Microbiota intestinal: ainda não é "adulto" aos 5 anos?
Um estudo sueco1 demonstra que, aos 5 anos, a microbiota intestinal (MI) se aproxima da sua configuração adulta... sem, contudo, atingir a maturidade. Os esclarecimentos que nos traz sobre a dinâmica de colonização da MI sublinham a importância de defender esta contra quaisquer perturbações durante toda a infância.
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Sobre este artigo
A colonização da microbiota intestinal (MI) começa no momento do nascimento, por contacto com os microrganismos da flora vaginal da progenitora, no caso do parto vaginal, ou com os germes da pele da mãe e o ambiente, no da cesariana. Ela continua progressivamente até aos 2-3 anos, estabelecendo, de acordo com vários estudos, uma comunidade microbiana estabilizada de tipo "adulto". Mas nessa altura, será que a MI já concluiu realmente o seu amadurecimento? Investigadores suecos estudaram a dinâmica da composição da MI durante os primeiros 5 anos de vida numa coorte de 471 crianças (302 nascidas por via vaginal e 169 por cesariana). O perfil da respetiva MI foi estabelecido por sequenciação do gene do ARN ribossómico 16S em amostras fecais colhidas durante a primeira semana de vida, aos 4 meses, aos 12 meses, aos 3 anos e aos 5 anos. Foi depois comparado com o das mães e de adultos saudáveis. Principais resultados: a diversidade alfa (das espécies) nas amostras das crianças, representativa da riqueza da sua MI, continua, aos 5 anos, a ser inferior à dos adultos.
Uma maturação faseada que prossegue ao longo da infância
Ao avaliarem a prevalência e a proporção dos principais táxons a cada idade estudada, os autores observaram que a MI se desenvolveu a velocidades diferentes de criança para criança, mas seguindo trajetórias relativamente semelhantes. É entre os 4 e os 12 meses, na altura da diversificação alimentar, que a sua composição muda mais fortemente. Sofre, em especial, uma colonização por Ruminococcus gnavus, cuja presença diminui depois gradualmente a partir dos 12 meses. Alguns archaea, como Methanobrevibacter e bactérias pertencentes às Christensenellaceae, típicas da MI adulta, surgem a partir dos 12 meses e continuam a aumentar entre os 3 e os 5 anos. Esta dinâmica parece ser essencial à maturação da MI: quanto mais a MI é diversificada nas crianças, mais ela contém estes táxons "tardios" e menos R. gnavus subsistem. Ora, há estudos que já demonstraram que uma MI pouco rica e um excesso de R. gnavus estão ligados a diversas doenças (síndrome metabólica, doença cardiovascular, doença inflamatória crónica do intestino) e que a abundância em Methanobrevibacter e Christensenellaceae, entre outras, está associada com a saúde metabólica e com um menor índice de massa corporal.
Um equilíbrio a defender contra perturbações
Sem emitirem recomendações nesta fase, os autores deste estudo amplamente divulgado na imprensa sublinham, no entanto, a provável elevada sensibilidade da MI às perturbações durante a sua formação, com profundos efeitos para a saúde. Algumas das suas conclusões sobre o impacto de fatores precoces no desenvolvimento da MI são, no entanto, espantosas. A toma de antibióticos pela mãe durante a gravidez e pelo lactente durante o primeiro ano de vida não afeta a diversidade da MI ao longo do tempo. Quanto à forma de nascimento, ela parece ter um papel limitado: a diversidade da MI das crianças nascidas por cesariana é certamente inferior aos 4 meses, face ao das crianças nascidas por via vaginal, mas normaliza-se até aos 3 anos de idade. O desenvolvimento harmonioso da microbiota intestinal deve, portanto, ser preservado ao máximo, possivelmente até já depois dos 5 anos de idade, para se poder oferecer às crianças todos os ingredientes para um futuro saudável.