoácidos e marcadores de inflamação, parecem estar correlacionados com a composição da microbiota intestinal.
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Sobre este artigo
O papel da microbiota intestinal já foi demonstrado em várias condições médicas (obesidade, diabetes, etc.): os metabolitos e outros sinais microbianos podem afetar a quantidade de lípidos circulantes, incluindo os triglicéridos e a HDL. Vários estudos estabeleceram também uma ligação entre a microbiota intestinal e vários aminoácidos implicados na diabetes e nas doenças cardiovasculares. Tendo em conta o progresso da área da metabolómica, uma equipa avaliou a relação entre a microbiota intestinal e os metabolitos circulantes. Esta avaliação foi realizada através da caracterização do metaboloma (todos os metabolitos) de 2309 indivíduos de 2 estudos prospetivos cohort (Rotterdam e LifeLines-DEEP). Desta caraterização emergiu um total de 32 grupos bacterianos que foram associados a determinados metabolitos circulantes depois do ajuste para idade, sexo, índice de massa corporal (IMC) e medicação (incluindo agentes de redução lipídica, inibidores de bombas de protões e metformina).
A microbiota e as lipoproteínas
Entre os 32 grupos taxonómicos de bactérias identificados, 18 foram associados com as partículas VLDL (associadas, por sua vez, com doenças metabólicas e cardíacas, e diabetes do tipo 2), e outros 22 com partículas de HDL (bem conhecidos devido ao seu efeito protetor), mas com diferenças dependendo do tamanho das partículas de HDL, sugerindo que esta classe de lipoproteínas é heterogénea relativamente aos seus efeitos e função metabólica (de proteção ou prejudicial).Treze grupos taxonómicos – dos quais alguns são conhecidos pela sua associação com o IMC (Christensenellaceae), outros são conhecidos pela sua associação com o metabolismo da bílis (Clostridiaceae 1), etc. – foram associados com as partículas VLDL e HDL. No entanto, esta associação pouco clara entre a microbiota intestinal e as partículas LDL e IDL* sugere a existência de diferentes relações dependendo da classe de lipoproteínas. Por último, 15 grupos bacterianos, que incluem o grupo de Ruminococcus gnavus (sinal de uma microbiota menos diversa e com maior presença em doentes com aterosclerose), foram associados com triglicéridos séricos.
Corpos cetónicos, aminoácidos, etc.
Foram também reportadas associações entre a microbiota intestinal e :
• Corpos cetónicos, nomeadamente acetatos de ácidos gordos de cadeia curta (AGCC) produzidos por bactérias coloniais que poderiam promover síndrome metabólica
• Aminoácidos, incluindo a isoleucina, associados a diabetes mellitus e às doenças cardiovasculares.
• Marcadores inflamatórios de fase aguda, nomeadamente glicoproteínas implicadas em doenças inflamatórias e no cancro e associadas com as doenças cardiovasculares.
De acordo com os autores, os potenciais mecanismos pelos quais a microbiota intestinal pode afetar a quantidade de lípidos circulantes poderá implicar a bílis e os AGCC. Se tal se confirmar, a microbiota intestinal pode ser um potencial alvo para intervenções curativas ou preventivas.
* IDL = lipoproteínas de densidade intermédia