HIV, afeções bucais e microbiota oral: ligações a explorar
Estomatites, gengivites, cáries, doenças periodontais... Mesmo sob tratamento antirretroviral, as pessoas que vivem com o VIH estão particularmente expostas ao risco de doenças que afetam a cavidade oral. As perturbações imunitárias que conduzem a essa vulnerabilidade não estão todas esclarecidas, mas parece haver o envolvimento de uma inflamação persistente e de um desequilíbrio da microbiota oral.
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Sobre este artigo
Por ocasião do Dia Mundial de luta contra a SIDA, a 1 de dezembro, lembremo-nos de que o vírus da imunodeficiência humana (VIH) ataca certos glóbulos brancos, os linfócitos T CD4. O sistema imunitário enfraquecido permite o desenvolvimento de infeções oportunistas, vários tipos de cancro e outras doenças dos órgãos. Hoje, graças à terapia antirretroviral, o número de linfócitos T CD4 pode ser restaurado e a carga viral reduzida para níveis indetetáveis. Infelizmente, no entanto, nem todos os efeitos nocivos da infeção desaparecem. As inflamações que afetam a cavidade oral são, portanto, particularmente vulgares em pessoas que vivem com HIV e costumam estar associadas a um desequilíbrio da microbiótico oral.
Desequilíbrio intestinal envolvido na resposta imunítaria em caso de infeção
Aquando da infeção pelo VIH, os linfócitos T CD4 ativam-se e posteriormente esgotam-se na luta contra o vírus; o vírus termina por destruir os linfócitos ou por impedir que eles funcionem adequadamente. Além disso, a microbiota intestinal desequilibra-se, o que se designa por disbiose: certas bactérias benéficas (como os
(sidenote:
Lactobacilos
Bactérias em forma de bastonete cuja característica principal é a de produzirem ácido láctico. É por essa razão que se fala em “bactérias do ácido láctico”.
Estas bactérias estão presentes no ser humano ao nível das microbiotas oral, vaginal e intestinal, mas também nas plantas ou nos animais. Podem ser consumidas nos produtos fermentados: em produtos lácteos, como o iogurte e alguns queijos, e também em outros tipos de alimentos fermentados – picles, chucrute, etc..
Os lactobacilos são também consumidos em produtos que contêm probióticos, com algumas espécies a serem conhecidas pelas suas propriedades benéficas.
W. H. Holzapfel et B. J. Wood, The Genera of Lactic Acid Bacteria, 2, Springer-Verlag, 1st ed. 1995 (2012), 411 p. « The genus Lactobacillus par W. P. Hammes, R. F. Vogel
Tannock GW. A special fondness for lactobacilli. Appl Environ Microbiol. 2004 Jun;70(6):3189-94.
Smith TJ, Rigassio-Radler D, Denmark R, et al. Effect of Lactobacillus rhamnosus LGG® and Bifidobacterium animalis ssp. lactis BB-12® on health-related quality of life in college students affected by upper respiratory infections. Br J Nutr. 2013 Jun;109(11):1999-2007.
)
) diminuem em favor de outras espécies, incluindo certos agentes
(sidenote:
Agente patogénico
Um agente patogénico é um microrganismo que provoca ou pode provocar uma doença.
Pirofski LA, Casadevall A. Q and A: What is a pathogen? A question that begs the point. BMC Biol. 2012 Jan 31;10:6.
)
. A infeção agride também a mucosa intestinal, que perde sua impermeabilidade e libera seu conteúdo, causando uma inflamação que se espalha por todo o corpo e danifica órgãos. Surge assim um círculo vicioso, uma vez que essa inflamação vai promover a proliferação do vírus! A terapia antirretroviral precoce permite preservar a integridade da mucosa intestinal e o equilíbrio da microbiota intestinal, mas infelizmente não previne a continuação da inflamação, aumentando provavelmente o risco de afeções orais.
VIH e afeções orais: primeiras hipóteses e soluções
Porque é que a infeção pelo VIH, mesmo controlada através de tratamento, enfraquece as mucosas orais e aumenta o risco de doenças da boca? Talvez por alterar a produção na saliva de imunoglobulinas A secretoras, anticorpos que são considerados a principal linha de defesa contra os agentes patogénicos orais. Ou também porque a perda de linfócitos T CD4, como acontece na microbiota intestinal, induz a inflamação e a disbiose oral. Mas há poucos estudos que se têm concentrado na análise da composição da microbiota oral das pessoas infetadas com o VIH e os respetivos resultados nem sempre coincidem. Além disso, é atualmente muito difícil avaliar o impacto nas comunidades bacterianas orais do próprio vírus face ao tratamento.
(sidenote: Uma revisão cientifica publicada em setembro de 2021 faz o ponto da situação. ) . Delas depende a possibilidade de desenvolverem terapias para alívio dos sintomas orais dolorosos das pessoas que vivem com o VIH. Já foi proposta a solução «probióticos» para a prevenção das afeções da boca, havendo equipas a trabalhar, nomeadamente, sobre uma espécie bacteriana que origina cáries, visando torná-la menos patogénica. Agora cabe aos cientistas testar a eficácia das cepas probióticas e dos agentes antimicrobianos nas funções imunitárias orais, através de estudos clínicos rigorosos.
Coker, Modupe O et al. “HIV-Associated Interactions Between Oral Microbiota and Mucosal Immune Cells: Knowledge Gaps and Future Directions.” Frontiers in immunology vol. 12 676669. 20 Sep. 2021.