Transplante renal: a disbiose pré-operatória é um fator de risco para diabetes?

Doentes com insuficiência renal que se tornam diabéticos após o transplante poderiam ter disbiose intestinal pré-operatória, os detalhes ainda não foram esclarecidos.

Publicado em 09 Setembro 2020
Atualizado em 23 Julho 2024
Actu PRO : Greffe rénale : la dysbiose préopératoire, facteur de diabète ?

Sobre este artigo

Publicado em 09 Setembro 2020
Atualizado em 23 Julho 2024

Os doentes com insuficiência renal sofrem frequentemente de distúrbios metabólicos graves. A diabetes é a principal causa de doença renal em estádio final e subsequente transplante renal (TR), enquanto 20% dos doentes normoglicémicos anteriormente ao TR desenvolveram diabetes pós-transplante renal (DMPT) no prazo de um ano da operação. O tratamento imunossupressor feito pelos doentes após TR é largamente responsável por isso, já que se sabe que é indutor de resistência à insulina, mas isso não explica o porquê de alguns doentes serem mais resistentes ao desenvolvimento de DMPT do que outros.

Suspeita-se da microbiota intestinal

Uma equipa francesa comparou a microbiota fecal de 50 indivíduos com insuficiência renal antes e (3 a 9 meses) depois do TR. 16 indivíduos tinham diabetes tipo 2 (DMT2) já antes do transplante, 15 desenvolveram DMPT e os restantes 19 (indivíduos controlo) não eram diabéticos antes nem depois do TR. Os investigadores focaram-se em nove marcadores bacterianos* já associados a diabetes, ou a distúrbios metabólicos, em ratinhos e/ou doentes que não receberam transplante renal.

Diferenças pré e pós transplante

Antes do TR, Lactobacillus sp era detetado com menos frequência em indivíduos de controlo (60%) do que em doentes com DMPT (87,5%) ou em doentes com DMT2 pré-transplante (100%). Após o TR, a sua abundância relativa aumentou por um fator de 20 ou 25 nos grupos DMPT e DMT2, respetivamente. Por outro lado, Akkermansia muciniphila diminuiu por um fator de 2500 no grupo DMPT e 50000 no grupo DMT2. No entanto, estas alterações não foram observadas em indivíduos pós-transplantados do grupo controlo. Por último, antes do TR, a abundância relativa de Faecalibacterium prausnitzii era 30 vezes inferior em doentes com DMT2 do que nos do grupo controlo.

A disbiose pré-transplante é responsável por DMPT?

As conclusões dos autores? A disbiose antes do TR (caraterizada, entre outras coisas, pela presença de lactobacilos) pode predispor os doentes ao desenvolvimento de DMPT, no seguimento do consumo de fármacos imunossupressores que favorecem o seu desenvolvimento. Estudos prospetivos em larga escala, que não se limitem aos nove marcadores bacterianos considerados aqui, tornarão possível descrever em maior detalhe o papel da microbiota intestinal no desenvolvimento de DMPT.

* Rácio Firmicutes/Bacteroidetes, grupo Bacteroides-Prevotella, Lactobacilos, Bifidobacteria, Akkermansia muciniphila, Faecalibacterium prausnitzii, Escherichia coli, Clostridium coccoides e Clostridium leptum.