Cancro pulmonar: grande influência da microbiota pulmonar
Segundo uma equipa americana é provável que a progressão das células tumorais no adenocarcinoma pulmonar seja alimentada pela disbiose da microbiota pulmonar por meio de um comprometimento da resposta imunitária local. Novos tratamentos anticancerígenos poderão ser diretamente inspirados por estes resultados.
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Sobre este artigo
O cancro pulmonar é o cancro mais letal do mundo e o adenocarcinoma pulmonar (cancro pulmonar de células pequenas) é sua forma mais comum. Como 70% dos doentes sofrem de complicações pulmonares infeciosas de origem bacteriana, um fator que piora o seu prognóstico, o papel da microbiota pulmonar na progressão da doença é um caminho de investigação em rápido crescimento.
O crescimento tumoral e a microbiota intestinal
Para avaliar a importância funcional das bactérias comensais intestinais na ocorrência e progressão do tumor, foram utilizadas duas linhas de ratinhos geneticamente modificados nos quais foi induzido um adenocarcinoma pulmona: um grupo era composto por ratinhos sem microrganismos (“germe-free” ou GF); o segundo por ratinhos livres de organismos patogénicos específicos ("Specific Pathogen Free" ou SPF). 8 a 15 semanas após a indução do tumor, os ratinhos GF pareciam estar protegidos: crescimento mais lento do tumor, menos lesões de alto grau. Além disso, a antibioterapia com quatro antibióticos (ampicilina, neomicina, metronidazol, vancomicina) administrada a ratinhos SPF entre as 2 e as 6,5 semanas após a indução interrompeu o crescimento do tumor, nos estádios inicial e avançado, e reduziu o número de lesões de alto grau.
A disbiose e as infeções locais estimulam o cancro
Os investigadores caracterizaram, de seguida, a microbiota pulmonar. Nos ratinhos que desenvolveram tumores, a microbiota pulmonar era mais abundante e menos diversificada que a de ratinhos saudáveis (superabundância de Herbaspirillum e Sphingomonadaceae). Nos ratinhos programados para desenvolver adenocarcinoma, o crescimento tumoral foi acelerado pelo transplante de bactérias super-representadas na microbiota pulmonar de ratinhos portadores do tumor. Ensaios mais detalhados em animais e humanos resultaram na seguinte hipótese: a inflamação pulmonar, associada ao adenocarcinoma e desencadeada pela microbiota local, poderá contribuir para a ativação da resposta imune local implementada por uma categoria específica de células T, denominada por células T γδ. Estas células estão altamente representadas nos tecidos tumorais e acredita-se que se diferenciam em células T γδ produtoras de mediadores pró-inflamatórios*, o que induziria a infiltração de neutrófilos promotores de tumor. As infeções pulmonares alimentariam este processo prejudicial, mantendo a disbiose local. A inativação destas células T ou dos seus mediadores surge, portanto, como um potencial alvo terapêutico para o futuro.
*IL-22 e anfiregulina