Gonorreia: lactobacilos ao resgate?
As mulheres não são todas iguais perante a gonorreia: algumas não sentem qualquer sintoma, enquanto outras percebem à sua custa por que é que essa infeção também é designada esquentamento. Uma diferença, ou até mesmo uma injustiça, que pode estar ligada à sua microbiota vaginal.
- Descubra as microbiotas
- Microbiota e doenças associadas
- Aja sobre a sua microbiota
- Publicações
- Sobre o Instituto
Acesso a profissionais de saúde
Encontre aqui o seu espaço dedicadoen_sources_title
en_sources_text_start en_sources_text_end
Sobre este artigo
37% Apenas 1 em cada 3 mulheres sabe que as bactérias da microbiota vaginal são seguras para a vagina das mulheres
Esquentamento, uretrite, gonorreia, blenorragia: não faltam sinónimos quando se fala da gonorreia, uma infeção sexualmente transmissível (IST). Este problema de saúde pública afeta ambos os sexos. Nas mulheres, pode permanecer impercetível (mais de 50% das mulheres serão assintomáticas) ou induzir sintomas como corrimento purulento, dor no baixo ventre e ardência ao urinar. Mas não se conhecem os motivos dessas diferenças.
Infeção sexualmente transmissível (IST)
As IST são transmitidas principalmente mediante contacto cutâneo durante as relações sexuais vaginais, anais ou orais, mas também de mãe para filho (gravidez, parto, amamentação). É possível ser-se portador da doença sem se apresentar sintomas.
De entre todas as bactérias, vírus e parasitas sexualmente transmissíveis, oito dos mesmos são os principais responsáveis pelas doenças sexualmente transmissíveis.
Quatro são passíveis de cura:
- sífilis,
- gonorreia,
- clamídia,
- tricomoníase.
Quatro são infeções virais incuráveis:
- hepatite B,
- vírus do herpes (vírus de herpes simples ou HSV),
- VIH,
- papilomavírus humano (PVH).
(sidenote: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/sexually-transmitted-infections-(stis) )
A culpa é da Neisseria gonorrhoeae
A gonorreia é causada pela infeção por uma bactéria chamada Neisseria gonorrhoeae, que, contudo, se mantém muito discreta: representará, de acordo com um estudo recente, apenas 0,24% das bactérias presentes na vagina e no colo do útero das mulheres infetadas (e, claro, permanece ausente nas mulheres não infetadas). Quanto à presença de outras bactérias na vagina dessas mulheres, bom, de facto, tudo depende dos sintomas.
Mais de 50 % Mais de 50% das infeções do trato genital inferior feminino são assintomáticas.
Gonorreia: uma questão de lactobacilos?
Nas mulheres infetadas mas sem qualquer sintoma, os lactobacilos assumirão o comando. Essas bactérias em forma de bastão, bem conhecidas dos entusiastas do iogurte, representarão mais de 92% das bactérias que se encontram no colo do útero e na vagina das mulheres em causa. O que resultará numa acidificação adequeda da vagina que afastará os outros microrganismos.
E nas mulheres infetadas que apresentam sintomas? Os lactobacilos surgirão em quantidade reduzida, representando menos de um quarto das bactérias presentes (21,2%). Em substituição desses aliados, haverá uma grande diversidade e heterogeneidade de microrganismos presentes. No entanto, regra geral, tal retrato de família não constitui bom sinal para a microbiota vaginal: contrariamente a outras microbiotas do corpo (intestinal, cutânea, etc.), ela está de boa saúde quando serve de coutada aos lactobacilos. Por outro lado, as bactérias alojadas na vagina das mulheres sintomáticas revelam-se pouco recomendáveis e estão frequentemente associadas àquilo que chamamos vaginose bacteriana.
82,4 milhões Em 2020, registaram-se 82,4 milhões de novos casos de gonorreia em pessoas entre os 15 e os 49 anos em todo o mundo (OMS)
(sidenote: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/multi-drug-resistant-gonorrhoea )
Uso sistemático do preservativo
Daí até se dizer que os lactobacilos protegem as mulheres contra os sintomas da gonorreia vai apenas um passo… que, no entanto, ainda não podemos dar. Enquanto se aguardam estudos com um número maior de mulheres para se confirmar a observação, resta-nos, portanto, continuar a recordar a importância do uso sistemático do preservativo: em todo o mundo, estima-se que tenham surgido aproximadamente 87 milhões de novas infeções gonocócicas na faixa etária entre os 15 e os 49 anos em 2016, e os casos estão a aumentar em muitos países.