Ligações comprovadas entre a microbiota intestinal e a enxaqueca
As vítimas de enxaquecas apresentam disbiose intestinal, que varia de acordo com o tipo de enxaqueca (episódica ou crónica). E há determinadas bactérias que parecem estar relacionadas com a frequência e a duração das cefaleias. 1
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Sobre este artigo
Foi já relatada uma modificação da composição da microbiota intestinal nas perturbações metabólicas, cardiovasculares, oncológicas, neurológicas e psiquiátricas. Uma longa lista à qual teremos de acrescentar a enxaqueca, tendo em conta os resultados publicados no início de 2023 por uma equipa sul-coreana. Na prática, os investigadores estudaram as fezes de 42 pacientes com enxaqueca episódica, 45 pacientes com enxaqueca (sidenote: Enxaqueca crónica Mais de 15 dias por mês com cefaleias, incluindo mais de 8 dias com características de enxaqueca (aumento da sensibilidade à luz, aos sons ou aos cheiros, náuseas, vómitos, etc.), e isso por mais de 3 meses. Weatherall MW. The diagnosis and treatment of chronic migraine. Ther Adv Chronic Dis. 2015 May;6(3):115-23. ) e 43 controlos saudáveis, com idades compreendidas entre os 19 e os 65 anos. Foram excluídos quaisquer pacientes sob tratamento médico ou psiquiátrico, salvo para ansiedade, depressão e fibromialgia, os que tinham alterado profundamente os seus hábitos alimentares nos últimos 6 meses, e os que tinham consumido probióticos ou antibióticos durante o ano anterior.
No entanto, todos os pacientes incluídos faziam tratamentos em caso de crise e 60% estavam a fazer tratamentos de fundo (antiepiléticos, betabloqueadores, etc.), o que pode representar um enviesamento (impacto na microbiota) e foi tido em conta na análise dos resultados.
Prevalência
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As enxaquecas afetam 15% da população mundial. 2
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As enxaquecas afetam 20% das mulheres. 3
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As enxaquecas afetam 10% dos homens.
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A enxaqueca é 2 vezes mais frequente em mulheres do que em homens devido a influências hormonais. 4
Microbiota varies according to the study group
Nenhuma diferença significativa foi observada entre os três grupos em termos de diversidade (sidenote: Diversidade α Uma medida que indica a diversidade de uma única amostra, ou seja, o número de diferentes espécies presentes num indivíduo. Hamady M, Lozupone C, Knight R. Fast UniFrac: facilitating high-throughput phylogenetic analyses of microbial communities including analysis of pyrosequencing and PhyloChip data. ISME J. 2010;4:17-27. https://www.nature.com/articles/ismej200997 ) e (sidenote: diversidade β Uma medida que indica a diversidade de espécies entre amostras, permite avaliar a variabilidade da diversidade de microbiota entre sujeitos. Hamady M, Lozupone C, Knight R. Fast UniFrac: facilitating high-throughput phylogenetic analyses of microbial communities including analysis of pyrosequencing and PhyloChip data. ISME J. 2010;4:17-27. https://www.nature.com/articles/ismej20099 ) da microbiota intestinal. Em contrapartida, a composição da microbiota intestinal diferia significativamente:
- entre os 87 pacientes com enxaqueca e os 43 controlos: a classe das Tissierellia e a ordem das Tissierellales surgiram sobrerrepresentadas nos primeiros. Ao nível de géneros, Roseburia, Eubacterium_g4, Agathobacter, PAC000195_g e Catenibacterium apresentaram-se em maior abundância.
- e entre os tipos de enxaqueca: a classe dos bacilos e as ordens das Selenomonadales e Lactobacillales surgiram menos abundantes na enxaqueca crónica, tal como as classes das Selenomonadaceae e Prevotellaceae. Quanto a géneros, a bactéria PAC001212_g assumiu predominância nos portadores de enxaqueca crónica, enquanto Prevotella, Holdemanella, Olsenella, Adlercreutzia e Coprococcus caracterizavam a enxaqueca episódica.
Aproximadamente 2,5% das pessoas com enxaqueca episódica desenvolvem enxaqueca crónica.
1 a 2% A enxaqueca crónica afeta 1 a 2% da população mundial.
(sidenote: Burch RC, Buse DC, Lipton RB. Migraine: Epidemiology, Burden, and Comorbidity. Neurol Clin. 2019 Nov;37(4):631-649. )
Bactérias relacionadas com a frequência e a intensidade das cefaleias
Outras análises mostraram uma ligação entre certos géneros bacterianos e as características clínicas da enxaqueca: quanto mais rica a microbiota intestinal se encontrava em PAC000195_g, mais baixa era a frequência das dores de cabeça; e quanto mais rica a microbiota intestinal se apresentava em Agathobacter, menos intensidade possuíam as cefaleias graves.
Embora estes resultados forneçam evidências de disbiose intestinal nas pessoas que sofrem de enxaqueca, apenas estudos longitudinais permitirão perceber melhor a relação entre microbiota intestinal e enxaqueca (qual é a causa e a consequência) e, em última instância, que se pondere um possível tratamento profilático da enxaqueca através da microbiota intestinal.