Síndrome do Intestino Irritável (SII), microbiota intestinal e depressão: um trio para se compreender melhor a doença.
Haverá entre 4 a 10%1,2 da população mundial afetada pela Síndrome do Intestino Irritável (SII), que continua a ser uma doença cujos mecanismos fisiopatológicos se mantêm por explicar. A participação da microbiota intestinal já foi estudada sem necessariamente proporcionar correlações firmes. Uma equipa de investigadores chineses pretendeu saber mais…
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Sobre este artigo
A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é um conjunto funcional de sintomas gastrointestinais, apresentando a depressão como uma das comorbilidades psiquiátricas mais frequentes. Um estudo multiómico veio recentemente esclarecer o papel da microbiota intestinal e dos seus metabolitos na SII e na depressão associada.
52% Apenas 1 em cada 2 pessoas que sofreram de uma patologia digestiva envolvendo a microbiota, associa os dois
O referido estudo3 abrangeu 431 pacientes de 2 coortes :
- uma de descoberta (n=330 pacientes, 264 vítimas de SII e 66 controlos)
- e outra de validação (n=101 pacientes, incluindo 86 SII e 15 controlos).
Foram em seguida realizadas análises metagenómicas e metabolómicas em amostras de fezes e de soro para identificar potenciais biomarcadores da doença.
4 a 10% Haverá entre 4 a 10% da população mundial afetada pela Síndroma do Intestino Irritável (SII)
Metabolitos séricos como potenciais marcadores de SII
A análise das fezes revelou apenas uma disbiose moderada. A composição da microbiota fecal, tal como os metabolitos fecais, não parecem permitir distinguir os pacientes com SII dos indivíduos saudáveis.
Em contrapartida, os metabolitos séricos identificados nos pacientes da doença permitem distingui-los com um forte nível de precisão relativamente aos indivíduos saudáveis. Um total de 726 metabolitos séricos foram assim identificados (contra apenas 8 metabolitos fecais), e entre eles um grupo de ácidos gordos acil-CoA enriquecidos nos pacientes com SII.
1 pessoa em cada 10 Embora as taxas de prevalência da SII pareçam variar de país para país, calcula-se que a doença afete aproximadamente 1 em cada 10 pessoas em todo o mundo.
Bactérias intestinais fortemente associadas aos metabolitos fecais
Foram também encontradas numerosas associações (522) entre metabolitos fecais e bactérias intestinais. Em particular, há 3 espécies (Odoribacter splanchnicus, Escherichia coli e Ruminococcus gnavus) que estão fortemente associadas a uma reduzida abundância de ácido dihidropteróico, um intermediário do ácido fólico, que por sua vez surge em quantidades muito baixas nos pacientes com SII. Além disso, entre os marcadores séricos mais significativos nos pacientes com SII surgem os ácidos gordos acil-CoA, sugerindo uma desregulação do metabolismo dos ácidos gordos na pessoas portadoras de SII.
A desregulação do metabolismo do triptofano e da serotonina correlaciona-se com a gravidade da depressão
Os resultados sugerem uma relação entre o metabolismo do triptofano e da serotonina e a comorbilidade da depressão na SII. Algumas espécies, como Clostridium nexile ou Roseburia inulinivorans, surgem sobre-representadas nos pacientes com SII vítimas de depressão, e associadas à presença no soro de certos metabolitos de triptofano. A via de síntese do L-triptofano também se apresenta fortemente ligada à gravidade da depressão.
À semelhança de publicações recentes, este novo estudo parece confirmar o papel essencial desempenhado pela microbiota intestinal na SII. Os resultados obtidos levantam gradualmente o véu sobre mecanismos fisiopatológicos ainda não completamente elucidados e abrem caminho a novas orientações terapêuticas visando a microbiota e/ou os seus metabolitos.
Assunto a acompanhar com o maior interesse.
2. Sperber AD. Epidemiology and Burden of Irritable Bowel Syndrome: An International Perspective. Gastroenterol Clin North Am. 2021 Sep;50(3):489-503.
Dependendo da região geográfica e dos critérios utilizados para a avaliação.