A terapia antibiótica profilática no peri-parto diminui os níveis de bifidobacterium no leite materno
A antibioterapia preventiva no peri-parto altera a composição bacteriana do leite materno. Os níveis de Bifidobacterium, bactérias benéficas para o desenvolvimento de recém-nascidos, são significativamente reduzidos nos primeiros dias após o parto.
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Sobre este artigo
A antibioterapia profilática é necessária para reduzir os riscos de infeção peri-parto, que são a causa de 10% das mortes maternas e estão associadas à morte de quase 1 milhão de recém-nascidos por ano, segundo a (sidenote: WHO recommendations for prevention and treatment of maternal peripartum infections- 2015 ) . No entanto, estes tratamentos estão associados a eventos adversos, incluindo alterações na microbiota materna que provavelmente irão afetar a colonização precoce da criança. Isto levou uma equipa brasileira a estudar as alterações nas populações bacterianas do leite materno, concentrando-se nas bactérias do género Bifidobacterium. Os principais representantes deste género (B. breve, B. adolescentis, B. bifidum, B. longum, e B. dentium no leite materno) são conhecidos pelos seus benefícios para o homem, principalmente pela produção de ácidos gordos de cadeia curta.
Diminuição significativa em Bifidobacterium ao 7º dia
Os investigadores compararam amostras de leite de 55 mulheres que deram à luz por parto vaginal: 21 foram tratadas preventivamente com antibióticos de largo espetro (cefazolina, penicilina ou clindamicina) e 34 mulheres não foram tratadas. Foram determinadas a concentração bacteriana total, bem como a contagem detalhada de Bifidobacterium, por qPCR em amostras colhidas nos dias 7±3 e 30±4. Os resultados não apresentaram diferenças significativas relativamente ao número total de bactérias entre os grupos de estudo. Uma explicação para este achado poderá ser a recolonização por bactérias resistentes aos antibióticos usados no estudo. Pelo contrário, foi observada uma diminuição significativa dos níveis de Bifidobacterium no leite de mulheres tratadas profilaticamente. Esta disbiose encontra-se no seu auge no dia 7±3, mas volta ao normal com o passar do tempo e é impercetível passado um mês.
Aclamados como um dos maiores avanços médicos do século XX, os antibióticos têm salvo milhões de vidas. Mas também têm impacto na nossa microbiota ao induzirem uma disbiose. Analisemos este seu papel ambivalente.
O papel ambivalente dos antibióticos
Melhoria gradual da disbiose: hipóteses
Os investigadores sugerem uma provável recolonização da microbiota intestinal, através da via entero-mamária endógena com envolvimento de células dendríticas maternas capazes de capturar bactérias comensais no lúmen. Outra hipótese: os oligossacarídeos presentes no leite materno podem servir como substrato e promover o crescimento de Bifidobacterium. Tudo o que podemos dizer com certeza é que, se a mãe está a amamentar, a antibioterapia profilática peri-parto reduz o aporte de bactérias benéficas à criança. Esta observação inicial exige que detalhemos o impacto desse déficit temporário no desenvolvimento da microbiota intestinal do recém-nascido e de funções corelacionadas, especialmente funções imunológicas e inflamatórias.
O que é a Semana Mundial de Conscientização sobre a RAM?
Todos os anos, desde 2015, a OMS organiza a Semana Mundial de Conscientização sobre a RAM (WAAW), que tem como objetivo aumentar a sensibilização para a resistência aos antimicrobianos a nível global.
Realizada entre 18 e 24 de novembro, esta campanha incentiva o público em geral, os profissionais de saúde e os decisores a utilizarem cuidadosamente os antimicrobianos, a fim de evitar o surgimento de uma maior resistência aos antimicrobianos.