Encefalopatia hepática: o transplante oral da microbiota fecal apresenta boa tolerabilidade
Um ensaio clínico de fase 1 demonstrou que cápsulas de microbiota fecal foram bem toleradas por doentes com cirrose e com tendência a desenvolver encefalopatia hepática.
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Sobre este artigo
A encefalopatia hepática (EH) é uma complicação resultante da insuficiência hepática e os seus sintomas incluem transtornos cognitivos mais ou menos graves, por vezes irreversíveis. Este transtorno está relacionado com uma desregulação do eixo intestino – fígado – cérebro dado que alguns casos de EH apresentam disbiose intestinal e inflamação sistémica. Os tratamentos atuais, que combinam prebioticos (lactulose) e antibióticos (rifaximina) provaram ser ineficientes em alguns doentes. É por isso que uma equipa Americana está a tentar desenvolver estratégias alternativas.
Enema vs. administração oral
Em 2017, a mesma equipa testou o transplante da microbiota fecal por enema e concluiu que este tinha efeitos benéficos: diminuição no número de episódios de EH, associados a uma melhoria das funções cognitivas e da composição da microbiota intestinal. Num novo ensaio clínico de fase 1, a equipa avaliou a tolerabilidade e os efeitos do transplante da microbiota fecal (TMF) através de uma forma de administração menos invasiva e há muito aguardada, cápsulas. Num ensaio cego, 20 doentes com cirrose e histórico de EH (pelo menos 2 episódios no ano anterior) foram aleatorizados entre o grupo em estudo e o grupo controlo e tomaram 15 cápsulas de TMF (do mesmo dador) ou placebo. Posteriormente, foram monitorizados durante um período de 5 meses.
Tratamento bem tolerado
Quais foram os resultados? As cápsulas de FMT demonstraram ser bem toleradas pelos doentes, sem acontecimentos adversos. O número de episódios de EH, bem como o número de infeções que aconteceram durante o estudo foram os mesmos em ambos os grupos. Contudo, verificou-se uma melhoria no resultado de um teste cognitivo (de dois testes realizados) em doentes no grupo com a terapêutica de FMT.
Microbiota: a caminho do equilíbrio
Um aumento na diversidade da microbiota na mucosa duodenal foi também verificado no grupo TMF, bem como um aumento nas populações de Ruminococcaceae and Bifidobacteriaceae e uma diminuição nas populações de Streptococcaceae e Veillonellaceae. Estas duas famílias estão associadas a cirrose, enquanto as primeiras duas são benéficas. Além disso, esta melhoria da microbiota está relacionada com uma expressão aumentada das proteínas envolvidas na função da barreira intestinal e dos péptidos antimicrobianos, bem como uma diminuição em dois marcadores da inflamação: expressão da IL-6 no duodeno e níveis serológicos do LBP (Lipopolysaccharide Binding Protein). Esta orientação de tratamento potencial necessita ainda de confirmação.