A microbiota intestinal está relacionada com o cancro de pulmão
Uma equipa de investigadores internacionais descobriu recentemente o papel da disbiose intestinal no cancro de pulmão e identificou dois géneros de bactérias que podem ser usados como biomarcadores da doença e da sua progressão.
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Sobre este artigo
Apesar do papel da microbiota pulmonar na patogénese do cancro de pulmão (CP) já ter sido analisado, não existem publicações sobre o papel da microbiota intestinal. A microbiota intestinal de 30 doentes com CP e de 30 indivíduos saudáveis foi analisada através de sequenciamento de alto desempenho do RNAr 16S.
Diferenças significativas na composição
Não se verificou uma diminuição significativa na diversidade microbiana (índice de Shannon) em doentes com CP relativamente aos indivíduos saudáveis. Contudo, a composição da microbiota (diversidade beta) demonstrou ser muito diferente entre os dois grupos: os indivíduos controlo tinham uma quantidade consideravelmente superior de bactérias dos géneros Actinobacteria phylum (7,74 % vs. 3,14 % para doentes com CP) e de Bifidobacterium (4,70 % vs. 1,51 %). Além disso, os doentes com CP tinham níveis particularmente elevados de bactérias do género Enterococcus (4,26 % vs. 0,23 %).
Microbiota desregulada
Os investigadores também verificaram o funcionamento da microbiota intestinal nos dois grupos através da determinação do espetro de quantidade funcional. Esta representação dos níveis de expressão das proteínas funcionais e da capacidade metabólica específica da microbiota revelou uma diminuição significativa de 24 vias metabólicas nos doentes com CP comparados com os indivíduos controlo. De entre as vias alteradas: diminuição de expressão das proteínas envolvidas na estrutura e na dinâmica da cromatina e superior a 80 % (principal componente dos cromossomas eucariotas), bem como no processamento e na modificação do ARN.
Possíveis biomarcadores de cancro de pulmão
Os autores confirmaram a existência de uma microbiota intestinal específica do cancro de pulmão, bem como o envolvimento desta disbiose na progressão da doença. A causa poderia ser: uma diminuição nas bactérias conhecidas pelas suas propriedades anticancerígenas (Actinobacteria) e/ou efeitos probióticos (Bifidobacterium); um aumento de bactérias (Enterococcus) com um papel pro-inflamatório em outros cancros; e uma diminuição no funcionamento global da microbiota intestinal, especialmente com uma incapacidade de reparar o ADN danificado. Os investigadores indicaram que estes resultados estão em linha com os dos últimos dois anos no que respeita ao papel da microbiota intestinal na etiologia de muitos cancros e encorajam os outros a continuar esta linha de investigação. Com que objetivo? Identificar as espécies intestinais (desde o género Bifidobacterium ao Enterococcus, por exemplo) que possam ser usadas como biomarcadores de diagnóstico e de tratamento.