Microbiota intestinal nos idosos e imunoterapia: uma potente aliança anticancerosa
O transplante fecal aumenta a eficácia da imunoterapia... sobretudo se os dadores forem idosos e estiverem de boa saúde! Este resultado poderá alterar as práticas numa altura em que se privilegiam os jovens dadores.
Área para o público geral
Encontre aqui o seu espaço dedicadoen_sources_title
en_sources_text_start en_sources_text_end
Sobre este artigo
Embora a imunoterapia tenha revolucionado o tratamento do cancro, a imunoterapia tem uma eficácia muito variável de um paciente para outro. A microbiota intestinal parece ter um papel importante no resultado: pensa-se que a sua composição modula a resposta imunitária contra o tumor. Foram também experimentadas várias manipulações da flora intestinal nos últimos anos, incluindo o transplante de microbiota fecal (TMF). Um estudo chinês 1 mostra, de forma contraintuitiva, que a microbiota de dadores idosos pode revelar-se particularmente benéfica para a resposta à imunoterapia.
1/6 O cancro é uma das principais causas de morte no mundo, sendo responsável por quase 10 milhões de mortes em 2020, o que corresponde a quase um em cada seis óbitos. ²
Melhores resultados nos pacientes idosos
Para chegarem a esta conclusão, os investigadores começaram por efetuar uma meta-análise de 25 estudos, abrangendo 2.985 doentes. Conclusão: as pessoas idosas que sofrem de cancro respondem melhor à imunoterapia e têm uma maior esperança de vida após o tratamento. Uma regressão revela mesmo uma relação quase linear entre a idade e a sobrevivência livre de progressão. Há um ponto de viragem, os 60 anos: antes desta idade, quanto mais jovem se for, piores serão os resultados; depois desta idade, com o passar dos anos, os resultados serão cada vez melhores do que a média.
A pista da imunidade
Para a compreensão dos mecanismos subjacentes, os investigadores debruçaram-se sobre o sistema imunitário, que é o alvo da imunoterapia. Demonstraram assim que o envelhecimento é acompanhado por um aumento da disfunção imunitária e por aquilo que descrevem como uma depleção dos linfócitos T ao longo dos anos. Ora, estas alterações dos linfócitos T associadas à idade poderão ser mediadas pela microbiota intestinal: um TMF de dadores melhora a resposta à imunoterapia, independentemente da idade do recetor.
- cancro da mama (2,26 milhões de casos)
- cancro do pulmão (2,21 milhões de casos)
- cancro colorretal (1,93 milhões de casos)
- cancro da próstata (1,41 milhões de casos)
- cancro da pele (não melanoma) (1,20 milhões de casos)
- cancro do estômago (1,09 milhões de casos)
- cancro do pulmão (1,80 milhões de óbitos)
- cancro colorretal (916.000 óbitos)
- cancro do fígado (830.000 óbitos)
- cancro do estômago (769.000 óbitos)
- cancro da mama (685.000 óbitos)
Que bactérias?
As bactérias intestinais que dão a esperança de uma melhor resposta ao tratamento? Um (sidenote: Enterótipo Um determinado tipo de composição bacteriana intestinal específica nos seres humanos, à semelhança dos grupos sanguíneos. Foram identificados três tipos distintos nos seres humanos, caracterizados pela predominância de Bacteroides, Prevotella ou Ruminococcus. ) que tende a tornar-se mais rico com a idade, caracterizado por Bacteroides, Clostridiales, Bilophila e Faecalicatena.
Uma série de experiências num modelo de ratinho confirma o seu potencial: um transplante fecal deste enterótipo específico, quer provenha de um dador idoso ou de um dador jovem (os jovens também possuem este enterótipo, mas em menor abundância), modifica a microbiota intestinal dos ratinhos recetores e melhora a sua resposta à imunoterapia (o tumor cresce menos em peso e volume). Como? Reforçando a citotoxicidade dos linfócitos T.
Estas descobertas abrem caminho à personalização das estratégias de imunoterapia contra o cancro em função do perfil da microbiota intestinal e salientam a importância de se privilegiar o enterótipo específico dos idosos saudáveis em caso de TMF.