O eixo intestino-pulmão nas infeções respiratórias virais
Por Dr Genelle Healey
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Curiosamente, a microbiota em ambos os locais do tecido parece ser perturbada durante as infeções respiratórias, reforçando a teoria segundo a qual todos os locais da mucosa estão interligados e o eixo intestino-pulmão é bidirecional.1 As bactérias intestinais e os respetivos fragmentos, bem como os ácidos gordos de cadeia curta, podem deslocar-se através da barreira intestinal e viajar ao longo do sistema linfático mesentérico para alcançar a circulação sistémica e modular as células imunes do pulmão.11 Durante as infeções respiratórias por influenza (gripe), a microbiota pulmonar e as funções imunitárias são alteradas, observando-se também uma disbiose intestinal, o que pode explicar os sintomas semelhantes aos de gastroenterite normalmente associados (figura 7A).10
FIGURA 7: Eixo intestino-pulmão durante infeção respiratória viral (A) e modelo de modulação da microbiota mediante o uso de probióticos (B).
Adaptado de Dumas A et al, 20182
Os probióticos podem ser úteis na recuperação de um estado saudável (homeostase da microbiota, controlo da infeção, modulação das respostas imunitárias) por meio de metabolitos da microbiota intestinal (SCFAs...) ou de produtos derivados do hospedeiro.
Existem, provavelmente, várias causas para essa disbiose intestinal, incluindo a perda de apetite (implicando redução da ingestão de alimentos e calorias), bem como libertação de citocinas inflamatórias. Isto pode ter consequências locais: inflamação intestinal, rutura da barreira intestinal, redução da produção de peptídeos antimicrobianos (AMPs), diminuição dos SCFAs, gerando potencialmente infeções entéricas secundárias.10
A alteração da barreira intestinal promove a deslocação bacteriana, bem como a libertação de endotoxinas no sangue, levando à inflamação sistémica, ao agravamento da lesão pulmonar e ao aumento do risco de infeções bacterianas secundárias.10 A produção reduzida de SCFAs pela microbiota intestinal também contribui para a diminuição da imunidade antibacteriana observada nos pulmões.10 Tudo isto destaca o papel vital desempenhado pela microbiota intestinal nas defesas dos pulmões contra as infeções respiratórias.
A modulação da microbiota intestinal mediante o recurso a estratégias como os probióticos pode ajudar a reduzir a suscetibilidade a infeções respiratórias através do eixo intestino-pulmão ou revelar-se útil na recuperação de infeções até uma situação saudável (figura 7B). Vários estudos em ratos demonstraram que probióticos específicos administrados antes da infeção por influenza (gripe) levam à redução da acumulação de células do sistema imunitário nos pulmões infetados. Tais probióticos aumentaram também a depuração viral, melhoraram a saúde em geral e reduziram as alterações na microbiota intestinal.12,13