Será a microbiota intestinal um fator de risco principal do aneurisma intracraniano?
Ensaios não clínicos parecem mostrar que a microbiota intestinal pode afetar diretamente a fisiopatologia do aneurisma intracraniano. Como? Através da modulação da inflamação.
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Sobre este artigo
O aneurisma intracraniano ocorre em 2 a 6% da população mundial. Algumas bactérias podem ter um papel protetor nesta condição e outras um papel prejudicial. Isto poderia explicar a razão pela qual os fatores ambientais (dieta, estilo de vida, atividade física, tabaco...) que modulam a microbiota possam ter um impacto maior no risco de ter um aneurisma, do que os fatores genéticos.
Aneurisma induzido em dois tipos de ratinhos
Como é que os investigadores chegaram a esta conclusão? Ao induzir um aneurisma intracraniano em ratinhos através da injeção de elastase, uma enzima que degrada as paredes das artérias, no líquido cefalorraquidiano. Num primeiro ensaio, um grupo de ratinhos recebeu um cocktail de antibióticos orais (vancomicina, metronidazol, ampicilina, neomicina) três semanas antes da injeção da elastase, e até o final do ensaio, ou seja, três semanas após a injeção. Objetivo: destruir a sua microbiota intestinal. Entretanto, um grupo controlo não recebeu nada. Num segundo ensaio, a administração de antibióticos foi interrompida um dia antes da indução do aneurisma, a fim de excluir qualquer efeito direto dos antibióticos na incidência do aneurisma.
Redução abrupta da taxa de incidência
Os resultados são indiscutíveis: em três semanas após a injeção de elastase, apenas 6% dos ratinhos tratados com antibióticos sofreram um aneurisma, em comparação com 83% em ratinhos com uma microbiota intestinal inalterada. Mesmo quando os antibióticos foram retirados no dia anterior à injeção (segundo ensaio), a incidência do aneurisma foi significativamente menor: 28% dos casos vs. 86% nos de controlo. Além disso, a inflamação foi reduzida em ratinhos tratados com antibióticos: menos macrófagos e menos marcadores inflamatórios. Estes resultados sugerem que a microbiota intestinal contribui para a fisiopatologia do aneurisma através da modulação da inflamação. É de notar que a supressão total da microbiota é uma construção artificial, portanto, pode-se apenas concluir que a microbiota intestinal está envolvida neste processo, mas não pode ser avaliado se desempenha um papel benéfico ou prejudicial.
Microbiota, um potencial biomarcador para o risco de desenvolvimento de um aneurisma?
A microbiota intestinal pode afetar diretamente a fisiopatologia do aneurisma intracraniano; e do ponto de vista clínico, o seu perfil poderá ser um biomarcador para os efeitos combinados dos fatores ambientais. No entanto, não devemos tirar conclusões precipitadas. Ainda é necessária uma análise comparativa da microbiota intestinal humana de indivíduos com e sem aneurisma intracraniano, para identificar a contribuição da microbiota para a fisiopatologia do aneurisma intracraniano.