Nutrição desportiva personalizada: o futuro está na microbiota?
Para os desportistas de elite, a busca do desempenho é constante. Assim, uma nova abordagem com base científica pretende "alimentar" a microbiota intestinal destes atletas para otimizar os seus tempos.
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Sobre este artigo
Os atletas têm uma microbiota específica?
Vários estudos analisaram de perto a microbiota de desportistas de alto nível, na tentativa de encontrarem características específicas ou mesmo de identificarem bactérias associadas ao seu desempenho. De um modo geral, a flora dos
(sidenote:
Atleta
Praticante de um desporto de competição que procura atingir um elevado nível de desempenho através do treino
Fonte: Rousseau AS. Nutrition, santé et performance du sportif d’endurance / Nutrition, health and performance of endurance athletes. Cahiers de Nutrition et Diététique. 2022 eb ;57(1) : 78-94
)
parece efetivamente ser diferente.
A primeira diferença é que a microbiota intestinal dos atletas é mais diversificada. Por exemplo, um estudo com jogadores de râguebi mostra que a microbiota intestinal destes atletas contém um maior número de espécies bacterianas. Ora, a aptidão cardiorrespiratória dos atletas, e mais especificamente o seu consumo máximo de oxigénio ou (sidenote: VO2max Este critério, que é específico para cada atleta, representa a quantidade máxima de oxigénio que o organismo é capaz de extrair do ar e depois transportar para as fibras musculares durante o exercício para satisfazer as suas necessidades. Quanto mais elevado for o VO2max, melhor poderá ser o desempenho; se for fraco, a capacidade desportiva será limitada e será necessário um treino específico para o reforçar. ) , parecem estar ligados à diversidade desta microbiota intestinal. 2
A microbiota intestinal
Segunda diferença: a microbiota dos desportistas é mais rica em bactérias benéficas (Bifidobacterium, Lactobacilli e Akkermansia) e produz mais ácidos gordos de cadeia curta ( (sidenote: Ácidos Gordos de Cadeia Curta (AGCC) Os Ácidos Gordos de Cadeia Curta são uma fonte de energia (carburante) das células do indivíduo, interagem com o sistema imunitário e estão envolvidos na comunicação entre o intestino e o cérebro. Silva YP, Bernardi A, Frozza RL. The Role of Short-Chain Fatty Acids From Gut Microbiota in Gut-Brain Communication. Front Endocrinol (Lausanne). 2020;11:25. ) ) 3,4. No entanto, existem grandes diferenças entre os desportos e entre os atletas que os praticam. Assim, na microbiota dos jogadores de râguebi acima mencionados, há vários taxa bacterianos que estão sobre-representados, a começar pela bactéria Akkermansiaceae. 1 Nos maratonistas e nos esquiadores de fundo, verificou-se que a flora intestinal era mais rica em bactérias da grande família das Firmicutes (que inclui os lactobacilos, as "bactérias boas") e mais pobre em Bacteroidetes: o resultado é uma relação F/B favorável entre estas duas famílias de bactérias, associada a um VO2max mais elevado, um fator-chave do desempenho. 5
Os grupos Firmicutes e Bacteroidetes representam conjuntamente 70% a 90% da comunidade bacteriana do nosso intestino. 8, 9
As Prevotella, bactérias associadas a um melhor desempenho físico, estão também sobre-representadas nos corredores de maratona. 5 O mesmo resultado foi obtido no caso dos ciclistas profissionais americanos: a abundância de Prevotella aumentou com o número de horas por semana dedicadas ao treino. 2
Mas a grande questão mantém-se: a microbiota específica dos atletas é a causa do seu desempenho extraordinário... ou é a consequência das suas atividades desportivas muito intensas, combinadas com uma dieta muito específica? Será provavelmente um pouco de ambas, com a ideia de um círculo virtuoso.
Modulação da microbiota intestinal, estratégia de eleição para melhorar a saúde e o desempenho dos atletas?
Consequência direta da relação entre a microbiota intestinal e o desempenho desportivo é a tentação de os atletas otimizarem a sua flora intestinal, quer através da dieta (para nutrirem as suas bactérias), quer através de probióticos. 6
Em termos de alimentação,a investigação começa a debruçar-se sobre o assunto e estuda, nomeadamente, os benefícios de uma dieta rica em fibras para o reforço da microbiota dos desportistas e da sua saúde digestiva. 3 É que os atletas costumam ser mais adeptos das massas do que das lentilhas e saladas. No entanto, a respetiva ingestão de fibras deve ser proporcional ao seu elevado consumo de calorias: 14 g de fibra /1000 kcal /dia para promoverem a sua saúde e o desempenho gastrointestinal. No entanto, desde que sejam evitadas imediatamente antes ou depois do exercício físico, para se evitar acrescentar o efeito das fibras (inchaço, trânsito intestinal acelerado) a um sistema digestivo já de si sobrecarregado. 3
Quanto aos probióticos, a variabilidade das estirpes, das doses, dos desportos e dos atletas complica as conclusões. 3 No entanto, os estudos científicos referem efeitos benéficos para a saúde em geral, nomeadamente para a imunidade. Nas nadadoras, um iogurte probiótico contendo Lactobacillus acidophilus spp., Lactobacillus delbrueckii bulgaricus, Bifidobacterium bifidum e Streptococcus salivarus thermophilus, limita os episódios de infeções respiratórias após a competição; em jogadores de râguebi, um probiótico com várias estirpes reduziu também a frequência das perturbações do trato respiratório superior e dos sintomas gastrointestinais; e há outros estudos que revelam uma melhoria da função imunitária. 6
Probióticos, o que é isso?
Os probióticos são “microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem um benefício à saúde do hospedeiro.” 10, 11 Por outras palavras, são bactérias ou leveduras na sua melhor forma que oferecem benefícios para a saúde de quem as consome, desde que não as consuma em excesso ou insuficientemente!
Os microrganismos mais utilizados como probióticos são:
- bactérias oriundas da microbiota humana ou de produtos lácteos fermentados, nomeadamente os lactobacilos (Lactobacillus) e as bifidobactérias (Bifidobacterium). 12, 13
- leveduras como a Saccharomyces boulardii, originária da pele das lichias. 12, 14
Pelo lado do desempenho, algumas experiências realizadas com ratos, parecem prometedoras. Eis o exemplo mais marcante: a bactéria Veillonella atypica, associada ao desempenho dos maratonistas, que transforma um produto residual dos respetivos músculos (lactato) num combustível (propionato).
Basta fazer deslizar algumas para o trato digestivo de ratos para estes se tornarem nas novas estrelas do tapete rolante. 7 Pelo contrário, os roedores alimentados com uma dieta desprovida de fibras fermentáveis pelas bactérias arrastam-se lamentavelmente nos seus tapetes de exercício e perdem massa muscular. 4 No entanto, estes são apenas resultados iniciais relativos a roedores: são ainda necessários estudos no ser humano para os confirmar.