Quando determinadas bactérias vaginais "marcam na roupa interior" a progressão do cancro do colo do útero
A composição da microbiota do colo do útero altera-se de forma característica no caso de lesões pré-cancerígenas evolutivas. De tal forma que a presença de determinadas bactérias pode levar à suspeita de lesões graves ou até de cancro.
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Sobre este artigo
O cancro do colo do útero é o terceiro cancro feminino mais frequente a nível mundial (2.o nas mulheres dos 15 aos 44 anos) e é causado pela persistência do famoso vírus do papiloma humano (HPV), um inimigo público perseguido ativamente nas citologias. De forma geral, o surgimento de um possível cancro é precedido por uma longa fase pré-cancerígena com lesões evolutivas. Os investigadores apresentaram a hipótese de a microbiota vaginal ser um fator influenciador do risco de contaminação pelo HPV, da sua persistência e do desenvolvimento das lesões.
Menos lactobacilos
Ao analisar a microbiota do muco cervical de 94 mulheres com idades compreendidas entre os 18 e os 52 anos, os investigadores provaram que este difere consoante a fase da doença. Quanto mais avançadas estiverem as lesões, maior é a diversidade bacteriana na flora do colo do útero de cada mulher e menor é a predominância dos lactobacilos (bactérias em forma de palitos) que são substituídos por outras bactérias. Contudo, contrariamente à microbiota intestinal, a microbiota vaginal está equilibrada quando apresenta uma diversidade reduzida e uma grande predominância de lactobacilos (> 70% da comunidade bacteriana das mulheres saudáveis). No caso das mulheres com cancro do colo do útero acontece o contrário: máxima diversidade e perda de posição dominante dos lactobacilos.
Microbiota vaginal está equilibrada quando apresenta uma diversidade reduzida!
Marcadores de lesões avançadas ou de cancro
Segunda observação da equipa: a microbiota vaginal das mulheres com lesões de grau elevado, ou até mesmo cancro, distingue-se cada vez mais daquela das mulheres saudáveis em matéria de leque de bactérias presentes. A existência de novas espécies bacterianas (Porphyromonas, Fusobacterium, Prevotella e Campylobacter) parece estar associada à presença de um cancro cervical, enquanto outras bactérias (Sneathia) indicam a presença de lesões de grau elevado. São as lesões que desequilibram a flora, ou é o desequilíbrio da flora que promove o desenvolvimento de lesões? A relação de causalidade precisa de maior aprofundamento.
De acordo com os investigadores, a presença destas bactérias pode, no futuro, ser analisada como marcador de progressão da doença. A análise da microbiota cervical pode, assim, fazer parte do diagnóstico, ou até mesmo da prevenção e tratamento do cancro do colo do útero. Enquanto esperamos, as citologias regulares continuam a ser a forma de detetar possíveis lesões o mais cedo possível.
Wu S, Ding X, Kong Y et al. The feature of cervical microbiota associated with the progression of cervical cancer among reproductive females. Gynecol Oncol. 2021 Sep 6:S0090-8258(21)01314-7.