Artrite reumatóide: a microbiota intestinal é alterada desde as fases iniciais
A disbiose intestinal ocorre desde as fases iniciais da artrite reumatoide e caracteriza-se por uma diversidade microbiana reduzida, por taxas sobre ou sub-representadas e por funções genéticas alteradas.
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Sobre este artigo
A artrite reumatoide (AR) é uma doença autoimune crónica que afeta as articulações e se caracteriza por uma inflamação da membrana sinovial que atinge os ossos e as cartilagens circundantes. Desde há alguns anos, a microbiota intestinal tem sido o foco de crescente interesse da comunidade científica, que acredita estar envolvida na AR.
Disbiose observada logo na fase inicial
Enquanto os trabalhos anteriores já tinham relatado disbioses em doentes numa fase avançada da doença, uma equipa coreana concentrou-se nas fases iniciais, e exclusivamente nas mulheres, que são mais afetadas pela AR. As 29 doentes do sexo feminino incluídas no estudo estavam numa fase pré-clínica (PC, n = 17), ou com AR clinicamente visível na fase inicial (FI, n = 12), e eram DMARD-naive (DMARD = medicamentos anti-reumáticos modificadores da doença). O ADN bacteriano de amostras fecais extraídas de doentes foi comparado com o de 25 mulheres controlo saudáveis. Primeira conclusão: a microbiota dos doentes com AR caracterizou-se por uma menor diversidade bacteriana (sem qualquer diferença entre pacientes PC e FI). Além disso, foram observadas diferenças nas atuais espécies bacterianas: por exemplo, as bactérias do Bacteroidetes phylum estavam sobre-representadas nos doentes com AR, enquanto as do Actinobacteria phylum estavam sub-representadas, especialmente as do género Collinsella.
Alterações das funções genéticas
Estas diferenças na composição refletiram-se em diferenças genéticas: os genes envolvidos na síntese da ubiquinona (coenzima Q10) e da menaquinona (vitamina K2) foram mais abundantes nos controlos, enquanto os genes envolvidos no transporte e na absorção do ferro foram mais abundantes nos doentes com AR. Esta característica, que promove a absorção do ferro pelas bactérias da microbiota, poderia explicar a anemia frequentemente observada nas pessoas com AR. Finalmente, os genes que codificam a síntese de lipopolissacarídeos - moléculas encontradas na superfície de bactérias gram-negativas que atravessam a barreira intestinal e promovem a inflamação sistémica - estavam especialmente representados em doentes do sexo feminino com AR clinicamente óbvia. Este é um resultado espantoso no que diz respeito à natureza inflamatória da AR. Estudos maiores baseados em estudos complementares de sequenciação poderão especificar o papel da microbiota intestinal na AR e determinar se a disbiose é uma causa ou uma consequência da doença.