Microbiota urinária: em direção a uma nova ferramenta de prognóstico do cancro da próstata?
Um estudo no European Urology Oncology1 revela que as bactérias da microbiota prostata-urinária, das quais algumas são desconhecidas até agora, estão associadas a um risco mais elevado de cancro agressivo da próstata. Se a sua função enquanto marcador de agressividade tumoral for confirmada, elas poderia revolucionar o tratamento da doença.
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Sobre este artigo
Sendo o segundo cancro mais frequente no homem em todo o mundo, o cancro da próstata também é o quinto mais mortífero, com mais de 375.000 óbitos em 20202. Apesar destes números, o cancro de próstata caracteriza-se por uma evolução muito heterogénea (nos Estados Unidos, uma sobrevivência estimada de 90% aos 5 anos1).
Hoje, é a agressividade do tumor que indica a direção das decisões de tratamento. Ela é avaliada, entre outras, pela pontuação histopatológica de Gleason após uma biópsia, um procedimento invasivo. A identificação de marcadores urinários permitem, em combinação com outros dados clínicos, detetar as formas agressivas da doença, facto que provoca um grande interesse por parte dos clínicos.
2º cancro mais frequente no homem
5º cancro mais mortífero em todo o mundo
A microbiota urinária desvendada pelas imagens moleculares e a genómica
Estudos já haviam revelado a relação entre o cancro do próstata e um perfil microbiano particular, como também diferenças entre as comunidades de bactérias prostáticas segundo a pontuação de Gleason. Foi, então, para o microbioma prostatourinário, o qual ainda não está completamente caracterizado, que os investigadores britânicos se viraram para explorar o seu potencial prognóstico1. Graças a ferramentas como a microscopia de fluorescência, a cultura bacteriana anaeróbica e a sequenciação genómica, eles analisaram amostras de urina e de secreção de tecido prostático colhidas de mais de 600 indivíduos examinados no hospital por suspeita de cancro da próstata ou hematúria. Os indivíduos foram divididos em grupos clínicos e os doentes diagnosticados com cancro da próstata classificados de acordo com a pontuação de d'Amico.
Bactérias anaeróbias associadas à progressão de tumores
Os investigadores encontraram uma associação significativa entre a presença de bactérias na urina e um risco aumentado de cancro da próstata. Eles também descobriram quatro novas espécies de bactérias nas amostras urinárias, secreções prostáticas e nos tecidos. Elas pertenciam ao filo dos Firmicutes (Fenollariasp. nov. e Peptoniphilus sp. nov), das Actinobacterias (Varibaculum sp. nov) e das Bacteroidetes (Porphyromonas sp. nov). Cinco espécies anaeróbicas, incluindo três entre estas novas bactérias, estavam associadas a um risco multiplicado por 2,6 de evolução desfavorável da doença e poderiam servir de potenciais biomarcadores de prognóstico
Um potencial prognóstico ou mesmo terapêutico, que estimula a continuação dos trabalhos
Os investigadores chegaram a uma hipótese: estas bactérias anaeróbias atuariam em certos processos metabólicos.
Por exemplo, a conversão do colesterol em androstenediona, um precursor da testosterona que estimula o crescimento de tumores, ou a degradação do citrato, um conhecido marcador da agressividade do cancro da próstata. Mas uma relação causal entre a sobrerepresentação destas bactérias nos doentes e a progressão da doença não pode ser estabelecida nesta fase.
Portanto, devem ser empreendidas novas investigações neste sentido: se esta ligação for confirmada, poderá ser desenvolvido um teste de prognóstico de urina muito prático para a clínica. Melhor ainda, tratamentos antibióticos específicos poderiam controlar ou mesmo impedir a progressão da doença.
1. Hurst R, Meader E, Gihawi A, et al. Microbiomes of Urine and the Prostate Are Linked to Human Prostate Cancer Risk Groups. Eur Urol Oncol. 2022 Apr 18:S2588-9311(22)00056-6.
3. Survival Rates for Prostate Cancer_American Cancer Society