Cancro colorretal: da disbiose à alteração no ADN
O papel da disbiose na patogénese do cancro colorretal é desvendado: parece promover a carcinogénese através de alterações de ADN no hospedeiro. Isto pode significar que um teste sanguíneo não invasivo pode ser utilizado para a sua deteção.
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Sobre este artigo
O cancro colorretal é uma das doenças malignas mais comuns em todo o mundo e está associado a uma elevada taxa de mortalidade. Parece ser o resultado de interações complexas entre o hospedeiro e o seu ambiente: fatores de stress parecem causar alterações ao ADN das células do cólon envolvidas na fase inicial de aparecimento do cancro. Um dos fatores de que se suspeita é da disbiose intestinal.
Resultados em ratinhos…
Uma equipa francesa estudou alterações ao ADN em 136 ratinhos sem microbiota e que receberam, via transplante de microbiota fecal (TMF), amostras recentes de fezes ou de 9 doentes com CCR ou de 9 indivíduos com resultados normais de colonoscopia. Sete semanas após o TMF, os ratinhos que tinham recebido as amostras fecais de doentes com CCR apresentaram inflamaçãoo ligeira. Uma observação do seu cólon às 7 e às 14 semanas revelou mais lesões pré-cancerígenas, chamadas focos de criptas aberrantes (FCA), com um aumento do número de genes hipermetilados. Provou-se que algumas espécies bacterianas estavam associadas a lesões pré-cancerígenas (Firmicutes, Clostridia), tal como a uma menor abundância de certos tipos de bactérias conhecidas pelos seus efeitos anti-inflamatório ou produtor de butirato.
…confirmado em humanos
Para determinar se a metilação de genes observada em ratinhos também estava associada a disbiose intestinal em humanos, a equipa analisou tecido, sangue e fezes dos 18 indivíduos com CCR e controlo da experiência inicial. Isto confirmou a correlação entre a composição da microbiota e o nível de alteração epigénica do ADN, tendo-se demonstrado que os níveis de metilação de 3 genes eram diferentes entre os indivíduos saudáveis e os doentes com CCR.
Imediatamente após, foi desenvolvido um teste sanguíneo simples e reprodutível, com o propósito de diagnosticar tumores colorretais em estádio inicial entre doentes assintomáticos, com base no índice cumulativo de metilação (ICM) de genes específicos. Foi validado num estudo piloto que incluiu 266 indivíduos (95% de (sidenote: Especificidade Capacidade de detetar só aqueles que tenham a doença (de obter o menor número de falsos positivos) ) , 59% de (sidenote: Sensibilidade Capacidade de detetar todos o que tenham a doença (de obter a menor quantidade de falsos negativos) ) ) e posteriormente confirmado num estudo prospetivo com 999 indivíduos assintomáticos que iriam fazer uma colonoscopia (97% de especificidade, 43% de sensibilidade).
UM marcador de CCR?
Este trabalho sugere que a disbiose, associada a CCR, pode promover a carcinogénese, via desregulação epigénica do genoma. De acordo com os investigadores, o ICM de certos genes pode constituir um marcador para CCR; pode até prever a eficácia da suplementação com prebióticos em indivíduos que apresentem risco moderado.